Guerra de foice
Eliane Cantanhêde
Acaba a Copa para
nós e começa de fato a eleição, ainda cercada de interrogações, mas com o tempo
correndo cada vez mais rápido. Até 15 de agosto, prazo final para o registro de
candidaturas, as respostas mais importantes terão que ser dadas, queiram ou não
os partidos. É quando ficará claro quem entra, quem sai, quem está com quem.
Cresce a pressão para que
o ex-presidente Lula faça uma “Carta à Nação” a ser lida na convenção do PT, no
dia 28, para sair de campo espetacularmente, lançar Fernando Haddad e articular
a candidatura dele a partir da cela em Curitiba – enquanto ainda estiver na
cela em Curitiba.
Essa carta, com a renúncia
à candidatura, serviria, ou servirá, como sinal verde para o Supremo dar o
passo seguinte: livrar Lula da prisão. Em resumo, Lula abdica de ser candidato
em troca de conquistar a liberdade. Uma complexa negociação, com Dias Toffoli
afirmando-se não só como o próximo presidente de fato do STF, mas como o mais
audacioso entre os onze ministros.
Fora da prisão e da chapa,
Lula apresenta um candidato que mantém o PT e as esquerdas unidas, oferece
enfim um nome ao Nordeste, que vota em quem seu mestre Lula mandar – e atrai
dois tipos essenciais de eleitores: petistas decepcionados com o partido, mas
sem alternativa, e também eleitores de outras siglas, igualmente desanimados
com os nomes já colocados.
Do lado oposto, na raia da
direita, Jair Bolsonaro repete Collor em 1989 e Trump agora nos EUA: a mídia e
os analistas não conseguem acreditar que ele está consolidado para o segundo
turno, mas ele vai vencendo resistências. Aplaudido na CNI? Sem entender de
economia e sem ter administrado coisa nenhuma? Pois é. Collor, o marajá número
um, venceu com o marketing de “caçador de marajás”.
Bolsonaro desdenha de
alianças e partidos e cobre preventivamente a falta de tempo na TV com as redes
sociais, enquanto seus principais concorrentes fazem o oposto: desdenham a
internet e mergulham em cafés, almoços, jantares e reuniões em busca de
alianças que lhes deem minutos de TV, palanques e condições futuras de
governabilidade.
No foco está o tucano
Geraldo Alckmin, que, pelo currículo ou pelo partido (que vence ou disputa o
segundo turno desde 1994), é, ou seria, o maior beneficiário de uma união ao
centro. Mas o aliado e até afilhado João Doria lhe fez o imenso favor de criar,
antes do início da eleição, a sensação de que ele “não tem chance”. A cada
pesquisa, a cada nome alternativo, aumenta o medo dos aliados naturais do PSDB,
a começar do DEM. Os partidos querem que Alckmin cresça nas pesquisas para se
definir. Alckmin quer que eles se definam para poder crescer nas pesquisas.
O futuro de Ciro Gomes
está atrelado ao PT, desde que ele cismou de se colocar como opção de esquerda,
mas fez um movimento esquizofrênico: disputava o PT, enquanto soltava cobras e
lagartos contra o partido e contra Lula. Agora, disputa o DEM, que pode ser
tudo, menos de esquerda. “O que nós temos em comum com o Ciro? Nada!”, resume
José Carlos Aleluia (DEM-BA).
Marina Silva é o voto
confortável, de quem valoriza ética, biografia, simbologia, mas isso nunca será
suficiente para levar uma candidatura ao segundo turno, muito menos para
empurrá-la rampa acima. Mais uma vez, Marina parece candidata a válvula de
escape para aqueles que não encontrarem uma opção entre os que são “para
valer”.
É assim que a eleição mais
pulverizada desde 1989 vai caminhando, trôpega, surpreendente e, de certa
forma, amedrontadora. Mas, com o fim da Copa e a chegada, já, já, de agosto,
tudo vai começar a afunilar. E a exigir que você, eleitor, eleitora, pare de
resmungar e passe a fazer o mais difícil: analisar e decidir.
Portal Estadão/08/07/2018