terça-feira, 16 de outubro de 2018

➤Augusto Nunes

Cid diz a coisa que o PT detesta ouvir
 
Ao chutar o balde num ato pró-Fernando Haddad, no Ceará, o senador eleito Cid Gomes espalhou o cheiro de enxofre que emana dos subterrâneos da candidatura presidencial do PT. O miasma ficará no ar até o próximo dia 28, quando o eleitor voltará às urnas. O desabafo do irmão de Ciro Gomes foi perfurante como prego em caixão: o PT “vai perder a eleição”, declarou. Vai ”perder feio”.

Num instante em que o petismo tenta atrair a família Gomes para o polo democrático anti-Bolsonaro, Cid cobrou na noite desta segunda-feira (15) um mea-culpa do PT. Hostilizado por militantes petistas, abespinhou-se:

“…Não admitir os erros que cometeram é pra perder a eleição. E é bem feito… Vão perder feio! Porque fizeram muita besteira, porque aparelharam as repartições públicas, porque acharam que eram donos de um país. E o Brasil não aceita ter dono…”

A certa altura, a plateia entoou um velho coro: Olê, olê, olê, oláááá, Lulaaaa, Lulaaaa…” E Cid: “Lula o quê? O Lula está preso, babaca! O Lula está preso, o Lula está preso, e vai fazer o quê? Deixa de ser babaca, rapaz, tu já perdeu a eleição.”

Para Cid Gomes, Jair Bolsonaro é uma criação dos “donos da verdade” do PT. Tomado pelas palavras, Cid avalia que o mea-culpa do petismo demorou tanto que se tornou desnecessário.

Coordenador da derrotada campanha de Ciro Gomes, o senador cearense parece considerar que o caso do PT já não é de autocrítica, mas de autópsia.

➤Organização criminosa

PF indicia Temer por corrupção

A Polícia Federal indiciou o presidente Michel Temer (MDB) e outros 10 investigados por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa no inquérito dos Portos – investigação sobre a edição de um decreto pelo emedebista que teria beneficiado empresas do setor. Na lista estão a filha de Temer, Maristela, o coronel reformado da Polícia Militar João Baptista Lima Filho, o coronel Lima, e o ex-assessor especial do emedebista Rodrigo Rocha Loures – o homem da mala dos R$ 500 mil da JBS.


A PF pediu a prisão preventiva do coronel Lima e de outros três alvos da investigação. O relatório final com os indiciamentos e os pedidos de prisão foram enviados ao ministro Luis Roberto Barroso, do Supremo.



Veja a lista de indiciados
1. Michel Miguel Elias Temer Lulia
2. Rodrigo Santos da Rocha Loures
3. Antônio Celso Grecco
4. Ricardo Conrado Mesquita
5. Gonçalo Borges Torrealba
6. João Baptista Lima Filho
7. Maria Rita Fratezi
8. Carlos Alberto Costa
9. Carlos Alberto Costa Filho
10. Almir Martins Ferreira
11. Maristela de Toledo Temer Lulia

Veja de quem, a PF pediu prisão preventiva
1. João Baptista Lima Filho
2. Carlos Alberto Costa
3. Maria Rita Fratezi
4. Almir Martins Ferreira

Agência Estado

➤Adolescentes

Maioria se alimenta mal

Foto: Agência Brasil/Reprodução
Dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do Ministério da Saúde apontam que, em 2017, 55% dos adolescentes acompanhados pela atenção básica do Sistema Único de Saúde (SUS) consumiram produtos industrializados, como macarrão instantâneo, salgadinho de pacote ou biscoito salgado. Além disso, 42% deles ingeriram hambúrguer e embutidos e 43%, biscoitos recheados, doces ou guloseimas. Os números foram divulgados em razão do Dia Mundial da Alimentação, lembrado hoje (16) e, segundo a pasta, servem de alerta.

De acordo com o ministério, jovens que apresentam quadro de obesidade aos 19 anos, por exemplo, apresentam 89% de chance de serem obesos aos 35 anos – daí a importância, segundo o próprio governo, de se investir em uma alimentação saudável e adequada ainda na infância e na adolescência.

