Todos contra um: Favreto
Eliane Cantanhêde
Que o PT é bom de
marketing não há a mínima dúvida, mas insistir na versão de que o partido e o
ex-presidente Lula foram os grandes vitoriosos, enquanto o TRF-4 e o juiz
Sérgio Moro foram os grandes derrotados na lambança de domingo já é demais. O
pior é que tem quem acredite e passe adiante.
Para além do marketing,
existe o fato, ou a realidade: quem ficou totalmente isolado durante todas as
longas horas do imbróglio foi justamente quem o gerou, o desembargador Rogério
Favreto, filiado ao PT por 20 anos, auxiliar dos presidentes Lula e Dilma
Rousseff no Planalto e em ministérios e agora, como plantonista do TRF-4, autor
do bombástico habeas corpus para soltar Lula.
Senão, vejamos. O juiz
Sérgio Moro o declarou “absolutamente incompetente” para derrubar uma decisão
do TRF-4, ratificada, nada mais nada menos, pela mais alta Corte do País, o
Supremo Tribunal Federal. A Polícia Federal, perplexa, como todo o meio
jurídico e o próprio Brasil, alegou que não é obrigada a cumprir uma decisão ilegal
e em meio a um evidente conflito de competência.
Dentro do próprio TRF-4,
ninguém abriu a boca ou tomou qualquer atitude para apoiar, concordar ou
ratificar a posição do plantonista de fim de semana. Ao contrário, o
desembargador que é relator da Lava Jato, João Pedro Gebran Neto, suspendeu o
habeas corpus assinado por ele. E quem bateu o martelo foi o próprio presidente
do tribunal, Carlos Eduardo Thompson Flores, contra o HC de Favreto e a favor
da suspensão decidida por Gebran.
Para fechar o cerco – e a
condenação ao voluntarismo de Favreto – a própria presidente do Supremo, Cármen
Lúcia, distribuiu nota em tom de advertência, pedindo Justiça “sem quebra de
hierarquia”. Uma alusão direta à audácia do desembargador ao contrariar a 8.ª
Turma do TRF-4 e, incrível!, o STF. Logo, foram todos contra um – o que se
aproveitou de um plantão para botar fogo no circo.
E Moro? Há quem reclame
porque ele estava de férias e não tinha nada que se meter na decisão de
Favreto, representante de uma instância superior. Mas há muita gente que vai em
sua defesa, de procuradores a atuais e ex-ministros do próprio Supremo,
alegando que juízes não deixam de ser juízes porque estão de férias e ele tem
pleno direito de se manifestar 24 horas por dia, esteja onde estiver.
Ok, essa divergência
reflete o “ame-o ou deixe-o” que persegue Sérgio Moro desde que ele virou a
principal cara da Lava Jato, mas não tem nada de nova, muito menos o transforma
no principal derrotado de um vexame que extrapola o TRF-4 e agrava ainda mais o
momento conturbado, tenso e beligerante da Justiça brasileira, a começar da
mais alta Corte do País.
A guerra agora está no CNJ
e logo vai parar no STJ. Um punhado de advogados entrou contra Moro no CNJ, mas
promotores e procuradores entraram contra Favreto. É um jogo de perde-perde,
enquanto Lula continua preso, seus advogados juram que não tiveram nada a ver
com aquele habeas corpus e nesta segunda-feira, 9, o PT novamente decidiu
não decidir sobre a candidatura presidencial de outubro. Logo, o que Lula e o PT
ganharam? Holofotes? Visibilidade? O velho “falem mal, mas falem de mim?”
Quanto ao TRF-4, realmente
ficou dividido e correndo atrás do prejuízo causado por Rogério Favreto, mas
nada que se compare ao desgaste acumulado, por exemplo, pelo próprio Supremo. E
pode piorar.
O presidente Temer vai
para o exterior duas vezes em julho, os presidentes da Câmara e do Senado não
podem substituí-lo, pois serão candidatos e a Presidência vai sobrar para
Cármen Lúcia. E quem assume o Supremo? Dias Toffoli. Vamos combinar que Toffoli
no STF e Favreto no TRF-4 podem dar o que falar...
Portal Estadão, em
10/07/2018