Os juízes de araque tramam
a libertação de Lula
A absolvição de Gleisi
Hoffmann pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal pode ter sido o ensaio
derradeiro do elenco que prepara para este 26 de junho o ato mais audacioso da
interminável ópera dos infames. Nesta terça-feira, cinco ministros acharam insuficientes
as incontáveis provas que afogaram no pântano do Petrolão a presidente do PT, o
maridão e ex-ministro Paulo Bernardo e um comparsa. Quem faz isso pode fazer de
conta que Lula é mesmo a alma viva mais pura do planeta. E livrar da cadeia em
Curitiba o ex-presidente presidiário.
Se vissem as coisas como
as coisas são, os ministros da defesa de bandidos juramentados teriam enxergado
em Gleisi o prontuário ambulante rebatizado de Amante pelo
Departamento de Propinas da Odebrecht. A opção pela miopia malandra levou a
bancada dos libertadores de delinquentes a enxergar numa atropeladora do Código
Penal a menina que, segundo Roberto Requião, queria ser freira para ajudar os
pobres. Essa espécie de miopia não é uma disfunção visual. É decorrência de fraturas
no caráter.
Se Lula for absolvido no
dia 26, a Segunda Turma deixará de ser um tribunal para transformar-se no
departamento jurídico do grande Clube dos Cafajestes. Caso se consume essa
afronta ao país que pensa e presta, os juízes de araque vão descobrir que podem
muito, mas não podem tudo. Mesmo num Brasil infestado de vigaristas verbosos,
ainda existem juízes de verdade. Existem também milhões de cidadãos honrados,
todos decididos a apressar o sepultamento da canalhice hegemônica.
Publicado no portal da
Revista VEJA em 21/06/2018