Os dados revelam que o Sul é a região do país com a maior quantidade de jovens consumindo hambúrguer e embutidos e também macarrão instantâneo, salgadinho de pacote e biscoito salgado, com 54% e 59%, respectivamente. Já o Norte aparece com o menor percentual nesses dois grupos, com 33% e 47%, respectivamente. Em relação aos biscoitos recheados e guloseimas, o Sul segue na frente (46%), empatado com o Nordeste (46%).

Na análise por sexo, os percentuais, segundo a pasta, mostram que o consumo de industrializados, fast food, alimentos doces recheados e guloseimas não se diferencia muito, sendo um pouco maior entre os meninos. O primeiro grupo de alimentos, por exemplo, é consumido por 58% deles, enquanto as meninas representam 54%. Já o segundo grupo é consumido por 41% dos jovens do sexo masculino e por 38% do sexo feminino, enquanto os recheados são preferência de 42% deles e 41% delas.

“Os maus hábitos à mesa têm refletido na saúde e no excesso de peso dos adolescentes”, destacou o ministério, ao citar números da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar que mostram que 7,8% dos adolescentes nas escolas com idade entre 13 e 17 anos estão obesos. O problema é maior entre os meninos (8,3%) do que entre as meninas (7,3%). Os dados também apontam que 8,2% dos adolescentes com idade entre 10 e 19 anos atendidos na atenção básica em 2017 são obesos.

Adultos

Já os brasileiros adultos, segundo a pasta, demonstram hábitos alimentares mais saudáveis, conforme apontado pela Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) de 2017. Os dados mostram que o consumo regular de frutas e hortaliças nesse grupo cresceu 4,8% (de 2008 a 2017) enquanto o consumo de refrigerantes e bebidas açucaradas caiu 52,8% (de 2007 a 2017).

O estudo também aponta que a ingestão regular – cinco ou mais dias na semana – de frutas e hortaliças aumentou em ambos os sexos enquanto o consumo recomendado – cinco ou mais porções por dia em cinco ou mais dias da semana – aumentou mais de 20% entre adultos de 18 a 24 anos e de 35 a 44 anos. Os dados revelam, entretanto, uma diminuição da ingestão de ingredientes considerados básicos e tradicionais na mesa do brasileiro. O consumo regular de feijão, por exemplo, caiu de 67,6% em 2011 para 59,5% em 2017.

Agência Brasil

➤Gustavo Nogy/Gazeta do Povo

"Manuela foi à Missa"

Cristianismo prêt-à-porter


Fernando Haddad e Manuela d’Ávila foram à Missa no dia 12 de outubro, data importante do catolicismo brasileiro. Manuela tentava se ajustar ao ambiente com a naturalidade de um pipoqueiro em funeral; Haddad comia a hóstia como um Judas comendo pão com manteiga, minutos antes do beijo.

Não se fazem mais comunistas como antigamente. Comunista raiz, mesmo, que matava padre e estuprava freira com sinceridade.

Essa pantomina, ensaiada às pressas, fechou a tampa do caixão petista nos quesitos evolução e samba-enredo. Depois de trair o país e fazer do Estado brasileiro uma sucursal de empreiteiras e banqueiros, depois de fazer um primeiro turno em que Lula era Haddad e Haddad era Lula, o partido achou por bem agora trair seus eleitores: tomou banho de loja, trocou de cores, esqueceu de Lula, virou católico, negou aborto, confessou pecados, jurou virgindade, amém.

Um milagre de Nossa Senhora Aparecida.

Ao tentar se transformar em qualquer coisa diferente de si mesmo, o PT ratificou os motivos pelos quais Jair Bolsonaro conquistou eleitorado tão expressivo, sendo quem é, por pior que seja. Quem vota em Bolsonaro vota justamente porque ele não é o PT. O Partido dos Trabalhadores há muito virou teatro, farsa, golpe, quadrilha, papagaiada. Só lhe interessa continuar no poder, sugá-lo de dentro, agredi-lo de fora, parasitá-lo até o último centavo.

Com que cara, agora, todos os eleitores de esquerda apontarão dedos contra o “homem de bem”, contra os valores ridicularizados da família dita tradicional, da religião, dos bons costumes, que pautaram essa campanha?

