sexta-feira, 9 de novembro de 2018

➤Aumento dos ministros

O Senado aprova a negociata


No começo da noite de quarta-feira (7), o Senado jogou mais uma bomba no colo da equipe econômica do presidente eleito, Jair Bolsonaro, ao aprovar projeto que reajusta os salários dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Graças ao voto de 41 senadores, os magistrados passarão a receber R$ 39,2 mil, contra os R$ 33,7 mil atuais. O mesmo reajuste foi concedido ao cargo de procurador-geral da República, hoje ocupado por Raquel Dodge – mas, neste caso, a votação foi simbólica, em que o presidente da casa apenas pede aos favoráveis ao projeto “que permaneçam como estão”, para quase que imediatamente proclamar o resultado, antes que alguém ouse não permanecer como está.

O projeto que reajusta os vencimentos dos ministros tinha sido enviado ao Congresso em 2015, quando o presidente do Supremo era Ricardo Lewandowski. Tinha sido aprovado na Câmara em 2016 e parou no Senado, até porque Cármen Lúcia, que sucedeu Lewandowski no comando do STF, nunca foi favorável aos reajustes. Demonstrando um bom senso raro entre membros dos três poderes quando o tema é o uso do dinheiro do contribuinte, ela sempre defendeu que, em tempos de crise, cabia também aos ministros dar sua cota de sacrifício pelo equilíbrio fiscal. Mas, em agosto deste ano, ela foi voto vencido quando o plenário da corte resolveu que era hora de pleitear o aumento.

"O aumento cria um efeito-cascata, já que a remuneração de vários outros cargos, não apenas na magistratura, é atrelada aos vencimentos dos ministros do Supremo. Além disso, há outros servidores que serão beneficiados: aqueles cuja soma de salário e gratificações ultrapassava os R$ 33,7 mil e, por isso, tinham seu contracheque limitado a esse valor. Agora, esses servidores poderão receber mais, até o novo limite de R$ 39,2 mil. A conta? R$ 4 bilhões em 2019, segundo as assessorias da Câmara e do Senado, divididas entre a União e os estados. Uma irresponsabilidade no momento em que o governo federal acumula déficits de dezenas de bilhões de reais, e diversos estados estão em situação fiscal desesperadora.
  
Mas o acinte não fica apenas nos valores e no momento em que são aprovados. Muito pior é ver que houve praticamente uma negociata aberta entre o Supremo, o Congresso e o presidente Michel Temer. A diferença entre o salário atual e o aprovado, R$ 4,5 mil, é quase idêntico ao auxílio-moradia que hoje é pago a todos os magistrados do Brasil, em flagrante violação à Constituição. Pelo acordo costurado entre os poderes, se o Senado aprovasse o reajuste, o Supremo finalmente acabaria com o benefício, seja votando as ações que o ministro Luiz Fux convenientemente segurou em seu gabinete por anos, após ter instituído a farra por meio de liminar, seja por meio de um projeto de iniciativa do Judiciário enviado ao Congresso. Ou seja, o reajuste não passa de um meio de legalizar um pagamento que era inconstitucional e tinha sido instituído como uma maneira torta de compensar a falta de reposições salariais ao longo dos anos – algo que as próprias associações de magistrados reconhecem abertamente, em uma triste página da história do Judiciário nacional em que o corporativismo prevaleceu sobre o interesse público.

O correto seria simplesmente negar o aumento e acabar de vez com o auxílio-moradia, mas isso exigiria uma coragem que, no momento, anda rara em Brasília. O projeto aprovado pelo Senado está agora na mesa do presidente Michel Temer, que, tendo sido um dos negociadores do acordo com o Supremo, muito provavelmente irá sancioná-lo. Se realmente o fizer, o presidente que já vê a porta de saída do Planalto colaborará para dificultar o trabalho de seu sucessor e apresentará um desfecho decepcionante para um mandato que começou sob o signo do ajuste fiscal.

Portal Gazeta do Povo

➤BOM DIA!

Eu respeito motoqueiro. Eles não me respeitam!

Lamentavelmente, diariamente ficamos sabendo que dois ou três motoqueiros morrem em acidente de trânsito.

