A aproximação comercial
entre Brasil e Estados Unidos
As relações comerciais do
Brasil com o resto do mundo devem ser examinadas e decididas com bases em
algumas premissas. Primeiro, há produtos de que o Brasil necessita e não
produz, ou produz em quantidades suficientes; e há produtos para os quais o
país tem condições favoráveis de produção, com capacidade de abastecer o
mercado interno e gerar excedentes exportáveis. Segundo, há necessidade urgente
de expandir os investimentos nos setores da infraestrutura física,
infraestrutura empresarial e infraestrutura social, e para isso é importante
atrair investimento estrangeiro direto (que é a implantação ou expansão de
empresas em território brasileiro por empresários estrangeiros). Terceiro, a
indústria brasileira é dependente de importação de máquinas, equipamentos,
peças, componentes e insumos. Quarto, o país está atrasado em relação ao grau
de conhecimento tecnológico incorporado no sistema produtivo quando comparado
com as nações mais adiantadas; logo, é urgente a importação de tecnologias
desenvolvidos no resto do mundo. Quinto, com 2,7% da população mundial, o
Brasil responde apenas por 1,2 % do comércio internacional, e isso é muito
pouco considerando o tamanho do território nacional e a abundância de recursos
naturais. Sexto, a saída da recessão e o crescimento do Produto Interno Bruto
(PIB) dependem do aumento do consumo interno e também das exportações.
Com algumas ressalvas,
praticamente todas as correntes políticas nacionais concordam que o Brasil deve
elevar o grau de internacionalização de sua economia, expandir a participação
no comércio global, tornar-se atrativo para o investimento estrangeiro, ampliar
a base de países com os quais firmar acordos comerciais e adotar uma ousada
política de fechamento de convênios com o resto do mundo. Assim, a diretriz de
desdenhar as nações adiantadas, até mesmo hostilizando-as – como aconteceu em
governos passados –, é um equívoco grave, pois os mercados das nações ricas são
amplos e bons compradores dos produtos brasileiros. A opção por um mercado não
implica excluir o outro. Enquanto fornece produtos para nações pobres, ou de
outros espectros políticos e religiosos, o Brasil deve cultivar também os
mercados da China, Estados Unidos e Argentina, que são os três maiores
parceiros comerciais do comércio exterior brasileiro; deve levar adiante o
acordo com os países da União Europeia; e trabalhar pela ampliação de mercados
onde os produtos brasileiros têm sido pouco consumidos. Em relação ao PIB, a
participação do comércio exterior brasileiro fica girando em torno de 23%, e o
governo já declarou que, nos próximos quatro anos, pretende elevá-la para 30%.
Desdenhar as nações
adiantadas, até mesmo hostilizando-as – como aconteceu em governos passados –,
é um equívoco grave
Um caso especial é a
relação comercial entre Brasil e Estados Unidos. O presidente Jair Bolsonaro
vem declarando que seu governo buscará a aproximação com as grandes economias
liberais que têm bens, serviços, tecnologia, investimentos e capitais
financeiros para oferecer – entre as quais, obviamente, os Estados Unidos.
Neste contexto, há um problema a ser contornado: a condição de membro do
Mercosul atrapalha muito o fechamento de acordos comerciais isolados, pois
reduções bilaterais de tarifas precisam do aval dos outros países do bloco.
Isso pode ser obstáculo para o Brasil, pois, dos demais membros do Mercosul,
Argentina e Venezuela são historicamente hostis aos Estados Unidos – a
Venezuela está suspensa, mas a Argentina corre o risco de voltar a abraçar o
protecionismo se a chapa de Alberto Fernández e Cristina Kirchner vencer as
eleições de outubro. O governo brasileiro já declarou que pretende buscar maior
independência em relação ao Mercosul; afinal, por mais que tenha sido o bloco a
assinar o acordo com a União Europeia graças ao atual viés liberal da maioria
de seus membros, o crescimento do comércio internacional brasileiro pode acabar
amarrado por mudanças de orientação nos vizinhos.
De qualquer forma, o
Ministério das Relações Exteriores tem dito que pretende seguir trabalhando
para firmar acordo com os Estados Unidos, pois Brasil e EUA são os dois maiores
países do continente americano, têm economias dinâmicas e diversificadas, e há
grande convergência de valores e interesses. Além disso, os EUA já são o
principal destino das exportações brasileiras de produtos manufaturados, além
de serem um investidor tradicional no Brasil. Em nota, o Itamaraty afirmou
ainda que as empresas brasileiras têm investido cada vez mais nos Estados
Unidos como forma de ganhar escala, absorver tecnologia e lançar-se ao mundo, e
que as relações entre as respectivas sociedades também vêm ganhando importância
por meio do incremento de viagens de turismo e negócios, intercâmbio acadêmico
e atividades culturais.
O Itamaraty fala que os
dois países têm interesse em elevar a qualidade das relações bilaterais, e cita
especificamente a melhoria do ambiente de negócios e o fomento dos
investimentos, a facilitação e desburocratização do comércio, a ampliação das
iniciativas conjuntas em ciência, tecnologia e inovação, e o fortalecimento da
cooperação em matéria de defesa, segurança, energia, espaço exterior, educação
e cultura. Nunca é demais lembrar que a revolução tecnológica moderna e os mais
importantes inventos que estão modificando a economia mundial concentram-se nos
países adiantados, incluindo, por óbvio, os Estados Unidos. Mas a intenção de
ampliar as relações entre os dois países não existe apenas no lado brasileiro.
O governo dos Estados Unidos acaba de declarar abertamente que quer ampliar as
relações com o Brasil e firmar acordos comerciais.
As relações entre o
Bolsonaro e o presidente Donald Trump são boas e próximas, a ponto de o
presidente norte-americano ter dito que os Estados Unidos irão trabalhar para
fechar um acordo de livre comércio com o Brasil, o que foi definido pelo
secretário de Comércio Exterior do Ministério da Economia brasileiro, Marcos
Troyjo, como um “tratado mais ambicioso e abrangente possível”. Troyjo lembrou
que há várias formas de acordos e parcerias comerciais possíveis, mas o governo
brasileiro deve buscar um entendimento que inclua a retirada de tarifas e a
criação de cotas de importação com menos tributos. Entretanto, um acordo desse
tipo terá de ser fechado com o aval dos demais parceiros do Mercosul. Em
resumo, Brasil e Estados Unidos vivem um bom momento nas relações bilaterais,
cujos resultados podem ser benéficos para o projeto de tirar o Brasil da grave
crise e do elevado desemprego.
Gazeta do Povo