Se há pouco o PT representava o iluminismo contra as trevas conservadoras, agora Fernando Haddad foi apresentado à sociedade com a pureza de uma debutante: pai de família há não sei quantos anos, monogâmico, caseiro, bonzinho, cristão. Escova os dentes três vezes ao dia e paga o dízimo. Toca “Segura na mão de Deus” ao violão. Até um preconceito ou dois deve ter arrumado. Fernando Haddad, para conseguir votos, virou homem de bem. Fernando Haddad virou o Seu Joaquim.

Enquanto isso, Manuela cerra os lábios, trinca os dentes e, na primeira chamada, renuncia às próprias convicções e as oferece no altar do lulopetismo, como Abraão que oferecesse Isaque ao Deus ciumento. É o pai quem lhe paga as contas da ideologia, ela tem de obedecer. É a vice de um candidato que nem é bem candidato e segue ordens de um condenado que quase foi candidato.

Por essas, por outras e por mais outras, não é possível cogitar voto no PT. Compreendo a repulsa por Jair Bolsonaro, porém não compreendo a tentativa de normalizar o cinismo petista, vendido como opção humana e civilizada contra o matuto do PSL. Não sei que tipo de diabo é Bolsonaro, mas sei que tipo de inferno é o governo do PT. Ainda bem que do meu voto não depende essa eleição.

Errar é humano; persistir no erro é petismo

Na Folha de S. Paulo, Celso Barros fez um chamamento emocionado. No artigo “PT, volte a ser digno da hora”, ele pede pelo amor de Lênin que o partido deixe o ressentimento pra lá, perdoe os golpistas, reconheça a necessidade do ajuste fiscal e pare com essa “palhaçadinha de nova Constituição, controle da mídia e demais babaquices que intelectual petista burro enfiou no programa de governo porque estava com raiva do impeachment”.

Trocando em miúdos, ele quer que o PT deixe de ser PT para ter uma segunda (segunda? terceira, quarta…) chance de afastar o perigo direitista. Perdoemos todos os crimes, erros, tramoias, estelionatos, escaramuças petistas, toda a palhaçadinha, porque, afinal de contas, temos de impedir a vitória de um candidato que porventura venha a cometer crimes, erros, tramoias, escaramuças, estelionatos, nova Constituição, controle de mídia, palhaçadinhas e demais babaquices…

Faz sentido.

Todo Marquês de Sade é um Gustavo Corção que se desconhece

Falando ainda em moralidade, de uns dias pra cá tenho me divertido com a estudada indignação entre artistas e intelectuais, que atingiu status de grande arte. A mentira existencial é a arte em que muitos se sobressaem; devia haver um prêmio Nobel para essa categoria.

Certo escritor, cuja carreira acompanho a meia-distância, sempre escreveu sobre o niilismo, a falência da ética, a vacuidade de todas as coisas, a dor de viver, a podridão das elites e a falsidade da religião. Eu o leio, às vezes, enquanto como Doritos e assisto aos gols da rodada.

Eis que de repente, não mais que de repente, do riso fez-se o pranto, e o atormentado crítico, dublê de Emil Cioran, anda apelando à moral e aos bons costumes com a objetividade de um matemático e o entusiasmo de um jansenista. É tanta conversa sobre “ser moral’, “votar contra Bolsonaro é questão de moralidade”, “nós temos de fazer alguma coisa”, que tenho vontade de chama-lo de vovô.

Aquela moralidade que, para ele e tantos como ele, era somente o verniz de civilização a encobrir nossos instintos, desejos e vontade de potência, aquela moralidade que não passava de concessão hipócrita e etiqueta social de padres tarados, pastores malucos e freiras histéricas, agora é clara, exata, dicotômica, venerável, sagrada, inapelável.

O comunista virou coroinha; a dúvida, dogma; Deborah Secco, conselheira matrimonial.

O resultado de tudo isso é óbvio: o PT estava errado quando atacava certos valores que para muita gente são caros, e está errado quando macaqueia os mesmos valores que para muita gente continuam a ser caros. Esses valores rendem votos, vejam que coisa. O cliente e o eleitor têm razões que a própria razão desconhece.

