sexta-feira, 24 de agosto de 2018

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SEMANA DE MÚSICAS DE FILMES

REEN WOODS
AQUARIUS 
FILME: HAIR



➤OPINIÃO

Bons sinais para preços e juros

O novo presidente encontrará uma inflação ainda bem-comportada, próxima da meta, se o quadro eleitoral evoluir sem sustos muito grandes e, é claro, se a turbulência internacional continuar suportável. Do lado dos preços, será esse o quadro mais favorável à reativação dos negócios neste semestre. Se essas condições se confirmarem, o Banco Central (BC) poderá manter em 6,50%, até o fim do ano, a taxa básica de juros, a Selic. Será menor, portanto, o risco de novos entraves à recuperação da economia até a passagem da faixa presidencial ao sucessor do presidente Michel Temer. A prévia da inflação de agosto, divulgada ontem, permite manter essa boa expectativa. Ficou em 0,13% a alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15). Em julho, o aumento havia sido de 0,64%. A taxa de agosto foi a menor para o mês em oito anos. Em 2010, houve um recuo de 0,05%.

Com a acomodação dos preços em agosto, a elevação no ano bateu em 3,14%. Em 12 meses a taxa acumulada ficou em 4,30%, pouco abaixo da contabilizada nos 12 meses terminados em julho, de 4,53%. Esgotados os primeiros impactos da paralisação do transporte rodoviário, os preços, principalmente dos alimentos, voltaram à normalidade em junho e em parte de julho.

Com essa correção se reforça a expectativa de uma taxa próxima de 4,30% no encerramento do ano, tanto para o IPCA-15 como para o IPCA. Os dados para a prévia são coletados entre o meio de cada mês e o meio do mês seguinte. Esse levantamento sinaliza a tendência do índice oficial, válido para o mês fechado.

Sem pressões inflacionárias mais importantes, o BC poderá manter os juros básicos sem alteração até o fim do ano, confirmando as projeções correntes no mercado financeiro. Essas projeções apontam taxa de 6,50% no fim de 2018, com elevação gradual para 8% em 2019. Isso dependerá também da evolução das condições internacionais e de seus impactos na formação dos preços no Brasil. O quadro externo, sensivelmente instável desde o ano passado, tem refletido principalmente dois fatores. Um deles é a tensão comercial entre Estados Unidos, China e, em menor escala, outros parceiros comerciais. O outro é o aperto gradual das condições monetárias no mercado americano, com impactos em todo o sistema financeiro internacional.

Esses fatores têm afetado os mercados cambiais, com forte valorização do dólar em relação à maioria das outras moedas, especialmente as de economias emergentes. O real tem sido uma das moedas mais pressionadas por esses movimentos, mas sem os efeitos dramáticos observados em países com balanços de pagamentos mais frágeis, como Argentina e Turquia, exemplos mais evidentes até agora.

Reservas cambiais próximas de US$ 380 bilhões têm garantido alguma segurança. Mas o BC, de acordo com seus dirigentes, precisa de algo mais que uma forte pressão cambial para elevar os juros básicos. A taxa será aumentada, segundo eles, só se a desvalorização do real produzir um forte impacto inflacionário.

Os condutores da política monetária continuam seguindo cada movimento dos mercados externos. O risco de problemas decorrentes do câmbio parece hoje mais limitado que até há poucos dias.

Os juros americanos devem continuar subindo, mas há sinais de muito comedimento na execução dessa política pelo banco central dos Estados Unidos. Os sinais estão na ata da última reunião de política monetária. Se essa interpretação for correta, os juros serão elevados só mais uma vez neste ano, embora alguns analistas ainda admitam a hipótese de mais dois aumentos.

Quanto maior a moderação nesse aperto, mais espaço terá o BC brasileiro para retardar uma nova elevação da taxa Selic. Do lado da Europa, o risco de um aperto sensível continuará muito baixo por um longo período, segundo as últimas indicações do Banco Central Europeu (BCE).

Feito o balanço, as maiores ameaças à estabilidade de preços e de juros no Brasil são mesmo internas. A pouco mais de um mês da eleição, grandes sustos ainda podem ocorrer.

Portal Estadão, em 24/08/2018