sábado, 29 de junho de 2019






Acordo entre Mercosul e UE levará a um salto
de competitividade, diz diretor-geral da OMC


O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, considera que o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE) propiciará um salto de competitividade ''muito positivo há muito tempo esperado para a indústria brasileira''.

Azevêdo, que participou da cúpula do G-20 (grupo que reúne as maiores economias desenvolvidas e emergentes) como o diretor de uma das entidades centrais da governança econômica, aponta outros benefícios na conclusão do acordo entre os dois blocos.

— Haverá redução do custo de insumos, dos preços para o consumidor brasileiro, além de uma abertura do mercado europeu, onde a partir de agora o exportador brasileiro poderá competir em igualdade de condições com todos os supridores europeus e com países com os quais a UE tem acordos de preferência' — disse o diretor da OMC.

Azevêdo, quando era diplomata, foi um dos principais negociadores brasileiros em várias rodadas de reuniões com os europeus, para tentar avançar o acordo UE-Mercosul, que finalmente foi concluído após 20 anos.






Por que o acordo Mercosul-UE 
demorou tanto a sair?


Desde o século passado, Mercosul e União Europeia negociam um acordo de livre comércio, na maior parte do tempo com mais retrocessos do que avanços. Durante mais de 20 anos, países integrantes de ambos os blocos atravessaram um amplo espectro político, mas as conversas esbarravam no mesmo impasse: a resistência protecionista de agricultores europeus, receosos da concorrência dos produtos sul-americanos.

Da assinatura de um termo de cooperação comercial, em 1992, até o acordo firmado nesta sexta-feira (28), o ceticismo preencheu extensas reuniões e baixou expectativas nos dois blocos, com 32 países que abrangem 780 milhões de pessoas e 25% do PIB mundial.

De início, havia mais disposição do lado sul-americano para levar adiante a integração com a UE. Subsidiados pela Política Agrícola Comum (PAC), produtores europeus, respaldados sobretudo pela França, apresentaram entraves a qualquer acordo.

Num discurso no Parlamento francês, em 2001, o então presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso, um dos entusiastas do acordo, expressou, porém, preocupação de que as aspirações protecionistas superassem o espírito do livre comércio.

A virada no campo ideológico de governos da América do Sul deixou em banho maria a viabilização do tratado. O Brasil de Lula e a Argentina dos Kirchner não priorizaram negociações, que foram estancadas entre 2004 e 2010. Enquanto isso, o Mercosul voltava-se para si próprio e expandia tentáculos pelo continente. A UE enfrentava crise, austeridade e desemprego.

Tentativas de alavancar o diálogo foram feitas em 2010 e 2016, mas não se concretizaram, apesar da mudança de tom. A retórica agora apontava para o compromisso, com restrições da UE à carne bovina e ao etanol.

Dois anos depois, no apagar das luzes do governo Temer, o então chanceler Aloysio Nunes anunciava que 12 dos 15 capítulos do acordo tinham sido concluídos. “Em termos quantitativos, podemos dizer, sem medo de errar: o principal já foi feito”, assegurou.


Do lado argentino, o governo Macri limou resistências alimentadas pelos antecessores de que o acordo dificultaria a sobrevivência de empresas nacionais. Para o atual presidente, assinatura do acordo neste momento ainda traz outra vantagem: dá fôlego à sua campanha pela reeleição.

Sandra Cohen
Especializada em temas internacionais, foi repórter, correspondente e editora de Mundo em 'O Globo'






Acordo Mercosul-União Europeia vai
zerar tarifas para produtos agrícolas


acordo do Mercosul com a União Europeia, anunciado nesta sexta-feira (28), vai zerar tarifas para produtos agrícolas brasileiros como suco de laranja, frutas (melão, melancia, laranja, limão, entre outras), café solúvel, peixes, crustáceos e óleos vegetais.

Haverá ainda cotas para a venda de carnes, açúcar e etanol, entre outros itens, segundo informações divulgadas pelo governo brasileiro e a UE. Há pelo menos meia década o Brasil fazia investidas para embarcar carne suína e ovos processados para o bloco europeu.

O texto completo do acordo deverá ser divulgado nos próximos dias. Também não foi definida a data de implantação: os termos precisam ser aprovados pelos congressos dos países.

Avanço para carnes

Integrante da missão que liderou as negociações em Bruxelas, na Bélgica, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, disse à agência Reuters que, onde não foi possível ganhar em volume, ganhou-se em tarifas e, em muitos casos, a cota é zero.

"Houve ganho dos dois lados. Não existe acordo que só um ganha. O interesse não era só do Brasil, o interesse era do Mercosul", disse Tereza no Twitter do ministério.

Segundo fontes de agência France Presse, os quatro países do Mercosul - Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai - poderão exportar 99 mil toneladas de carne bovina isentas de tarifas por ano à UE, 55% de carne fresca e 45% de congelada.

E ainda poderão exportar com tarifa zero as cotas de carne bovina que já tinham no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC): 14 mil toneladas para o Brasil, 29 mil para a Argentina e 6 mil para o Uruguai). Atualmente, elas têm taxas de 20%.

A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que participou da missão na Europa, afirmou que a cota de exportações de frango será de 180 mil toneladas no ciclo de 12 meses.

Mercosul e UE se comprometem ainda a reduzir entraves de medidas sanitárias e fitossanitárias.

Repercussão

Carnes


“O ano de 2019 marca um novo momento para o setor de proteína animal do Brasil, com a possibilidade de embarcar um fluxo maior para um dos mais relevantes mercados consumidores globais", disse o presidente da ABPA, Francisco Turra. "Ao mesmo tempo, o acordo pontuará critérios mais justos e transparentes nos negócios entre os dois blocos. ”

"Mais importante do que a quantidade a mais que vamos vender, é mostrar a capacidade do Brasil de negociar acordos comerciais e abrir a economia para o mundo", afirmou Lígia Dutra, superintendente de relações internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Açúcar e etanol


Por outro lado, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) considerou que as negociações para açúcar e etanol não foram "ambiciosas o suficiente". Segundo a entidade, o estabelecimento de cotas limita o atendimento da demanda do mercado europeu pelo setor.
Mas a Unica reconheceu que "o acordo foi o melhor possível, considerando as limitações impostas pela UE".

Suco de laranja


Para a Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), o Brasil tende a ganhar fôlego na concorrência com países como o México, que "conseguiu firmar bons acordos comerciais" e ampliar sua participação no mercado global nos últimos anos.

Café


A Associação Brasileira de Café Solúvel (Abics) entende que o acordo deve permitir que o país exporte 35% a mais para os europeus em 5 anos. Além de ser o maior produtor e exportador de café verde, o país lidera as vendas de solúvel ao exterior, tendo a UE como principal destino.

O preço do café solúvel é 80% maior que o verde.

O diretor de relações institucionais da Abics, Aguinaldo José de Lima, afirmou à Reuters que a tarifa atual, que é de 9%, cairá gradualmente, sendo zerada no quinto ano após a implementação do pacto.

Segundo Lima, a indústria brasileira de café torrado e moído, que praticamente não exporta aos europeus, também foi incluída no acordo.

Cachaça


O reconhecimento da cachaça como produto brasileiro foi festejado pelos produtores da bebida. "Hoje, a exportação da cachaça para a UE fica aquém do potencial, se considerarmos o montante que o bloco importa de outras bebidas provenientes da cana de açúcar", afirmou Carlos Lima, diretor-executivo do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac).

A cachaça já era protegida como um produto brasileiro nos Estados Unidos, na Colômbia, no México e no Chile.