Jair Bolsonaro não representa o bom, o belo e o verdadeiro, nem de longe; se ele conseguir se conter nos limites de sua própria estupidez, não atrapalhará muito. Entretanto, pela mesma régua, se Bolsonaro não representa grande coisa, o que ainda representa o PT?

Nem mais a si mesmo.

➤Helio Gurovitz

O dilema insolúvel de Haddad



As últimas rodadas do Ibope e do Datafolha confirmam a vitória provável de Jair Bolsonaro no próximo dia 28 por uma diferença de quase 20 milhões de votos.

A manter-se nas urnas uma votação compatível com a registrada ns pesquisas, Bolsonaro terá perto de 63 milhões, talvez até 65 milhões de votos, a maior marca na história brasileira, superior até à votação de Donald Trump nos Estados Unidos, onde o eleitorado é bem maior.

Tais números revelam o fracasso da estratégia petista de escolhê-lo como rival no segundo turno, acreditando que a alta taxa de rejeição o levaria à derrota. A rejeição a Bolsonaro vem caindo, enquanto a rejeição a Fernando Haddad e ao PT tem subido.

Essa situação é resultado de dois fatores: 1) uma estratégia bem-sucedida na campanha de Bolsonaro; 2) as contradições da campanha de Haddad.

Bolsonaro soube aproveitar a vantagem eleitoral oferecida pelo atentado de que foi vítima. Num primeiro momento, a recuperação lhe permitiu ganhar a simpatia do público sem ser exposto ao confronto ou ao debate de ideias.

Depois da vitória no primeiro turno, seu estado frágil ofereceu o pretexto ideal para manter recolhimento e modular suas aparições a momentos controlados de acordo com seus interesses.

A ausência dos debates, os vídeos nas redes sociais e o estilo de seu programa no horário eleitoral gratuito contribuem para que evite confrontos e mantenha uma imagem mais moderada.

Bolsonaro encarnou o antipetismo, a luta contra a corrupção, o resgate de uma ordem imaginária. Vencerá tendo mantido vagas suas propostas concretas de governo, incapaz de resolver o conflito latente entre as diferentes alas que já disputam espaço em sua futura gestão.

Haddad, em contrapartida, é incapaz de solucionar o dilema evidente da campanha petista: como lidar com o legado de 13 anos de governo do país, cujo resultado foram o impeachment de Dilma Rousseff e a prisão de Luiz Inácio Lula da Silva.

A narrativa que ignora a corrupção e o fracasso da política econômica nos governos do PT e transforma o partido, Lula e Dilma em vítimas das “elites” não resiste à realidade. Expõe a maior contradição do discurso do “nós contra eles” que o PT adotou para vencer quatro eleições.

Sem contrição nem mea culpa, Haddad quer esquecer as mazelas petistas, despir-se do figurino vermelho e apresentar-se como líder de uma “frente democrática” para derrotar o risco autoritário representado por Bolsonaro.

Mas como convencer “eles”, aqueles sempre apresentados como “inimigos”, de que o PT agora pode ser aliado? Como se livrar da carga de tudo aquilo que foi dito e repisado ao longo dos últimos anos e continua explícito no programa de governo de Haddad?

Tal contradição é o preço que o PT paga por ter apostado, ao longo de décadas, na polarização como estratégia de conquista e manutenção do poder. Enquanto o “inimigo” era mais fraco, ou resistia a entrar no jogo de quem demoniza o adversário, a vitória petista era barbada.

A partir do momento em que o “inimigo” entra em campo adotando a mesma lógica de polarização, com um discurso ainda mais virulento demonizando o PT, a correlação de forças muda.

Escolher Bolsonaro como rival no segundo turno pode ter sido um lance de desespero de Lula, única saída para tentar recuperar o poder e salvar a própria pele. Insistir em ser candidato e em atacar a Operação Lava Jato funcionou para galvanizar o petista mais fiel, para mostrar que ainda havia força no “nós”.

Mas não para criar a ponte com “eles”, sempre necessária numa eleição em dois turnos. Lula não imaginava que um rival com o histórico e o discurso extremista de Bolsonaro fosse capaz de fazer isso.

