O Fanatismo eleitoral
A eleição está fanatizada.
Tal qual uma peleja futebolística com suas torcidas raivosas, capazes até de
partir às vias de fato. A disputa nas urnas virou guerra fratricida e fascista.
Não é mais o mero exercício da democracia. Longe disso! Partiu-se ao pugilismo
raso, à política da pior espécie. O bate-boca, a troca de denúncias, facadas e
balas marcaram a corrida presidencial.
Assuntos e projetos cruciais cederam
lugar ao lero-lero das imprecações sem fundamento. A negação dos fatos, a
desvirtuação deles e mesmo o ataque virulento a sua veiculação, seja por qual
meio for, passaram a prevalecer entre candidatos extremistas e o seu séquito de
eleitores/adoradores que tomam as ruas a protestar e a denunciar falsos complôs
de adversários. A mentira entrou na ordem do dia, de maneira descarada e
perigosa.
Foi assim nos idos do nazismo, quando o então ministro da propaganda
alemã, Joseph Goebbels, pregava que uma mentira repetida mil vezes torna-se
verdade. Muitos hoje atendem ao chamado, acreditam no que querem. Não no que é
real. Como hordas de alienados prontos a serem aliciados.
Uma foto publicada na
grande imprensa é tachada de manipulação. Fake news. Os índices das pesquisas
são desacreditados. Filmes, mensagens e imagens distorcidas ou espertamente
sacadas de situações que não correspondem à realidade são incorporados ao
arsenal de comunicação para turbinar esse ou aquele postulante. Ninguém aguenta
mais a martelação infernal de memes, ataques sem qualquer cabimento e
inverdades lançadas nas redes digitais para angariar votos e apoio – seja da
maneira que for.
O que vale é o irreal, o adequado à circunstância ou à ideia
que se deseja transmitir. Tomam-se registros de velhas situações para lançá-los
com outra roupagem e “comprovar” eventos que na verdade não existiram da
maneira propagada.
Faça o teste: ouse, atualmente, falar mal de um candidato
admirado por seu interlocutor ou discordar do que ele diz. Logo receberá uma
resposta atravessada, ou coisa pior. O patrulhamento ideológico tomou corpo e
dimensão extraordinários. Se um grupo de mulheres reúne-se para criticar esse
ou aquele presidenciável é tachado de adjetivos impublicáveis. Algo abominável,
ridículo e totalitário.
Nos últimos dias, na reta final da eleição, foram
tantas as barbaridades que a onda chega a assombrar até os mais curtidos
contendores.
Ressurgido das cinzas da cadeia, José Dirceu, o petista
empedernido, cupincha e capanga de Lula, disse que o PT tomaria o poder de
qualquer jeito. O que seria, nas palavras dele, algo “muito diferente de ganhar
uma eleição”.
Questão de tempo, profetizou. No delírio insano das pragas, o
esfaqueado Bolsonaro alardeou ser golpe ele não vencer a eleição contra o poste
do lulopetismo, Fernando Haddad. Assim o embate entre o justiceiro e o
pau-mandado promete novos desdobramentos, para além das urnas.
Ao rejeitar as
regras do jogo, ao negar a legitimidade dos adversários, ao incitar a violência
por meio das armas e ao defender medidas que restringem direitos civis, como o
controle da mídia, esses senhores flertam com o estrangulamento da democracia.
Os líderes querem contestar o resultado nos tribunais. Enquanto isso, a Justiça
também faz das suas. Na verdade, ela vem derrapando na politicagem não é de
hoje, alimentando um verdadeiro pandemônio institucional sem precedentes.
O que
se assistiu nos últimos dias nesse sentido foi de cair o queixo. O amigo
pessoal do petista Lula, nomeado justamento por ele para o Supremo, Ricardo
Lewandowski, decidiu numa canetada autorizar uma entrevista do ex-presidente às
vésperas da eleição, obviamente ciente do peso que suas palavras poderiam ter
para influenciar o voto desse ou daquele indeciso. A decisão, se vingasse,
seria de um casuísmo escrachado.
O colega de STF, Luiz Fux, percebendo o
absurdo da decisão e aproveitando um questionamento partidário, indeferiu a
autorização e suspendeu o pedido. Lewandowski voltou à carga. Tornou a
autorizar para, logo depois, ser desautorizado, dessa vez pelo presidente da
Casa, Dias Toffoli.
A interferência da Justiça no jogo eleitoral é, talvez, a face
mais nefasta de um processo acelerado de deterioração das instituições. O País
conflagrado, nas mãos de líderes também beligerantes, segue à deriva. Na
esperança de logo encontrar um porto seguro, sem a hegemonia dos fanáticos.
IstoÉ