segunda-feira, 27 de agosto de 2018

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➤Organização criminosa

PGR denuncia Jefferson, Cristiane Brasil e mais 24


A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou nesta segunda-feira 27, a cúpula do PTB no âmbito da Operação Registro Espúrio, que investiga um esquema de corrupção na concessão de registros de sindicatos no Ministério do Trabalho. Foram denunciados, entre outros, o presidente nacional do partido, o ex-deputado Roberto Jefferson, o ex-ministro Helton Yomura e os deputados federais Cristiane Brasil (PTB-RJ), Jovair Arantes (PTB-GO), Nelson Marquezelli (PTB-SP), Paulinho da Força (SD-SP) e Wilson Filho (PTB-PB), o ex-deputado Ademir Camilo (MDB-MG) e os assessores Norberto Paulo de Oliveira Martins, Marcelo de Lima Cavalcanti e Paulo Roberto Ferrari.

Parlamentares e assessores formavam, segundo a PGR, o “núcleo político e sindical” do esquema. Além deles, a procuradora-geral também denunciou treze servidores do Ministério do Trabalho e mais dois lobistas, Verusca Peixoto e Silvio Assis. As acusações foram baseadas em organização criminosa, mas Raquel Dodge pediu novos inquéritos para que também sejam investigados por corrupção, tráfico de influência e lavagem de dinheiro.

As investigações começaram após VEJA revelar, em março deste ano, um esquema de arrecadação de propinas montado dentro do ministério. Utilizando como base a engrenagem de concessão de registros sindicais, a Secretaria de Relações do Trabalho, servidores indicados pelo PTB e pelo Solidariedade cobravam para acelerar e favorecer a tramitação de determinados pedidos em detrimento de outros.

“Os elementos probatórios reunidos no inquérito indicaram que representantes das entidades sindicais ingressam no esquema criminoso em razão da burocracia existente na Secretaria de Relações do Trabalho, que dificulta – e muitas vezes impede – a obtenção de registro àqueles que se recusam a ofertar a contrapartida ilícita que lhes era exigida”, destaca, em nota, a PGR.

O papel de cada político, segundo a PGR

Roberto Jefferson, ex-deputado (RJ) e presidente do PTB: “Atua no apadrinhamento, indicação e manutenção de pessoas em postos chaves na estrutura do órgão [Ministério do Trabalho]”
Cristiane Brasil, deputada federal (PTB-RJ): “Trabalhava para reforçar o núcleo administrativo, conduzindo processos fora da ordem cronológica e manipulando registros”

Wilson Filho e Jovair Arantes, deputados federais (PTB-PI e PTB-GO): “São acusados de indicar apadrinhados para cargos estratégicos, para que atuassem na defesa de seus interesses”

Nelson Marquezelli, deputado federal (PTB-SP): “Atuava por meio do seu assessor, Jonas Antunes Lima, que intercedia na concessão dos registros de entidades sindicais indicadas pelo parlamentar”

Ademir Camilo, ex-deputado federal (MDB-MG): “a acusação é de que ele agiu em defesa da União Geral dos Trabalhadores (UGT), utilizando o cargo de parlamentar e de liderança sindical para influenciar indevidamente a tramitação de processos de registro sindical de quase 20 entidades”.

Paulinho da Força, deputado federal (SP), presidente do Solidariedade: “O partido Solidariedade atuava no esquema também para beneficiar as entidades ligadas ao partido e à Força Sindical, central ligada ao deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força. A contrapartida também era a oferta de capital político ou filiação à Central Sindical presidida por Paulinho.”

Portal VEJA

➤Ricardo Noblat

A arte de enganar o eleitor

Eleitor ama ser enganado, e os políticos sabem disso. Depois fica furioso quando descobre que foi enganado – os políticos também sabem disso, mas não ligam desde que se elejam.

Fernando Collor era candidato a presidente em 1989 e acabara de sair de um comício no interior do Ceará onde usara um discurso em tudo semelhante ao que faz hoje Jair Bolsonaro.

Entrou no carro que o aguardava na companhia do seu aliado Tasso Jereissati (PSDB), governador do Estado, e começou a gargalhar do que dissera. Foi Jereissati que me contou à época.

Como é fácil enganar eleitor! Primeiro você diz um monte de coisas que pensa e que imagina que ele possa pensar. Se vir que não é bem assim, você nega o que disse e muda de assunto. Funciona.

Se ainda assim lhe cobrarem pelo que disse, não se preocupe. Responda que foi mal interpretado. Ou culpe a mídia por tirar do contexto algumas de suas frases. Costuma dar certo.

