quinta-feira, 25 de outubro de 2018

➤EDITORIAL


Haddad esconde os crimes do PT

O candidato petista à Presidência da República, Fernando Haddad, foi ao programa Roda Vida, da TV Cultura, e mostrou mais uma vez a incapacidade do PT em aceitar seus erros e, mais ainda, seus crimes. Mostrando que também ele vive naquele mundo paralelo em que a cúpula petista adora morar – aquele mundo em que o STF é “tribunal de exceção”, delação premiada é “tortura institucionalizada”, impeachment é “golpe parlamentar” e corrupção desenfreada não passa de “malfeitos” –, o petista, laranja do ex-presidente e atual presidiário Lula, diante da impossibilidade de negar totalmente o estrago que seu partido fez no Brasil, fez uma concessão aqui, outra lá, mas que ignora completamente a natureza da passagem do PT pelo Palácio do Planalto.

Questionado sobre os crimes dos petistas, Haddad se saiu com essa: “Houve crime? Na minha opinião, provavelmente, sim”. Ora, existem evidências mais que fartas a respeito dos dois grandes escândalos de corrupção elaborados e executados pelo petismo, o mensalão e o petrolão. E que não se argumente que tudo o que se sabe da participação de petistas nos esquemas se baseia apenas em delações premiadas de cúmplices que desejam aliviar suas penas: há documentação suficiente nos dois casos para que se possa, tranquilamente, afirmar que houve, sim, crime. Nada de “provavelmente”, e nada de “na minha opinião”. Os fatos são bastante claros para mostrar que a culpa de líderes petistas está muito longe de ser mera questão de opinião.

O candidato emendou, logo depois, que “enquanto houver recurso, a pessoa não deve ser julgada”. Podemos supor que Haddad, na verdade, quis dizer “ser considerada culpada”, e mesmo assim ainda encontraremos uma omissão grave na argumentação do candidato, já que o julgamento do mensalão foi encerrado em março de 2014, no Supremo Tribunal Federal, com a condenação em última instância, esgotados todos os recursos, de vários chefões petistas, incluindo José Dirceu, José Genoino, João Paulo Cunha e Delúbio Soares. E, apesar de o candidato agora defender “punição exemplar” para quem participou de esquemas, seu partido não chegou nem mesmo a aplicar o que prevê o estatuto da legenda: a expulsão daqueles que têm condenação transitada em julgado por crimes contra a administração pública. E a então presidente Dilma Rousseff terminou de limpar a barra dos mensaleiros com indultos de Natal em 2014 e 2015. Agora estão “todos soltos”, como dizia a mesma Dilma durante o estelionato eleitoral que o PT promoveu na campanha presidencial de 2014.

Como se não bastasse o “provavelmente”, referindo-se à existência de crimes cometidos por petistas, Haddad ainda tentou delimitar o escopo das roubalheiras, limitando-as a “financiamento de caixa 2 e o enriquecimento, que é ainda mais grave”. No entanto, a lista de crimes do petismo vai muito além disso: só no mensalão, houve peculato, corrupção ativa, corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha; na Lava Jato, até o momento, há condenações por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Mas o truque de Haddad não consiste apenas em reduzir a lista de artigos do Código Penal que os petistas desrespeitam: trata-se de algo bem mais sórdido, de uma estratégia para que não se perceba a gravidade dos esquemas de corrupção petistas.

Haddad diz acreditar que “teve gente que se valeu disso para enriquecer”, como se o mensalão e o petrolão tivessem sido esquemas feitos apenas para proporcionar uma boa vida a alguns ladrões. Mas eles foram muito além disso: seu objetivo era o de fraudar a democracia brasileira, perpetuando o petismo no poder por métodos criminosos que iam muito além do financiamento ilegal das campanhas do partido, o que parece ser o máximo que Haddad é capaz de admitir. Durante o julgamento do mensalão, vários ministros do Supremo, como Celso de Mello e Ayres Britto, foram enfáticos ao descrever aquilo que julgavam como um verdadeiro golpe. E as investigações da Lava Jato mostram que o petrolão foi apenas o meio que o PT encontrou para continuar o mensalão, quando aquela torneira se fechou. É por isso que Haddad pode dizer, talvez até com alguma paz na consciência, que defende a punição para os que roubaram com o intuito de enriquecer: afinal, ele sabe que seus colegas de partido roubavam em nome do projeto de poder do partido; para esses, em vez da punição, a aclamação como “guerreiros do povo brasileiro”.

E tudo isso nos traz a Lula. Quando se trata do mestre e senhor de Haddad, não existe nem mesmo o “provavelmente”: ele é inocente. “Li o processo de cabo a rabo, não achei uma única prova que desse consistência para uma sentença condenatória”, afirmou no Roda Vida. Se leu tudo e não encontrou nada, Haddad só confirma um de seus legados como ministro da Educação de um país cujos estudantes mostram desempenho medíocre nas habilidades de leitura e interpretação de texto nas avaliações nacionais e internacionais. Haddad ainda garantiu que não indultaria Lula, pois, segundo o candidato, o que o ex-presidente quer não é um indulto, e sim a reversão de sua condenação nos tribunais superiores. Difícil de acreditar; se, ainda livre, Lula aceitou se tornar ministro de Dilma apenas para escapar de Sergio Moro, em 2016, com direito a termo de posse enviado às pressas pelo célebre “Bessias”, o que ele não aceitaria agora, estando encarcerado em Curitiba?