Todos os dias, também, encontramos carros com adesivos que dizem: “Eu respeito motoqueiro”. Um respeito necessário, justo, mas que não tem reciprocidade da maioria dos que andam de moto pela cidade. Os que usam suas motos para trabalhar em serviço de entrega, principalmente,  desrespeitam toda e qualquer regra mínima de trânsito.

Vivem ziguezagueando entre os veículos, usam suas buzinas como se todos tivessem obrigação de parar e dar passagem aos apressados motoqueiros. Param sobre as faixas de segurança, quebram os retrovisores dos carros e seguem sem se preocupar com o prejuízo dos terceiros.

Antes de prosseguir, quero deixar claro que não sou contra os motoqueiros, muito pelo contrário. Sou contra, é verdade, os maus motoqueiros, aqueles que exigem respeito, mas jamais respeitam quem quer que seja.

Na noite de ontem (8) fui buscar minha filha que estava jantando na casa de uma amiga na Lima e Silva. Eram mais ou menos 10 e meia. Parei em frente ao edifício, quase na esquina da Venâncio Aires, liguei o pisca alerta e, assim que sai, liguei a seta para a esquerda, pois pretendia entrar na Venâncio. Na esquina, ao lado do cartório, existe um ponto de taxis, o que torna a via ainda mais estreita.

Saí e quando manobrei, senti uma batida forte do lado direito do carro. Adivinhem! Era um motoqueiro passando pela minha direita, num espaço mínimo entre o meu carro e o taxi que estava estacionado. Resultado: um amassado no carro, um risco enorme na lataria e uma bronca sem tamanho do motoqueiro, furioso pois “eu” tinha batido nele.

Faz mais de cinquenta anos que dirijo em Porto Alegre. Sou um cara cuidadoso e, como disse no começo, respeito motoqueiro, talvez muito mais por medo do perigo que eles representam.
Ontem acabei sentindo ainda mais temor de ser obrigado a dividir as  ruas em que passo com irresponsáveis que fazem de seus veículos (motos) uma verdadeira arma e se julgam donos de todo e qualquer espaço público.

Está mais do que na hora de tornar o exame de habilitação muito mais difícil. Motoqueiros devem passar por um rigoroso teste psicológico, devem obedecer aos limites e regras impostas pelas leis de trânsito e só receber a habilitação depois de comprovada sua capacidade de conviver com os que sofrem com suas estripulias.

Para não parecer intransigente com alguns, acho que certos motoristas também devem sofrer os mesmos limites.

Depois do que aconteceu ontem, juro que vou respeitar ainda mais os motoqueiros, mas sei que jamais serei respeitado por eles. Lamentavelmente.

Machado Filho

➤Eliane Cantanhêde

Erros e acertos

O aumento dos salários dos ministros do Supremo foi a primeira derrota imposta pelo Senado ao governo Jair Bolsonaro, antes mesmo da posse, mas o tiro saiu pela culatra. O aumento atiçou a irritação popular contra o Congresso e os partidos. Bolsonaro ficou do “lado certo”, os políticos, do “lado errado”.

Dinheiro para saúde, educação, saneamento, cultura e infraestrutura não há, mas para marajá do serviço público nunca falta. E o aumento do Supremo tem um efeito cascata que inunda todos os poderes e unidades da federação, com impacto danoso num déficit já pavoroso e no estado fiscal lamentável dos estados.

Derrota de Bolsonaro? Ou derrota do Brasil, do contribuinte, dos investimentos, da responsabilidade fiscal, do Congresso? O presidente Michel Temer, que poderia corrigir o erro, não pode nem o fará, porque já vinha negociando o aumento há meses com o presidente do STF, Dias Toffoli.

O Congresso insiste em não ver, ouvir, sentir e entender nada, mesmo após a vitória de Bolsonaro e a derrota de incontáveis políticos tradicionais, particularmente senadores, alguns deles até muito sérios, porque “os justos pagam pelos pecadores”.

Enquanto a imagem do Congresso continua afundando, Bolsonaro vai surpreendendo para melhor. As ameaças e manifestações fora do tom, tão chocantes na campanha, vêm sendo trocadas por reverência à Constituição, respeito às instituições – até ao presidente Michel Temer –, e uma relação civilizada com a imprensa. 