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, é um craque nisso e dá um passeio nos seus adversários, incluindo a mídia. Mais tosco do que Trump, Bolsonaro ainda tenta aprender. É um bom aluno.

Diga-se a favor, dos dois, que eles não são os únicos a procederem dessa maneira. Está para nascer um candidato que só defenda o que fato acredita, sem ligar para o que o eleitor pense a respeito

Talvez eu exagere. Lembro-me de um assim que conheci de perto: o jurista baiano Josaphat Marinho. Foi senador duas vezes, eleito por obra e graça de Antônio Carlos Magalhães.

Portal VEJA

➤OPINIÃO

O eleitor como freguês

É espantosa a facilidade com que vários candidatos à Presidência da República, à moda das eleições de antigamente, alimentam de forma descarada a ilusão de que ao eleitor basta votar em alguém que lhe resolva os problemas particulares imediatos para que tudo melhore e reine a felicidade no País.

Diante dos imensos desafios que se apresentam à Nação, nesta que se afigura a mais importante eleição presidencial dos últimos tempos, é lamentável que alguns dos principais postulantes recorram ao populismo desbragado e rasteiro, tratando o eleitor como freguês de quitanda, que se satisfaz com a bisnaga de sempre, em vez de convidarem esse mesmo eleitor a refletir sobre seu papel, como cidadão, na reconstrução do Brasil.

Para que isso acontecesse, teria de estar em vigor no País uma outra cultura política, diferente desta em que parecem ganhar pontos os candidatos que se apresentam como “antissistema”. Em sua radicalização, que até este momento tem seduzido parcela considerável do eleitorado, à esquerda e à direita, esses candidatos procuram deslegitimar as instituições democráticas, vistas como inimigas – especialmente o Judiciário, o Congresso e a imprensa. Os eleitores estão sendo incitados não a apoiar soluções racionais para o País nem a aceitar sua parcela de responsabilidade nessa empreitada, e sim a dedicar seus melhores esforços para desmoralizar os adversários, repudiar o establishment e eleger um “salvador da Pátria”.

Essa radicalização torna muito mais difícil construir o necessário consenso para que, depois das eleições, seja qual for o resultado, o País avance. Mais do que isso: ao invés de deixarem claro que o futuro imediato exigirá sacrifícios de todos e participação ativa dos cidadãos na vida política, alguns dos candidatos mais bem posicionados nas pesquisas estimulam os eleitores a imaginar que os recursos do Estado são e continuarão a ser infinitos, distribuídos aqui e ali na forma de “direitos sociais” e de “estímulo ao crescimento”.

No plano imediato, que diz respeito à penúria das contas públicas, quase nenhum candidato competitivo se comprometeu nem com uma ampla reforma da Previdência nem com a manutenção do teto dos gastos. Das duas, uma: ou esses candidatos imaginam que não há necessidade nenhuma de austeridade, ou, o que é mais provável, sabem que o País está quebrado, mas, mesmo assim, decidiram deliberadamente engambelar o eleitor, mercadejando ilusões.

Já no longo prazo, não apareceu, até agora, nenhuma proposta séria para valorizar a educação, único caminho sólido para formar cidadãos conscientes de seu papel na construção de um país melhor. Como salientou o editorial A educação e as eleições, publicado no dia 24 neste espaço, os candidatos “esquecem-se de que, se o próximo governo não oferecer educação com qualidade a milhões de crianças e jovens, o Brasil não terá capital humano para adotar novas tecnologias, modernizar a economia e retomar o crescimento”. Acrescente-se que, sem educação adequada, se inviabiliza o exercício da cidadania – cujo déficit talvez seja hoje o que mais prejudique o País.

A pobreza de ideias da campanha presidencial reflete a incapacidade dos políticos de tratar o eleitor como alguém apto a assumir responsabilidades. Apostam na cômoda promessa de um Estado que tudo oferece – sem ter condições de entregar. Não se fala a sério em alterar o arcabouço constitucional que engessou o Orçamento, hoje vinculado quase totalmente a despesas com benefícios sociais e salários de servidores públicos, deixando pouquíssima margem para os investimentos necessários ao desenvolvimento. Assim, empresários continuarão a esperar favores do governo para manter intacto o capitalismo sem riscos, e cidadãos comuns continuarão a esperar caraminguás estatais, dispensando-se do difícil encargo de pensar em sua vida financeira no longo prazo.

Mas os eleitores hoje enamorados das promessas impossíveis de candidatos que os tratam como incapazes devem saber que, passada a eleição, serão chamados ao sacrifício, seja na forma de duros ajustes na economia, seja em razão de uma mais do que previsível crise, causada por outro governo irresponsável.

Portal do Estadão, em 27/08/2018