A penúria venezuelana
chega a Cuba
Racionamento de produtos,
sanções e asfixia econômica refletem o impacto
da falência do regime Maduro na
ilha - Foto:Reuters/Reprodução
A reboque da crise
venezuelana, o racionamento de produtos está de volta a Cuba, fazendo reverberar pelas
redes sociais a hashtag #lacolachallenge (o desafio da fila). São fotos que
documentam a saga diária de cubanos em longas filas para conseguir arroz,
feijão, frango, ovos e sabão, entre outros itens, que o governo decidiu limitar
para cada consumidor.
A penúria agravada pelas
sanções dos EUA ao
regime da Venezuela provoca
nos cubanos a ansiedade e o temor de reviverem o chamado “período especial”. Na
década de 1990, após o colapso da URSS, o PIB da ilha caiu 35% em menos de
cinco anos, deflagrando outras crises, como a fuga de cubanos em balsas e a
repressão aos dissidentes.
Agora a falência do
regime Nicolás
Maduro também põe em risco a já depauperada economia de Cuba, que
importa 60% de seus alimentos e enfrenta há quase seis décadas o embargo
comercial americano.
Há um ano como
presidente, Miguel
Díaz-Canel, o sucessor escolhido por Raul Castro, tenta atenuar
seus efeitos, fazendo crer que a falta de liquidez e o racionamento são transitórios.
Mas a dependência do petróleo venezuelano e o colapso da PDVSA refletem o
contrário.
“Esta é a maior crise dos
últimos anos. E limitar o número de produtos para cada consumidor é o primeiro
passo do governo para admitir que será longa”, avalia a jornalista cubana
Miriam Leiva, autora do blog Reconciliación Cubana.
Ela cita o diálogo que
ouviu recentemente entre duas mulheres na qual uma delas constatava o excesso
de pessoas nas ruas: “É porque estão todos buscando comida”, esclareceu a
outra, segundo Miriam.
O tempo gasto em extensas
filas, uma cópia do cotidiano que os venezuelanos enfrentam diariamente,
motivou o ativista cubano Norges Rodríguez a criar a hashtag que rapidamente
viralizou.
No vértice do triângulo,
os EUA exercem pressão sobre ambos os regimes. Na semana passada, o governo
Trump estendeu as sanções contra duas companhias e dois navios petroleiros que
faziam transporte de petróleo da Venezuela para Cuba. Repetiu, assim, uma
medida semelhante, aplicada em abril a 35 cargueiros da PDVSA.
Para setores radicais dos
EUA, inflamados por sua base eleitoral, os cortes no fluxo do petróleo entre os
dois países caribenhos, contudo, ainda não surtiram o efeito desejado. Senador
republicano pela Flórida, Rick Scott propõe um bloqueio naval entre os dois
países caribenhos com o objetivo de pôr fim à era Maduro.
O impacto das sanções à
Venezuela reflete diretamente na população cubana, avalia, o presidente do
think tank Diálogo Interamericano, Michael Schifter.
Paralelamente, a pressão
direta dos EUA sobre o regime em Cuba agrava ainda mais a situação – seja
restringindo remessas enviadas por exilados ou permitindo, pela primeira vez,
ações nos tribunais americanos contra empresas que usam propriedades confiscadas
durante a Revolução Cubana.
“Os EUA estão punindo
cubanos desde 1962 e isso nunca funcionou. Não vejo por que funcionaria agora.
Faria a população sofrer ainda mais”, acrescenta Schifter.
Como efeito dominó, o que
acontece na Venezuela repercute em Cuba. As benesses do chavismo, quando o
petróleo estava em alta, tiraram o país comandado por Fidel Castro da escuridão
causada pelo desmoronamento do império soviético.
Mas os tempos são outros
para Cuba e seu maior aliado regional. Além dos efeitos da asfixia econômica, o
regime cubano teme amargar as consequências que uma transição na Venezuela
traria para a ilha.
Blog da Sandra Cohen
Portal G1