Bastaram um ou dois movimentos políticos triviais, um Paulo Guedes aqui, uma aliança com evangélicos ou agronegócio ali, para isolar os tucanos e transformar Bolsonaro em porta-voz legítimo dos anseios do eleitor conservador, cuja representatividade sempre esteve aquém da realidade nos governos petistas.

Lula e o PT provam agora do mesmo veneno que destilaram. Nem um estrategista astuto como ele estava preparado para enfrentar um adversário capaz de derrotá-lo no próprio jogo.

Portal G1

➤Em evento pró-Haddad

Cid: "vitória de Bolsonaro será culpa do PT"


Um ato de apoio à campanha de Fernando Haddad (PT) no Ceará, no Marina Park, foi marcado pela discussão do senador eleito Cid Gomes (PDT), irmão de Ciro Gomes (PDT), com militantes petistas. Escalado para ser o primeiro a discursar, Cid cobrou um pedido de desculpas do PT pelas "besteiras que fizeram". Cid disse, ainda, que o partido "criou" Jair Bolsonaro (PSL), que lidera as pesquisas para a Presidência. Ao ser vaiado, disse que o partido vai "perder feio" a eleição se não assumir seus erros, e lembrou que o ex-presidente Lula está preso.

Inicialmente aplaudido, o ex-governador do Ceará cobrou dos petistas presentes que o partido fizesse um "mea culpa" se quisesse vencer a eleição.

- Não cabe a mim cobrar mea culpa de ninguém. Eu conheço o Haddad, é uma boa pessoa, tenho zero problema de votar no Haddad - disse Cid, antes de continuar:

- Mas se quiser dar um exemplo pro país, tem que fazer um mea culpa, tem que pedir desculpas, tem que ter humildade e reconhecer que fizeram muita besteira.

A frase gerou uma reação dividida na plateia. Um deles chamou a atenção de Cid e o senador eleito, apontando para o militante, iniciou uma série de críticas ao partido.


- É assim? É? Pois tu vai perder a eleição. Não admitir os erros que cometeram é pra perder a eleição. E é bem feito. Pois vão, vão, vão e vão perder feio. Vão perder feio! Porque fizeram muita besteira, porque aparelharam as repartições públicas, porque acharam que eram donos de um país e o Brasil não aceita ter dono - afirmou.

O irmão de Ciro ainda afirmou que "essas figuras que acham que são donos da verdade" criaram Bolsonaro.

- Não sei por que me pediram para falar. É para fazer faz de conta? Eu faço faz de conta - disse.

Nesse momento, parte da plateia começou a cantar gritos de ordem favoráveis ao ex-presidente Lula, gerando outra crítica de Cid.

- Lula o que? Lula está preso, babaca. O Lula está preso, o Lula está preso, e vai fazer o que? - afirmou. - Deixa de ser babaca, rapaz, tu já perdeu a eleição.  

Após pedir o "silêncio dos babacas do PT", o pedetista diz que falará apenas aos eleitores de Ciro que estavam no local. Após relembrar o apoio dado a candidatos do PT em locais onde a família Ferreira Gomes exerce influência no estado, Cid lembrou que ele e Ciro apoiaram a eleição e reeleição de Camilo Santana, atual governador do Ceará, ao contrário do PT, que seria um partido que quer ser "hegemônico". Apesar disso, Cid pede para que os eleitores de Ciro façam "mais um sacrifício".


- Engulam, façam mais um sacrifício. Nunca mereceram. Nunca deram nada em troca. Agora, faltando quatro meses para a eleição, eu convidei a Dilma para ser candidata a senadora no Ceará e o Lula impediu que ela viesse porque queria que o Eunício fosse eleito aqui no Ceará. O Lula! O Lula! - diz, gerando novas críticas de parte da plateia.

A crítica a Lula gerou nova reação exaltada dos presentes, o que levou Cid a terminar seu discurso se negando a pedir diretamente voto em Haddad.

- Grita, que eu não peço. Não vou pedir não. Beijinho, beijinho, tchau, tchau - finalizou.

