Larga o osso, Lula!
Eliane Cantanhêde
Fecha-se o tabuleiro presidencial hoje, com aquela peça disforme e
mal colocada que segura o jogo e imobiliza o próprio lado: Lula, preso há 100
dias, sem conseguir dar o sinal verde para Fernando
Haddad parar de fingir que não é candidato e para Manuela
Dávila parar de fingir que é.
Com a avalanche de
convenções no fim de semana, vai se fechando a escolha dos vices com dois focos
claros, resultados não de amor ou de saudável afinidade ideológica, mas do puro
pragmatismo. Daí a preferência por mulheres e/ou nomes do Rio Grande do Sul.
A síntese disso é a senadora gaúcha Ana Amélia, que entra na chapa do tucano Geraldo Alckmin não
apenas como três em um, mas seis em um. É mulher, do PP, do Sul, da área de
comunicação, assumidamente de direita e crítica contundente das maracutaias na
política.
Ana Amélia não está
aí para só embelezar as fotos do PSDB, mas para conquistar os 80% do eleitorado feminino ainda
indecisos ou dispostos a anular voto e para tentar frear o ímpeto do PP gaúcho
para Jair Bolsonaro e do PP do Piauí para o PT. Além disso,
ela tem uma missão específica: resgatar os 4% de votos surrupiados do PSDB no
Sul pelo paranaense Alvaro Dias, ex-tucano hoje no Podemos.
E ela também cumpre
funções mais subjetivas. Alckmin tem de se firmar à direita, para disputar com
Bolsonaro a vaga de principal contraponto ao PT. Ana Amélia, clara e
contundente, tem ação e discurso que calam fundo no agronegócio e no eleitorado
irritado com os políticos e conservador nos costumes. Ou seja, nos bolsões do
Bolsonaro (com perdão do trocadilho).
Assim como ela, são ou
foram consideradas para vice, de olho nas mulheres, sempre desconfiadas: Janaína
Paschoal, a advogada e professora histriônica, na chapa de
Bolsonaro, e Manuela d’ Á vila, a jovem e aguerrida “candidata” do PCdoB, que
espera sentada o anúncio para ser vice de Lula, ops!, do PT.
Manuela é outra do Rio
Grande do Sul, que foi governado pelos petistas de raiz Olívio Dutra e Tarso
Genro e onde o PT mantém núcleo forte, mas fraco eleitoralmente. Também
gaúcho e ex-governador, Germano Rigotto é opção de vice para Henrique Meirelles.
Atualmente, ele é.... o que mesmo? Bem, Rigotto anda sumido, mas resta a
Meirelles chapa puro sangue (MDB-MDB) e quem quer ter mandato em 2019 pula
fora.
Se o grande MDB só atraiu
o pequeno PHS, quais são os aliados do PDT e as opções de vice de Ciro Gomes? Sufocado pela aliança do Centrão com Alckmin e o ataque frontal do PT,
que garantiu a neutralidade do PSB, Ciro tenta colher os dissidentes de um lado
e do outro, enquanto o PT parte para a terceira etapa de aniquilar Ciro: a
investida final para reunir as esquerdas. Viva-se – no caso de Ciro,
sobreviva-se – com um barulho desses. Na GloboNews, Ciro se declarou “um
cabra marcado para morrer”.
E, no Estado, Marta Suplicy ponderou
que Ciro pode ser o melhor candidato, mas “talvez não queira ser presidente,
porque ele se sabota. Como psicanalista, vejo isso claramente”.
Alvaro Dias compôs chapa
insossa com o ex-BNDES Paulo Rabello de Castro e Marina fugiu ao mero pragmatismo de seus adversários. O médico
e ex-deputado Eduardo Jorge é do PV, que tem tudo a ver com a Rede
Sustentabilidade – ao menos no nome. Se há cálculo na escolha, é que ele fez
carreira em São Paulo, onde reluzem 33 milhões de eleitores.
Agora, só faltam duas
coisas: Lula largar o osso e os candidatos convencerem quem mais importa, Sua
Excelência, o eleitor, de que o vice é para continuar sendo só vice até o fim,
sem impeachment. Que os céus nos protejam!
Portal Estadão, em
05/08/2018