terça-feira, 28 de agosto de 2018

➤BOA NOITE!

SEMANA DA MÚSICA GAÚCHA
OS SERRANOS
TORDILHO NEGRO


➤Eliane Cantanhêde


Arrastão do Bolsonaro

Nas pesquisas sem o ex-presidente Lula, Jair Bolsonaro (PSL) lidera em todas as regiões, menos no Nordeste, e avança sobre votos que seriam naturalmente de seus adversários em três segmentos ao menos: agronegócio, evangélicos e, como mostrou o Estado, até os velhos malufistas de São Paulo. Mas, se tem 20% a seu favor, ele precisa amansar os 37% que não votam nele de jeito nenhum e disputar os incríveis 38% ainda sem voto.

Na opinião de Marina Silva (Rede), a segunda colocada, a transferência de votos para um neófito em disputas presidenciais como Bolsonaro, inclusive ou principalmente de setores evangélicos, se deve a um “populismo de extrema direita”. Ela reforça o perigo do populismo, tanto à direita quanto à esquerda, mas o difícil é o eleitor e a eleitora se darem conta disso.

Não fosse a solidez da agricultura, a recessão dilmista teria ido ainda mais fundo, teria sido mais danosa, e o agronegócio brasileiro não é apenas um dos mais competitivos do mundo como tem líderes, máquinas e logística modernos e sofisticados, mas continua sendo fortemente conservador em termos de costumes. Nada como um candidato que fale em ordem, tradição, família, Deus e... armas.

Pelo Ibope, Bolsonaro lidera no Centro-Oeste, no Norte e no Sul, tirando votos que escaparam do PSDB. Há poucos dias, enquanto o tucano Geraldo Alckmin prometia tratores para a agricultura, ele acenava com liberação das armas, num discurso que anima mais a plateia, além de render mais reportagens e manchetes. Tratores eles já têm, mas a questão das armas ainda é polêmica e enfrenta muita resistência no Brasil. Ainda bem.

É com esse discurso também, de ordem, família..., que o capitão da reserva foi se infiltrando no eleitorado evangélico, fatiado em diferentes designações, espalhado por todo o País e mais engajado nas eleições do que qualquer outro grupo religioso. Apesar de ser a única candidata evangélica, Marina está sendo vítima direta desse ataque especulativo.

Em 2014, Marina teve 43% de votos evangélicos, mas hoje está com 12%, enquanto Bolsonaro abocanha 26% difusamente, ou seja, nos diferentes Estados e regiões. Com um detalhe: os evangélicos não são apenas fortes, eles continuam em ascensão. E, assim como há a Frente Parlamentar da Agricultura, há no Congresso uma forte bancada evangélica que tende a aumentar a partir de 2019 e ser uma mão na roda para qualquer presidente, em especial um que seja de um pequeno partido e não tenha feito coligações consistentes na eleição.

Pela reportagem do Estado, também os velhos e resilientes malufistas de São Paulo estão sendo fisgados pelo discurso de extrema direita de Bolsonaro. Com o declínio político do indescritível Paulo Maluf, eles vinham nas últimas eleições se bandeando para os candidatos do PSDB, que mandam e desmandam no Estado há décadas. Mas, enfim, parecem ter encontrado um substituto à altura para seu ídolo, agora em prisão domiciliar, com tornozeleira e tudo.

Curiosidade: uma das bandeiras de Bolsonaro é o combate à corrupção, mas vamos convir que Maluf não se encaixa aí. Nenhum Sérgio Cabral, nenhum Eduardo Cunha, ninguém tira o troféu de Maluf nessa área, porque “quem já foi rei nunca perde a majestade”. Assim, os votos malufistas vão para Bolsonaro pela a identidade de direita, a tradição, as armas, nada a ver com anticorrupção.

Além de 30% no Norte-Centro Oeste e dos 23% no Sul, Bolsonaro tem 21% no Sudeste, onde se concentram 43% dos eleitores, e só no Nordeste, com 13%, ele perde para Marina (17%) e Ciro Gomes (14%). Mas não se esqueçam: quanto mais Bolsonaro cresce nesses setores, mais ele aumenta sua rejeição em vários outros. No segundo turno, rejeição pode ser fatal.

