Como Haddad, Ciro é Dilma
O presidenciável Ciro
Gomes, do PDT, disse outro dia, referindo-se a Fernando Haddad, que “o País não
aguenta outra Dilma”. Mas, a rigor, o próprio Ciro poderia
dizer, parafraseando a célebre frase do rei Luís XIV, da França, “a Dilma
sou eu”. Não apenas por afirmar, como Dilma, Haddad e a tropa de choque do PT e
seus aliados, que o impeachment foi “golpe”, que Lula não deveria estar na
cadeia e que a Lava Jato é uma aberração produzida à margem da Constituição.
A julgar por muitas
de suas propostas para o Brasil, em especial no campo econômico, não dá
para dizer com clareza as diferenças entre as ideias de Ciro e as de Haddad e
Dilma. Exceto por filigranas, relacionadas principalmente com o déficit da
Previdência, o que Ciro propõe é um reempacotamento da chamada “nova matriz
econômica”, adotada por Dilma, que levou o País à maior recessão da história e
deixou 13 milhões de desempregados como saldo. Não por acaso, até poucos
dias atrás, Ciro corria atrás do apoio petista à sua candidatura.
Se analisarmos com frieza
as propostas de Ciro para a economia, saltam aos olhos as semelhanças com a
tal da “nova matriz econômica” praticada por Dilma e defendida por
Haddad, caracterizada pela expansão fiscal, por meio de desonerações
seletivas e do crédito de bancos públicos a juros subsidiados, e pelo controle
artificial das taxas de câmbio e juros pelo governo.
A bem da verdade, deve-se
dizer que as propostas de Ciro não se limitam ao resgate da “nova (velha)
matriz”, que minou, com as “pedaladas” fiscais, a credibilidade de Dilma.
Em termos de intervencionismo na economia, Ciro consegue ir além. Não é à toa
que, quando ele sobe nas pesquisas, assim como Haddad, o dólar vai às nuvens e
a Bolsa despenca. É só conferir o que ele propõe ao País, para entender a
reação negativa de investidores e empresários.
As propostas de Ciro para
a economia, que pouco tocam na questão do aumento de produtividade, hoje o
principal gargalo do País, escancaram suas ideias intervencionistas e não
deixam dúvidas sobre suas semelhanças com a política econômica de Dilma,
encampada, sem o devido crédito, por Haddad. Confira a seguir as principais ideias
já defendidas por Ciro nesta campanha eleitoral:
-Projeto
nacional-desenvolvimentista, com foco na proteção ao setor produtivo nacional;
-Política industrial com
estímulo oficial à indústria nacional, com crédito subsidiado pelo BNDES;
-Nacionalismo econômico,
com restrições à venda de empresas como Embraer e Eletrobras ao capital
estrangeiro e à participação de investidores externos em setores como petróleo
e águas;
-Restrição à privatização
de estatais como Eletrobras e Petrobrás;
-Reversão da privatização
da Eletrobras caso seja efetivada até o final do governo Temer;
-Reversão de concessões
feitas a estrangeiros pela Petrobras no atual governo;
-Financiamento de obras de
infraestrutura com recursos subsidiados com dinheiro público;
-Reversão da reforma
trabalhista.
Além de defender medidas
protecionistas para o setor produtivo, Ciro propõe uma série de medidas na área
das finanças públicas que se assemelham às adotadas por Dilma e apoiadas por
Haddad. Veja quais as principais a seguir:
-Fim do tripé
macroeconômico, baseado na equilíbrio fiscal, nas metas para a inflação e na
taxa de câmbio flutuante;
-Duplo mandato para o
Banco Central, submetendo o controle da inflação à busca do pleno emprego;
-Revogação da Emenda
Constitucional nº 95, que estabeleceu o teto de gastos;
– Definição de um um teto
para a dívida pública e incorporação de parte dos juros ao principal;
-Uso das reservas cambiais
para reduzir a dívida pública;
-Interferência do governo
na definição dos juros pelo Banco Central;
-Aumento de impostos, com
volta da CPMF, para cobrir o déficit público;
-Desvalorização cambial
artificial, para proteção da produção nacional e redução de importações;
-Redução do salário real
por meio da desvalorização da moeda, para tentar alavancar investimentos e
aumentar competitividade;
-Crédito subsidiado dos
bancos públicos ao consumo, para viabilizar o SPCiro, que pretende limpar o
nome dos maus pagadores;
-Revogação da taxa de
longo prazo (TLP), que deverá igualar os juros cobrados pelo BNDES aos juros de
mercado, e volta da TJLP, vinculada à meta de inflação.
Portal Estadão