Portal O Globo

➤OPINIÃO

A prepotência petista

As análises estatísticas do primeiro turno da eleição presidencial mostram aquilo que todos já sabem: o PT continua a reinar soberano nos remotos grotões do País, onde eleitores sustentados pelo assistencialismo do Bolsa Família idolatram o chefão petista Lula da Silva. Foi basicamente esse clientelismo que impulsionou a transferência de votos de Lula para seu preposto na eleição, Fernando Haddad, levando o ex-prefeito paulistano para o segundo turno contra Jair Bolsonaro (PSL).

Superada a primeira etapa da campanha, e a título de arregimentar apoio fora do curral lulopetista, Haddad agora quer fazer o País acreditar que nada tem a ver nem com o PT nem com Lula. Mais do que isso: pretende identificar-se como um candidato sem partido, preocupado unicamente com a democracia brasileira, que, segundo seu discurso, estaria ameaçada pelo seu oponente – um ex-capitão que faz apologia da ditadura e da tortura.

Assim, a candidatura de Haddad seria nada menos que a salvação da democracia – condição que, se verdadeira fosse, tornaria praticamente obrigatório o voto no PT no segundo turno para aqueles que prezam as liberdades democráticas. Na narrativa elaborada pelos estrategistas do PT, aqueles que rejeitam esse axioma lulopetista, recusando-se a declarar voto em Haddad ainda que considerem Bolsonaro realmente uma ameaça à estabilidade do País, são desde logo qualificados como cúmplices do ex-capitão.

A isso se dá o nome de “coação moral”, como corretamente salientou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em entrevista ao Estado. FHC relatou que vem sendo pressionado a “tomar posições”, isto é, a declarar voto em Haddad para, desse modo, reafirmar sua defesa da democracia contra o avanço do autoritarismo. Não fazê-lo, depreende-se, seria renunciar a essa defesa, permitindo que Bolsonaro e sua agenda retrógrada e fortemente iliberal prevaleçam. O ex-presidente rejeita categoricamente essa associação. “Não preciso provar que sou democrático”, declarou, como se isso fosse necessário.

A artimanha eleitoreira petista está obrigando democratas acima de qualquer suspeita a vir a público para dizer que não votar em Haddad no segundo turno está longe de ser uma declaração de apoio a Bolsonaro, muito menos uma demonstração de desapreço pela democracia.

O PT talvez tivesse melhor sorte na colheita de votos fora de seu reduto se fosse honesto e reconhecesse que, sob sua gestão, o Brasil mergulhou na maior crise econômica, política e moral de sua história. Ganharia simpatia se admitisse que não deveria ter elevado ao panteão dos “guerreiros do povo brasileiro” um magote de criminosos. Teria alguma chance de sucesso se seu discurso em defesa da democracia não fosse seletivo, poupando ditaduras companheiras como a da Venezuela. Poderia se redimir caso passasse a respeitar a opinião daqueles que não são petistas e caso confessasse que errou ao nunca considerar legítimo nenhum governo que não fosse o seu.

Como se vê, apenas retirar o vermelho e apagar Lula da propaganda eleitoral não é o bastante para convencer os verdadeiros democratas de que vale a pena apoiar Haddad nessa suposta luta em defesa da democracia. Em seu desabafo, Fernando Henrique Cardoso – cujo legado ao País sempre foi tratado como “herança maldita” pelo mesmo PT que agora demanda seu apoio – deu voz a muitos dos que estão cansados da retórica malandra e arrogante do lulopetismo. “Com que autoridade moral o PT diz: ou me apoia ou é de direita? Cresçam e apareçam. (...) Agora é o momento de coação moral... Ah, vá para o inferno. Não preciso ser coagido moralmente por ninguém. Não estou vendendo a alma ao diabo”, disse o ex-presidente.

Por ter sistematicamente desrespeitado aqueles que não aceitaram sua busca por hegemonia, por ter jogado brasileiros contra brasileiros e por ter empobrecido a política por meio da corrupção e do populismo rasteiro, o PT colhe agora os frutos amargos – na forma de um repúdio generalizado ao partido em quase todo o País e da desmoralização de sua tentativa de vestir o figurino democrático, que nunca lhe caiu bem.

Portal Estadão