Portal Estadão

➤José Casado

Companheiros golpistas


Para alguns candidatos será constrangedor e difícil explicar. Para milhões de eleitores vai ser quase impossível entender as próximas cenas da campanha eleitoral.

O primeiro capítulo vai ao ar na sexta-feira, quando começa propaganda política no rádio e na televisão. Nesse dia, por coincidência, se completam dois anos do último impeachment (em três décadas de democracia, o país já derrubou metade dos quatro presidentes que chegaram ao Planalto pelo voto direto).

Em vários estados o eleitor será surpreendido com o desfile do PT de Dilma e Lula abraçado aos “golpistas” do MDB de Michel Temer. Foram parceiros no poder por 12 anos e sete meses, até o impeachment de Dilma.

Atravessaram os últimos 24 meses em histeria na Câmara e no Senado. Todo dia, gastavam hora e meia nos plenários injuriando-se como “ladrões” e “corruptos” — não necessariamente nessa ordem. Houve parlamentar petista que fez 350 discursos de ataques aos “golpistas”, dois terços do Legislativo.

Agora, o PT está de novo entrelaçado ao MDB de Temer, ao PR de Valdemar Costa Neto, ao PP de Ciro Nogueira, ao PTB de Roberto Jefferson, ao PSD de Gilberto Kassab, ao SD de Paulinho da Força, ao DEM de Rodrigo Maia e ao PSB dos Arraes. Por milagre eleitoral, todos voltaram a ser bons companheiros.

Pelos antigos sócios, em nove estados os petistas renegaram o PCdoB, seu mais fiel e permanente aliado. Esse partido precisa de bancada em nove estados (ou 1,5% dos votos válidos no país) para se manter no mapa político.

Foi preciso ordem judicial para obrigar o PT do Amazonas a não deixar desamparada a senadora comunista Vanessa Graziottin (PCdoB), isolada na batalha pela reeleição. Em Pernambuco, aniquilou uma candidatura própria (Marília Arraes) para apoiar a reeleição de um “golpista”, o governador do PSB em Pernambuco (Paulo Câmara).

Razão tinha o poeta Drummond, quando dizia que uma eleição é feita para corrigir o erro do pleito anterior, mesmo que o agrave.

Portal O Globo



➤Racismo

STF analisa denúncia contra Bolsonaro


A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) vai julgar nesta terça-feira uma denúncia pelo crime de racismo contra o presidenciável do PSL, Jair Bolsonaro. Se a denúncia for recebida, o inquérito será transformado em ação penal e Bolsonaro passará à condição réu. No entanto, isso não terá impacto direto na candidatura dele. Pela Lei da Ficha Limpa, condenados não podem concorrer às eleições. Mas, no caso, Bolsonaro ainda estará respondendo à ação penal. Pelos prazos da lei, a Corte não deverá finalizar as investigações, com a condenação ou absolvição do réu, até as eleições de outubro.

Caso a denúncia seja aceita e Bolsonaro ganhe a eleição, o esperado é que o processo seja paralisado, já que, segundo a Constituição Federal, “o presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções”. Surgirá, ainda, outra questão. A Constituição diz que, admitida denúncia contra o presidente da República, ele ficará suspenso de suas funções. Se ganhar a eleição, Bolsonaro já terá a condição de réu. Portanto, o STF terá de decidir se ele poderá ou não assumir o cargo.

Caso não seja eleito, Bolsonaro, que hoje é deputado federal, não terá mais mandato a partir do ano que vem e deixará de ter foro privilegiado. Nesse caso, o processo deverá ser enviado para uma instância inferior e tramitar normalmente
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Se houvesse tempo para concluir o julgamento antes da análise do registro de candidatura, uma eventual condenação de Bolsonaro o tornaria inelegível por oito anos. Entre os crimes que podem fazer com que alguém seja enquadrado na Lei da Ficha Limpa está o de racismo.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) acusou Bolsonaro da prática de racismo a partir de uma palestra que ele deu no Clube Hebraica do Rio de Janeiro, em abril do ano passado. A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, considera que ele demonstrou preconceito contra quilombolas e refugiados, e pediu o pagamento de uma multa por danos morais, no valor de R$ 400 mil. Na palestra, o parlamentar afirmou:

— Eu fui em um quilombo em Eldorado Dourado Paulista. Olha, o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Eu acho que nem para procriador eles servem mais.