Após a ameaça a um jornal e a exclusão da imprensa escrita da primeira coletiva, ambas decisões inadmissíveis, ele vem cedendo à realidade de que a mídia incomoda, mas é parte fundamental da democracia. Deu entrevistas às TVs e responde a perguntas improvisadas pelos repórteres. Seus homens fortes têm dado declarações e coletivas sobre suas intenções: o general Augusto Heleno, o economista Paulo Guedes, o juiz Sérgio Moro. Só o vice Hamilton Mourão anda calado.

Aliás, os novos ministros são a outra surpresa positiva. Gostem-se ou não deles e esgoele-se ou não a oposição, o fato é que a opinião pública e o mercado receberam bem os já citados, particularmente Moro, assim como o militar e astronauta Marcos Pontes para Ciência e Tecnologia e, agora, a deputada, agrônoma e ruralista Tereza Cristina, aplaudida no próprio Congresso.

Ex-líder do PSB, ela mudou para o DEM por votar no impeachment de Dilma Rousseff e, se vira ministra por indicação da Frente Parlamentar do Agronegócio, é um trunfo por ser a primeira mulher no primeiro escalão e tem um plus: o DEM tende a ser uma mão na roda para Bolsonaro, porque os dois são complementares. O partido do presidente eleito, o PSL, deu um salto, virou a segunda bancada na Câmara e, logo, roubará o primeiro lugar do PT. Mas quantidade nem sempre é qualidade nem garante resultados.

O PSL é um amontoado de caras novas, que mal se conhecem entre elas e têm pouca ou nenhuma experiência de Congresso. Já o DEM é muito experiente, disciplinado, passou por uma renovação que alavancou líderes mais novos e modernos. E o partido tem muita identidade com a pauta liberal de Bolsonaro, ou melhor, de Paulo Guedes.

Bolsonaro quer um diplomata de carreira no Itamaraty (logo, please!) e pode levar militares para duas áreas que eles consideram pontos fortes do regime de 1964: Infraestrutura e, não se assuste, Educação. 
Por último, Heleno vai para o Planalto. Na Defesa, ficaria voltado para as Forças Armadas. No GSI, órgão de inteligência, terá acesso direto ao presidente e às principais informações e segredos do País. Ele já tem natural influência sobre Bolsonaro e informação é poder. Logo, é forte candidato a eminência parda.

Portal Estadão

➤OPINIÃO

Desempregados racharão a conta


Rachada a conta, estimada em até R$ 6 bilhões anuais, os desempregados pagarão a parte mais dolorosa do aumento concedido a juízes do Supremo Tribunal Federal (STF), membros da Procuradoria-Geral da República e todos os demais servidores beneficiados pelo novo teto de vencimentos do funcionalismo. O salário mensal de cada juiz do STF passará de R$ 33,7 mil para R$ 39,2 mil, graças ao reajuste de 16,38% aprovado pelo Congresso. O gasto adicional de R$ 6 bilhões para o setor público foi estimado pela consultoria do Senado. Podem-se discutir detalhes do cálculo, mas o custo social é inegável. Despesa maior significa maior dificuldade para consertar o enorme rombo das contas públicas, em todos os níveis de governo, e, como consequência, maior dificuldade para impulsionar o crescimento econômico e a criação de empregos.

Num país com 12,5 milhões de desempregados, o equivalente a 11,9% da força de trabalho, todo político decente deveria ter como prioridade animar os negócios para estimular contratações.

Com mais alguns números o quadro fica mais assustador. Se à parcela desempregada forem somados os trabalhadores com horas insuficientes de ocupação e os indivíduos contados na força de trabalho potencial, a taxa de subutilização chegará a 24,2%, ou 27,3 milhões de pessoas. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicou esses dados no fim de outubro.

O pessoal do Judiciário, argumentaram defensores do aumento, havia passado quatro anos sem reajuste salarial. É verdade, mas trabalhadores do setor privado ou tiveram aumentos modestos ou nenhum aumento, e muitos foram simplesmente postos na rua. Os desempregados, que totalizavam 12,5 milhões de pessoas segundo a última pesquisa, nem podem pensar em reajuste, porque nem sequer recebem salários - alguns há dois anos ou até há mais tempo.

