O PT quer ‘tomar o poder’
Um regime autoritário pode
se instalar da maneira clássica, por meio de um golpe, ou como resultado de um
paulatino processo de captura do poder por um determinado grupo político, que
assegura sua hegemonia a partir do aparelhamento do Estado. De um modo ou de
outro, o resultado é sempre o mesmo: a submissão do Estado - e da Nação - aos
interesses de quem o controla, o exato oposto de uma democracia. É precisamente
isso o que o PT tentará fazer se esse partido conseguir vencer a eleição
presidencial.
Para os que ainda concedem
ao PT o benefício da dúvida, enxergando naquele partido credenciais
democráticas que a sigla há muito perdeu - se é que um dia as teve -,
recomenda-se a leitura de uma entrevista que o “companheiro” José Dirceu deu ao
jornal El País.
Na entrevista, o jornal
pergunta ao ex-ministro, deputado cassado e réu triplamente condenado se ele
acredita na possibilidade de que o PT seja impedido de assumir a Presidência
caso vença a eleição - ou seja, se pode haver um golpe. José Dirceu considera
essa hipótese “improvável”, pois significaria colocar o Brasil na rota do
“desastre total”, uma vez que “na comunidade internacional isso não vai ser
aceito”. Mas então Dirceu, condenado a mais de 33 anos de prisão por corrupção
no âmbito da Lava Jato, deixa claro que, para o PT, as eleições, afinal, são
apenas uma etapa na tomada do poder. “Dentro do país é uma questão de tempo
para a gente tomar o poder. Aí nos vamos tomar o poder, que é diferente de
ganhar uma eleição”, explicou o ex-ministro.
Não é preciso grande
esforço para perceber o projeto antidemocrático petista nessas poucas palavras.
Quando diz que “tomar o poder” é diferente de “ganhar uma eleição”, significa
que o poder pode ser conquistado e consolidado à margem ou mesmo a despeito do
natural processo democrático - que, justamente, tem como um de seus fundamentos
a alternância de governantes, para evitar a cristalização de um determinado
grupo político-partidário na máquina estatal.
Ao afirmar que é apenas
uma “questão de tempo” para que o PT efetivamente tome o poder, Dirceu dá a
entender que esse processo já está em curso. Pode-se dizer que os esquemas
arquitetados pelo PT e seus associados para corromper o Congresso eram parte da
estratégia, e só não foram mais longe porque houve um acidente de percurso - a
Operação Lava Jato.
Mas há um aspecto menos
escandaloso e mais insidioso nessa ofensiva do PT, que é a construção, passo a
passo, da hegemonia do pensamento e da ação petistas em diversos setores da
sociedade - e, para que essa estratégia insinuada por Dirceu seja bem-sucedida,
é preciso contaminar de petismo também as instituições sobre as quais repousa a
tarefa de garantir a democracia. Foi exatamente o que o chavismo fez na Venezuela,
não à toa um modelo de “democracia” para os petistas.
Em resolução publicada
depois do impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016, o PT lamentou não
ter se concentrado na “construção de uma força política, social e cultural
capaz de dirigir e transformar o País”, o que incluía a reforma do Estado para
se contrapor ao que chamou de “sabotagem conservadora”, e disse ter falhado ao
não “promover oficiais (das Forças Armadas) com compromisso democrático e
nacionalista” - isto é, militares alinhados ao PT.
Mas, como constatou
Dirceu, nem o impeachment de Dilma nem a prisão do máximo líder da camarilha
petista, Lula da Silva, interromperam o empreendimento autoritário do partido.
Ao contrário: a autorização dada ontem pelo ministro do Supremo Tribunal
Federal Ricardo Lewandowski para que Lula possa dar entrevistas na cadeia
mostra o quanto as instituições basilares da democracia continuam permeáveis ao
lulopetismo.
Para permitir que Lula,
encarcerado por corrupção e lavagem de dinheiro, dê declarações com potencial
para influir na disputa presidencial, tumultuando um processo já bastante
confuso, Lewandowski invocou a “liberdade de imprensa”. Ou seja, recorre-se a
um dos princípios mais caros aos regimes democráticos para garantir a Lula um
privilégio - situação por si só incompatível com uma democracia, mas muito
coerente com a “tomada de poder” pelo PT.
Portal Estadão