Em relação aos estrangeiros, Bolsonaro disse que o Brasil não pode virar "casa da mãe Joana":

— Não pode a decisão de um governo acolher todo mundo de forma indiscriminada.

Em sua defesa, os advogados de Bolsonaro alegaram que as afirmações não foram preconceituosas ou discriminatórias e, mesmo que sejam consideradas dessa forma, seriam protegidas pela imunidade parlamentar. Pelas mesmas declarações, Bolsonaro já foi condenado, pela Justiça Federal do Rio de Janeiro, a pagar R$ 50 mil por danos morais coletivos para comunidades quilombolas e à população negra em geral, em uma ação movida pelo Ministério Público Federal no estado.

Portal O Globo

➤Caixa 2 de Haddad em 2012

Há ‘elementos de prova’, diz juiz eleitoral



O juiz Francisco Carlos Inouye Shintate, da 1ª Zona Eleitoral de São Paulo, responsável pelo processo contra o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) por suposto caixa dois na eleição municipal de 2012, reafirmou nesta segunda-feira, 27, que há “elementos de prova” do crime contra o petista e manteve Haddad como réu na ação. O ex-prefeito paulistano é acusado de receber em sua campanha naquele ano, quando foi eleito, 2,6 milhões de reais não declarados da UTC Engenharia.

Ao responder à denúncia do Ministério Público Eleitoral (MPE), a defesa de Haddad pedia que a acusação fosse rejeitada por nulidade processual, a partir do compartilhamento de provas da Operação Custo Brasil, “inépcia formal” e falta de justa causa.

“Rejeito a alegação de inépcia formal da denúncia, uma vez que se vislumbra, ao menos neste juízo de cognição sumária, elementos de prova que indicam a materialidade do crime e a coparticipação deste corréu. O corpo da denúncia descreve o falso [falsidade ideológica eleitoral, como é conhecida o crime de caixa dois], a autoria do corréu, e o dolo”, decidiu o magistrado.

No despacho assinado nesta segunda-feira, o juiz eleitoral sustenta que há na denúncia indícios “de que houve ações de captação de recursos que sabidamente seriam omitidos na prestação de contas”, assinada tanto por Fernando Haddad quanto pelo tesoureiro da campanha, Francisco Macena da Silva, o Chico Macena.

Shintate cita entre os indícios perícias, quebras de sigilo telefônico e bancário e apreensão de documentos, além de depoimentos de delatores como Ricardo Pessoa, dono da UTC, o doleiro Alberto Youssef e seus funcionários Walmir Santana e Rafael Ângulo Lopez. Pessoa relatou ter repassado os 2,6 milhões de reais à campanha de Haddad por meio de pagamentos a gráficas que prestaram serviços ao petista.

“O corréu Fernando Haddad foi o candidato do PT à Prefeitura de São Paulo em 2012, respondia pela exatidão das contas prestadas e dos valores recebidos e pagos, participou ativamente da campanha e assinou o documento”, destaca o juiz da 1ª Zona Eleitoral de São Paulo.

Além de Haddad e Chico Macena, são réus na ação na Justiça Eleitoral paulista o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, o ex-deputado estadual Francisco Carlos de Souza e Ronaldo Cândido de Jesus. Souza, conhecido como “Chico Gordo”, e Cândido eram donos das gráficas LWC e Cândido e Oliveira Gráfica Ltda, às quais o empreiteiro diz ter feito pagamentos.