Diante disso, os R$ 33,7 mil dos juízes do STF parecem uma remuneração tolerável. Os demais servidores públicos, mesmo os de salários mais modestos, têm pelo menos a garantia do direito ao salário regular e à segurança de permanecer no emprego.

O presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), poderia ter encerrado seu mandato sem pôr em votação o projeto de aumento, já aprovado na Câmara. A proposta, parada na Comissão de Assuntos Econômicos, foi desengavetada pelo presidente da Casa. Na quarta-feira à noite, com pouca gente no plenário, ele conseguiu incluir o assunto na pauta de votação da sessão seguinte. O aumento acabou aprovado por 41 votos contra 16. 

Também segundo defensores do projeto, o gasto adicional será compensado pela redução de outras despesas, com a eliminação do auxílio-moradia e de outros penduricalhos. O presidente do Senado citou esse argumento. Mas isso é apenas uma possibilidade e, além disso, a troca é moralmente discutível - tão discutível quanto o custeio de moradia concedido aos juízes.

Aos vários argumentos contra a elevação dos salários o relator do projeto, senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), acrescentou detalhes de peso. Por estar fora da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e da proposta do Orçamento-Geral da União, os parlamentares nem poderiam votar o aumento. Além disso, recordou, é proibido elevar salários nos últimos 180 dias de governo.

Sem ter sido reeleito, o senador Eunício Oliveira deverá enfrentar como cidadão comum as investigações baseadas em delações de dirigentes e ex-dirigentes da Odebrecht.

Mas o gesto de simpatia de Eunício Oliveira e seus pares aos magistrados foi apenas um dos novos golpes contra o Tesouro. Um dia depois do aumento aos juízes, o Senado aprovou a medida provisória de criação do Rota 2030, novo programa de mimos tributários ao setor automobilístico. Tão discutível quanto o programa anterior, o Inova Auto, o novo conjunto de benefícios será mais um presente a um setor muito protegido e com exportações comodamente concentradas na vizinhança. Sensatamente, a equipe do Ministério da Fazenda se opôs ao programa. Foi tão derrotada, nesse caso, quanto a maioria dos contribuintes e os milhões de desempregados. O presidente da República pode consertar a lambança, vetando os dois projetos.

Portal Estadão

➤CORRUPÇÃO NA AGRICULTURA

PF prende, vice-governador de Minas, Joesley e Saud

O vice-governador de Minas Gerais, Antonio Andrade (MDB) e os executivos da JBS Joesley Batista e Ricardo Saud foram presos sexta-feira (9) em uma operação que investiga suposto esquema de corrupção no Ministério da Agricultura durante o governo da presidente Dilma Rousseff (PT).

Também foram presos o deputado estadual João Magalhães (MG) e o deputado federal eleito Neri Geller (PP-MT), que foi ministro da Agricultura de março a abril de 2014, durante o mandato da presidente Dilma Rousseff (PT).

A PF faz buscas no gabinete do vice-governador, também ex-ministro da Agricultura de Dilma (março de 2013 a março de 2014).
No total são 63 mandados de busca e apreensão e 19 de prisão temporária, expedidos no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, cumpridos no Distrito Federal e em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraíba e Mato Grosso.

A operação, um desdobramento da Lava Jato, foi batizada de Capitu e é baseada na delação do doleiro Lúcio Funaro, apontado como operador do MDB.

O advogado de Joesley, Pierpaolo Bottini, disse não conhecer os fundamentos da prisão e que não iria se manifestar por enquanto.

Segundo as investigações, havia um esquema de arrecadação de propina dentro do Ministério da Agricultura para beneficiar políticos do MDB, que recebiam dinheiro da JBS, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, em troca de medidas para beneficiar as empresas do grupo.
Joesley havia sido preso em setembro do ano passado após a Procuradoria Geral da República (PGR) rescindir o acordo de delação premiada firmado com o executivo por suposta omissão de informações nos depoimentos.

Três dias depois, a Justiça expediu novo mandado de prisão contra Joesley, pela prática de "insider trading", que consiste em usar informações privilegiadas para lucrar no mercado financeiro, em outra investigação. Ele deixou a prisão em março deste ano.

Portal G1