Arrastão do Bolsonaro
Nas pesquisas sem o
ex-presidente Lula, Jair Bolsonaro (PSL) lidera em todas as regiões, menos no
Nordeste, e avança sobre votos que seriam naturalmente de seus adversários em
três segmentos ao menos: agronegócio, evangélicos e, como mostrou o Estado,
até os velhos malufistas de São Paulo. Mas, se tem 20% a seu favor, ele precisa
amansar os 37% que não votam nele de jeito nenhum e disputar os incríveis 38%
ainda sem voto.
Na opinião de Marina Silva
(Rede), a segunda colocada, a transferência de votos para um neófito em
disputas presidenciais como Bolsonaro, inclusive ou principalmente de setores
evangélicos, se deve a um “populismo de extrema direita”. Ela reforça o perigo
do populismo, tanto à direita quanto à esquerda, mas o difícil é o eleitor e a
eleitora se darem conta disso.
Não fosse a solidez da
agricultura, a recessão dilmista teria ido ainda mais fundo, teria sido mais
danosa, e o agronegócio brasileiro não é apenas um dos mais competitivos do
mundo como tem líderes, máquinas e logística modernos e sofisticados, mas
continua sendo fortemente conservador em termos de costumes. Nada como um
candidato que fale em ordem, tradição, família, Deus e... armas.
Pelo Ibope, Bolsonaro
lidera no Centro-Oeste, no Norte e no Sul, tirando votos que escaparam do PSDB.
Há poucos dias, enquanto o tucano Geraldo Alckmin prometia tratores para a agricultura,
ele acenava com liberação das armas, num discurso que anima mais a plateia,
além de render mais reportagens e manchetes. Tratores eles já têm, mas a
questão das armas ainda é polêmica e enfrenta muita resistência no Brasil.
Ainda bem.
É com esse discurso
também, de ordem, família..., que o capitão da reserva foi se infiltrando no
eleitorado evangélico, fatiado em diferentes designações, espalhado por todo o
País e mais engajado nas eleições do que qualquer outro grupo religioso. Apesar
de ser a única candidata evangélica, Marina está sendo vítima direta desse
ataque especulativo.
Em 2014, Marina teve 43%
de votos evangélicos, mas hoje está com 12%, enquanto Bolsonaro abocanha 26%
difusamente, ou seja, nos diferentes Estados e regiões. Com um detalhe: os
evangélicos não são apenas fortes, eles continuam em ascensão. E, assim como há
a Frente Parlamentar da Agricultura, há no Congresso uma forte bancada
evangélica que tende a aumentar a partir de 2019 e ser uma mão na roda para
qualquer presidente, em especial um que seja de um pequeno partido e não tenha
feito coligações consistentes na eleição.
Pela reportagem do Estado,
também os velhos e resilientes malufistas de São Paulo estão sendo fisgados
pelo discurso de extrema direita de Bolsonaro. Com o declínio político do
indescritível Paulo Maluf, eles vinham nas últimas eleições se bandeando para
os candidatos do PSDB, que mandam e desmandam no Estado há décadas. Mas, enfim,
parecem ter encontrado um substituto à altura para seu ídolo, agora em prisão
domiciliar, com tornozeleira e tudo.
Curiosidade: uma das
bandeiras de Bolsonaro é o combate à corrupção, mas vamos convir que Maluf não
se encaixa aí. Nenhum Sérgio Cabral, nenhum Eduardo Cunha, ninguém tira o
troféu de Maluf nessa área, porque “quem já foi rei nunca perde a majestade”.
Assim, os votos malufistas vão para Bolsonaro pela a identidade de direita, a
tradição, as armas, nada a ver com anticorrupção.
Além de 30% no
Norte-Centro Oeste e dos 23% no Sul, Bolsonaro tem 21% no Sudeste, onde se
concentram 43% dos eleitores, e só no Nordeste, com 13%, ele perde para Marina
(17%) e Ciro Gomes (14%). Mas não se esqueçam: quanto mais Bolsonaro cresce
nesses setores, mais ele aumenta sua rejeição em vários outros. No segundo
turno, rejeição pode ser fatal.
Portal Estadão