Portal VEJA

➤OPINIÃO

A encruzilhada nacional

Eleições podem ser ensejo para a multiplicação de ilusões com o objetivo de seduzir o eleitor. Não se trata necessariamente de apelar para mentiras ou fraudes, embora isso também aconteça; o que tem marcado as campanhas é o reducionismo marqueteiro, que transforma grandes temas em slogans de fácil digestão. Ganha mais votos aquele cuja lábia convence o eleitor de que é capaz de trazer a felicidade pelo menor custo. O atual momento brasileiro, no entanto, mais do que qualquer outro da história recente, exige que o eleitor saiba exatamente o que lhe estará reservado no futuro próximo caso não sejam tomadas imediatamente medidas de austeridade para tirar o Brasil da beira do abismo. E isso, infelizmente, não está acontecendo - há, pelo contrário, um “enorme grau de incompreensão” da população sobre o “curso absolutamente insustentável” em que o País se encontra, como alertou recentemente o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan.

Tendo sido um dos principais responsáveis pela implantação do Plano Real, Malan tem autoridade para falar sobre o quão duro é um processo de estabilização de uma economia em frangalhos. Esse processo demanda, antes de tudo, a colaboração consciente do conjunto da sociedade. O Plano Real funcionou porque, ao contrário dos planos anteriores, não foi implantado de cima para baixo. Na prática, o Real foi uma espécie de convite para que os cidadãos imaginassem a economia sem inflação, com o restabelecimento do valor das coisas, sem a variação diária de preços. A população, aos poucos, aderiu, porque se sentiu como parte da solução. Mas o plano não foi bem-sucedido apenas por isso. Como preço a pagar pela sonhada estabilidade, os brasileiros foram chamados a apoiar uma dura série de medidas, que incluíram a renegociação das dívidas dos Estados, a venda de estatais, a reestruturação do sistema bancário e o ajuste fiscal. Com a notória exceção do PT, o Real foi amplamente aceito - o que significa que, se bem explicadas e transparentes, as reformas necessárias para reequilibrar as contas nacionais podem, sim, como sugere Malan, receber apoio dos eleitores.

Para que isso aconteça, contudo, é necessário preservar a memória recente do País, impedindo que a mistificação prevaleça sobre a realidade dos fatos. Por isso é muito oportuno que respeitados protagonistas desse passado, como o ex-ministro Malan, venham a público para ajudar a combater as desonestas tentativas de desmoralizar todo o hercúleo trabalho que resultou no fim da chaga da inflação e na estabilização da economia, condições sem as quais a festejada “justiça social” dos governos lulopetistas não teria sido possível.

O recém-lançado livro Uma Certa Ideia de Brasil: Entre Passado e Futuro, que reúne artigos de Malan publicados no Estado entre 2003 e 2018, tendo como eixo, portanto, a desastrosa passagem do PT pela Presidência, presta-se a essa imperiosa tarefa de denunciar o logro da propaganda petista - que trata o eleitor como passivo freguês do mercador de ilusões Lula da Silva - e de convidar os brasileiros a ter “consciência social do passado”.

Para Malan, o próximo presidente tem de ter “consciência do que foram os últimos 15 anos, porque (governar com essa herança) será o maior desafio de sua vida dada a situação do País”. Como lembrou o ex-ministro, a campanha eleitoral é a parte menos penosa dessa experiência, porque “disputar a eleição e eventualmente ganhá-la é uma coisa”, mas “governar um país da complexidade do Brasil é algo muito mais complicado” - especialmente quando o eleitor não é advertido previamente de que terá de fazer muitos sacrifícios.

“Estamos num ponto de inflexão, numa encruzilhada que é das mais importantes que tivemos na nossa história recente”, disse Malan ao Estado, dando adequado tom grave ao atual momento. Há quem acredite ser legítimo brincar com fogo, prometendo magicamente fazer o Brasil ser “feliz de novo”, e há quem considere desnecessárias ou não tão urgentes as reformas que se impõem. Como enfatiza o ex-ministro, saber como se chegou à situação atual é o primeiro e indispensável passo para evitar que esses charlatães triunfem neste momento tão crítico para o País.

Portal Estadão, em 28/08/2018