Haddad
esconde os crimes do PT
O candidato
petista à Presidência da República, Fernando Haddad, foi ao
programa Roda Vida, da TV Cultura, e mostrou mais uma vez a incapacidade
do PT em aceitar seus erros e, mais ainda, seus crimes. Mostrando que também
ele vive naquele mundo paralelo em que a cúpula petista adora morar – aquele
mundo em que o STF é “tribunal de exceção”, delação premiada é “tortura
institucionalizada”, impeachment é “golpe parlamentar” e corrupção desenfreada
não passa de “malfeitos” –, o petista, laranja do ex-presidente e atual
presidiário Lula, diante da impossibilidade de negar totalmente o estrago que
seu partido fez no Brasil, fez uma concessão aqui, outra lá, mas que ignora
completamente a natureza da passagem do PT pelo Palácio do Planalto.
Questionado
sobre os crimes dos petistas, Haddad se saiu com essa: “Houve crime? Na minha
opinião, provavelmente, sim”. Ora, existem evidências mais que fartas a
respeito dos dois grandes escândalos de corrupção elaborados e executados pelo
petismo, o mensalão e o petrolão. E que não se argumente que tudo o que se sabe
da participação de petistas nos esquemas se baseia apenas em delações premiadas
de cúmplices que desejam aliviar suas penas: há documentação suficiente nos dois
casos para que se possa, tranquilamente, afirmar que houve, sim, crime. Nada de
“provavelmente”, e nada de “na minha opinião”. Os fatos são bastante claros
para mostrar que a culpa de líderes petistas está muito longe de ser mera
questão de opinião.
O candidato
emendou, logo depois, que “enquanto houver recurso, a pessoa não deve ser
julgada”. Podemos supor que Haddad, na verdade, quis dizer “ser considerada
culpada”, e mesmo assim ainda encontraremos uma omissão grave na argumentação
do candidato, já que o julgamento do mensalão foi encerrado em março de 2014,
no Supremo Tribunal Federal, com a condenação em última instância, esgotados
todos os recursos, de vários chefões petistas, incluindo José Dirceu, José
Genoino, João Paulo Cunha e Delúbio Soares. E, apesar de o candidato agora
defender “punição exemplar” para quem participou de esquemas, seu partido não
chegou nem mesmo a aplicar o que prevê o estatuto da legenda: a expulsão daqueles
que têm condenação transitada em julgado por crimes contra a administração
pública. E a então presidente Dilma Rousseff terminou de limpar a barra dos
mensaleiros com indultos de Natal em 2014 e 2015. Agora estão “todos soltos”,
como dizia a mesma Dilma durante o estelionato eleitoral que o PT promoveu na
campanha presidencial de 2014.
Como se não
bastasse o “provavelmente”, referindo-se à existência de crimes cometidos por
petistas, Haddad ainda tentou delimitar o escopo das roubalheiras, limitando-as
a “financiamento de caixa 2 e o enriquecimento, que é ainda mais grave”. No
entanto, a lista de crimes do petismo vai muito além disso: só no mensalão,
houve peculato, corrupção ativa, corrupção passiva, lavagem de dinheiro e
formação de quadrilha; na Lava Jato, até o momento, há condenações por
corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Mas o truque de
Haddad não consiste apenas em reduzir a lista de artigos do Código Penal que os
petistas desrespeitam: trata-se de algo bem mais sórdido, de uma estratégia
para que não se perceba a gravidade dos esquemas de corrupção petistas.
Haddad diz
acreditar que “teve gente que se valeu disso para enriquecer”, como se o
mensalão e o petrolão tivessem sido esquemas feitos apenas para proporcionar
uma boa vida a alguns ladrões. Mas eles foram muito além disso: seu objetivo
era o de fraudar a democracia brasileira, perpetuando o petismo no poder por
métodos criminosos que iam muito além do financiamento ilegal das campanhas do
partido, o que parece ser o máximo que Haddad é capaz de admitir. Durante o
julgamento do mensalão, vários ministros do Supremo, como Celso de Mello e
Ayres Britto, foram enfáticos ao descrever aquilo que julgavam como um
verdadeiro golpe. E as investigações da Lava Jato mostram que o petrolão foi
apenas o meio que o PT encontrou para continuar o mensalão, quando aquela
torneira se fechou. É por isso que Haddad pode dizer, talvez até com alguma paz
na consciência, que defende a punição para os que roubaram com o intuito de
enriquecer: afinal, ele sabe que seus colegas de partido roubavam em nome do
projeto de poder do partido; para esses, em vez da punição, a aclamação como
“guerreiros do povo brasileiro”.
E tudo isso
nos traz a Lula. Quando se trata do mestre e senhor de Haddad, não existe nem
mesmo o “provavelmente”: ele é inocente. “Li o processo de cabo a rabo, não
achei uma única prova que desse consistência para uma sentença condenatória”,
afirmou no Roda Vida. Se leu tudo e não encontrou nada, Haddad só confirma
um de seus legados como ministro da Educação de um país cujos estudantes
mostram desempenho medíocre nas habilidades de leitura e interpretação de texto
nas avaliações nacionais e internacionais. Haddad ainda garantiu que não
indultaria Lula, pois, segundo o candidato, o que o ex-presidente quer não é um
indulto, e sim a reversão de sua condenação nos tribunais superiores. Difícil
de acreditar; se, ainda livre, Lula aceitou se tornar ministro de Dilma apenas
para escapar de Sergio Moro, em 2016, com direito a termo de posse enviado às
pressas pelo célebre “Bessias”, o que ele não aceitaria agora, estando
encarcerado em Curitiba?
Quando
Haddad esconde com tanta desfaçatez a longuíssima lista corrida de crimes
cometidos pelos principais líderes de seu partido, com o objetivo de fraudar a
democracia e perpetuar o petismo no poder por meios ilícitos, que mensagem ele
passa? A de que a legenda não tem a menor intenção de rever as práticas que
levaram seus chefões, Lula entre eles, ao banco dos réus e às celas de prisões.
Pelo PT, vale tudo; a roubalheira deixa de ser vício para se tornar virtude.
Ora, essa não é a ética de um partido político, mas de uma organização
criminosa.
Gazeta do Povo (PR)