Quando Haddad esconde com tanta desfaçatez a longuíssima lista corrida de crimes cometidos pelos principais líderes de seu partido, com o objetivo de fraudar a democracia e perpetuar o petismo no poder por meios ilícitos, que mensagem ele passa? A de que a legenda não tem a menor intenção de rever as práticas que levaram seus chefões, Lula entre eles, ao banco dos réus e às celas de prisões. Pelo PT, vale tudo; a roubalheira deixa de ser vício para se tornar virtude. Ora, essa não é a ética de um partido político, mas de uma organização criminosa.

Gazeta do Povo (PR)

➤OPINIÃO

O ego de Lula


Por mais que o PT tenha se esforçado para fingir que seu candidato à Presidência, Fernando Haddad, não é um mero preposto de Lula da Silva, há algo que nenhum truque de marketing será capaz de mudar: o PT sempre foi e continuará a ser infinitas vezes menor do que o ego de Lula. Na reta final da campanha eleitoral, justamente no momento em que Haddad mais se empenha para buscar apoio fora da seita lulopetista, o demiurgo de Garanhuns, decerto inquieto na cela em que cumpre pena por corrupção, resolveu divulgar uma carta para exigir - a palavra adequada é essa - que todos reconheçam a inigualável grandeza de seu legado como governante e que votem no seu fantoche se estiverem realmente interessados em salvar a democracia brasileira, supostamente ameaçada pelos “fascistas”.

O tom da mensagem é o exato oposto do que seria recomendável para quem se diz interessado em angariar a simpatia daqueles que, embora não tenham a menor inclinação para votar em Jair Bolsonaro (PSL) para presidente, tampouco gostariam de ver o PT voltar ao poder. Para esses eleitores, somente se o PT reconhecesse, de maneira honesta e sem adversativas, seu papel preponderante na ruína econômica, política e moral do Brasil nos últimos anos, cujos frutos mais amargos foram o empobrecimento do País e a desmoralização da política, talvez houvesse alguma chance de mudar de ideia. Mas isso é impossível, em se tratando de Lula da Silva, que se considera o mais importante brasileiro vivo e o maior líder que este país jamais terá.

Na carta em que diz que “é o momento de unir o povo, os democratas, todos e todas em torno da candidatura de Fernando Haddad, para retomar o projeto de desenvolvimento com inclusão social e defender a opção do Brasil pela democracia”, Lula não reserva uma única vírgula ao desastre econômico do governo de Dilma Rousseff, outra de suas inesquecíveis criações. Ao contrário: afirma que Dilma sofreu impeachment em razão de uma imensa conspiração de “interesses poderosos dentro e fora do País”, incluindo “todas as forças da imprensa” e “setores parciais do Judiciário”, para “associar o PT à corrupção” - omitindo escandalosamente o fato de que Dilma foi cassada exclusivamente por ter fraudado as contas públicas com truques contábeis e pedaladas. O petrolão, embora tenha sido motivo mais que suficiente para que o PT fosse defenestrado do poder para nunca mais voltar, não foi levado em conta no processo.

Como jamais teve compromisso real com a democracia - que pressupõe respeito a quem tem opinião divergente, para que seja possível o consenso - e também nunca reconheceu a legitimidade de nenhum governo que não fosse o seu ou de seus títeres, Lula não consegue soar democrático nem quando isso poderia favorecer o campo petista. A carta, ao contrário, é uma reafirmação de todas as mistificações que fazem de Lula um dos demagogos mais perniciosos da história nacional.

Lá estão as patranhas que tanto colaboraram para fazer do antipetismo um movimento tão sólido e vibrante, conforme atestam as pesquisas de opinião. Lula, sempre no plural majestático, diz que “fizemos o melhor para o Brasil e para o nosso povo” e por isso “tentam destruir nossa imagem, reescrever a história, apagar a memória do povo”. O sujeito desse complô, claro, é indeterminado, mas unido no que Lula chamou de “ódio contra o PT”. Tudo porque, diz Lula, “tiramos 36 milhões de pessoas da miséria”, porque “promovemos o maior ciclo de desenvolvimento econômico com inclusão social”, porque “fizemos uma revolução silenciosa no Nordeste” e porque “abrimos as portas do Palácio do Planalto aos pobres, aos negros, às mulheres, ao povo LGBTI, aos sem-teto, aos sem-terra, aos hansenianos, aos quilombolas, a todos e todas que foram discriminados e esquecidos ao longo de séculos”. Nada mais, nada menos.

Esse panegírico só serve para mostrar que Lula é mesmo incorrigível - e que seu arrogante apelo para “votar em Fernando Haddad” e assim “defender o estado democrático de direito” contra a “ameaça fascista que paira sobre o Brasil” não vale o papel em que está escrito.

Portal Estadão