Delatores confirmam que
reforma era para Lula
No primeiro interrogatório
do processo do sítio em Atibaia, conduzido nesta segunda-feira (5) pela juíza
federal Gabriela Hardt, dois delatores da Odebrecht confirmaram que a
empreiteira realizou obras no imóvel para beneficiar o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Gabriela assumiu os processos da Lava Jato na 13ª Vara
Federal de Curitiba, depois que o juiz Sergio Moro anunciou que aceitou o
convite para assumir o cargo de ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro.
Nessa segunda-feira foram
ouvidos os executivos Carlos Armando Guedes Paschoal e Emyr Diniz Costa Júnior.
Paschoal contou à juíza que foi contatado por Alexandrino Alencar – também
executivo da Odebrecht – para ajudar na reforma de uma casa em Atibaia, que
seria usada por Lula. Segundo Paschoal, o presidente da empreiteira, Emílio
Odebrecht, o autorizou a atender o pedido de Alencar.
Paschoal, por sua vez,
ligou para Emyr, que ficou responsável por realizar pagamentos a prestadores de
serviço que trabalharam na obra. “Ele [Paschoal] me chamou no seu escritório e
me disse que precisava que eu destacasse um engenheiro de confiança para que a
gente fizesse uma reforma em um sítio em Atibaia, que seria usado pelo
presidente Lula na época. E que eu procurasse uma pessoa designada na época
Aurélio, e que me passou um papelzinho com seu telefone para que eu pudesse na
época mandar o engenheiro Frederico”, contou Emyr, se referindo a Rogério
Aurélio Pimentel, ex-assessor de Lula que também é réu no processo.
Emyr contou, ainda, que a
Odebrecht aprovou o uso de R$ 500 mil na obra, mas que o dinheiro não foi
suficiente. A empreiteira, então, desembolsou mais R$ 200 mil. O dinheiro,
segundo Emyr, veio do Setor de Operações Estruturadas da empreiteira.
“[Paschoal] me disse, inclusive, que não usasse nenhum dinheiro da
contabilidade da empresa, que eu procurasse uma pessoa, na época, Lúcia
Tavares, eu imaginava que fosse da tesouraria da empresa”, disse o executivo.
Maria Lúcia Tavares era do “departamento de propina” da Odebrecht e foi a primeira
da empresa a fechar um acordo de delação premiada na Lava Jato.
Obras
Emyr também detalhou quais
foram as melhorias pedidas por Aurélio no sítio. Entre os pedidos estava a
construção de uma “casinha” logo na entrada da propriedade para “hospedagem da
segurança do presidente, quando ele fosse lá”; a construção de quatro suítes; o
término de dois depósitos – um seria a adega de Lula --, um quarto de
empregada.
“Além disso, a reforma da piscina, que tinha
um vazamento e precisava estender um pedacinho, ele queria que fosse maior e
pediu uma parte mais rasinha. Pediu que a gente fizesse o alambrado e o gramado
de um campo de futebol que tinha lá”, contou Emyr.
“E pediu várias outras
coisas que a gente não pôde fazer, que eram obras que envolviam terraplanagem e
em dezembro chove muito e a gente falou que não dava tempo de fazer, que era
aumentar o tamanho de uns lagos que têm no sítio e eles queriam que fizesse uma
quadra de tênis”, completou o executivo.
Apesar de ser responsável
pelas obras, Emyr disse que nunca teve contato com Fernando Bittar, o
proprietário formal da propriedade – também réu. Ele também contou que, em
2010, quando a obra foi realizada, ele tinha 25 anos de empresa e nunca tinha
feito nenhuma obra com aquelas características pela Odebrecht.
Emyr disse a Gabriela
Hardt que sua maior preocupação era com acidentes de trabalho em Atibaia. “Eu
sabia que o que a gente estava fazendo lá não era certo. Se tivesse um acidente
de trabalho aí que a coisa complicava”, contou. Segundo o executivo, os
trabalhadores responsáveis pela mão de obra estavam recebendo “por fora”, sem
contrato, em dinheiro em espécie e sem recibo.
Regularização
Depois que a obra foi
finalizada, segundo Emyr, Alexandrino Alencar pediu que ele fosse ao escritório
do advogado de Lula, Roberto Teixeira – também réu no processo – “que disse que
daria um jeito de legalizar a obra”, segundo o executivo. O contato foi feito
em abril de 2011.
Emyr apresentou,
inclusive, um comprovante de estacionamento perto do escritório de Roberto
Teixeira como prova. Ele também contou à juíza que, para não ligar a Odebrecht
à obra, alugou um carro a paisana e comprou um celular pré-pago para tratar
sobre a obra. Reforçou ainda que não conhecia nem Gilcélia e nem Rui Lemos.
Finalizou informando que todos os funcionários da obra foram pagos pela empresa
Aquapollo.
Vinculação com Petrobras
O advogado Cristiano Zanin
Martins, que defende o ex-presidente, tentou em vários momentos desvincular as
obras de Atibaia das ações relativas à corrupção na Petrobras. Em uma delas,
questionou o delator se sabia de onde viria o recurso do caixa 2 da empresa. Ao
receber a resposta negativa, completou que então não dava para afirmar que esta
verba era da estatal, o que foi confirmado por Paschoal.
Quando perguntado sobre o
momento em que decidiu fechar a colaboração premiada, o delator contou que a
decisão surgiu depois de uma reunião com Emílio Odebrecht, o qual colocou a
aceitação de delação por parte de todos os envolvidos como a única forma de
manter a empresa viva.
Para finalizar, Paschoal,
respondendo a outro questionamento do advogado de Lula, declarou que a obra foi
realizada pela Aquapollo.
Gazeta do Povo