segunda-feira, 11 de junho de 2018

➤Estimulada e Espontânea

A real força de Lula nas pesquisas

Na pesquisa do Datafolha de domingo, 10, Lula aparece com 30% das intenções de voto e segue na liderança da disputa, embora nem deva participar das eleições. Mas, ainda que se imagine que ele possa concorrer, convém analisar os dados com cautela, para não sobrevalorizar sua força eleitoral. É preciso levar em conta que Lula alcança os 30% na pesquisa estimulada, na qual os nomes dos candidatos são apresentados por cartão aos entrevistados.

Na espontânea, na qual os eleitores indicam suas preferências sem ver a lista de concorrentes, considerada a mais realista por muitos analistas, Lula tem apenas 10%. Para chegar aos 30% da estimulada, teria de amealhar quase a metade dos indecisos, que ainda somam 46% do eleitorado. Com sua prisão e todas as denúncias de corrupção de que é alvo, isso parece pouco provável. Se fosse mesmo apoiar Lula, boa parte desse pessoal já teria declarado isso de forma voluntária agora, pois já o conhece o bastante para definir seu voto. É certo que há um grupo que o seguirá em qualquer circunstância, mas é justamente o que já está contabilizado nos 10% da pesquisa espontânea. / José Fucs

Agência Estado

➤Ricardo Noblat

Lula “Jim Jones”

Antonio Lucena/VEJA/Reprodução
No dia seguinte à sua eleição para presidente da República em 2002, reunido em um hotel da capital paulista com os principais membros de sua campanha, Lula foi logo advertindo:

– Nesta sala, as únicas pessoas votadas e eleitas fomos eu e o José Alencar.

Em seguida, comentou que haveria lugar para todos eles no seu governo. De fato, estava preocupado com a disputa de cargos. E queria reforçar a sua autoridade e prestigiar Alencar, seu vice. Condenado a 12 anos e um mês por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, impedido de ser candidato, Lula não tem mais cargos para oferecer a ninguém, mas tem votos.

E é por tê-los, como mostram todas as pesquisas, que subjuga o PT à sua exclusiva vontade de seguir dizendo que apesar da lei, ele será candidato em outubro, e só deixará de ser quando quiser.

Parte dos seus acólitos acredita que Lula é um sábio, quase não erra. E que ao se apresentar como candidato, só se fortalece para na hora certa abençoar outro nome e transferir-lhe seus votos.

Outra parte dos acólitos acha que Lula erra quando adia a escolha de outro nome, e que isso poderá prejudicar o desempenho do partido. Mas não tem coragem para opor-se a ele.
A mais recente pesquisa Datafolha foi celebrada pelo PT como uma prova a mais da força eleitoral de Lula, de como ele continua vivo na memória coletiva e de como tem razão em se dizer candidato.

A pesquisa, porém, trouxe uma informação que o PT preferiu ignorar. Há um ano, quando perguntados em quem pretenderiam votar para presidente, 15% dos eleitores diziam o nome de Lula.

Agora, só 10% dizem a mesma coisa. Lula perdeu, portanto, 1/3 da intenção de voto espontânea. Certamente porque os eleitores, aos poucos, estão se convencendo de que ele não será candidato.

Quanto mais o PT demorar a indicar um candidato à vaga de Temer, mais eleitores de Lula se sentirão à vontade para fazer suas escolhas pessoais sem esperar uma ordem de cima. Elementar.

O PT parece estar para Lula como milhares de pessoas nos anos 70 do século passado estiveram para James Warren “Jim” Jones, fundador e líder nos Estados Unidos do culto Templo dos Povos.

Em novembro de 1978, na Guiana inglesa, pouco mais de 900 fiéis de Jim Jones, estimulados por ele, espontaneamente tomaram veneno e morreram. Foi o maior caso de suicídio coletivo até hoje.

Em uma fita gravada na ocasião, ouve-se a voz do pastor dizendo: “Cometemos um ato de suicídio revolucionário para protestar contra as condições de um mundo desumano”.

Portal VEJA

➤Notas

BR 18

As eleições no Estado da Lava Jato
O cenário paranaense para as eleições de outubro não passa imune à Operação Lava Jato, iniciada no Estado. Como relata o Estadão, três dos principais pré-candidatos ao governo nas eleições de outubro já foram pelo menos citados nas investigações – e um deles é alvo de inquérito.
Osmar Dias (PDT), irmão do pré-candidato à Presidência Alvaro Dias (Podemos), a atual governadora, Cida Borghetti (PP), e Ratinho Júnior (PSD) são citados em depoimentos de executivos da Odebrecht. Dias é alvo de inquérito da Lava Jato na Justiça Federal do DF.


Aliados de Temer teorizam sobre 3ª denúncia
Se o presidente Michel Temer for alvo de uma terceira denúncia criminal antes do fim do mandato, partidos governistas preveem cenários diferentes. De acordo com o Painel, da Folha, líderes do Centrão defendem que não faz sentido afastá-lo com tão pouco tempo restante.
Por outro lado, há siglas aliadas que não acreditam na sobrevivência de Temer no cargo se a denúncia chegar ao Congresso, principalmente pela reprovação ao governo, que só aumenta.


Indecisos ainda são quase 50% e devem definir eleição
As análises sobre a pesquisa divulgada pelo Datafolha no domingo, 10, deixaram praticamente de lado uma questão que pode alterar de forma significativa o quadro eleitoral nos próximos meses: o índice de indecisos continua extremamente elevado.
Segundo a pesquisa espontânea do Datafolha, na qual os eleitores indicam suas preferências sem ver a lista dos candidatos, a fatia dos indecisos ainda alcança 46% do total, sem contar, é claro, os 23% que pretendem votar em branco e nulo. Ainda é um patamar muito alto, que recomenda toda a cautela na hora de avaliar os dados apurados agora. Muita água ainda deve rolar até o dia da eleição.


Eleições sem proteção de dados
Sem tempo hábil para vigorar já em outubro, a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (PL 4060/2012) não vai proteger as informações dos brasileiros na internet este ano. Reportagem do Estadão constata que os eleitores estarão vulneráveis a suspeitas de interferência nos resultados do pleito, como ocorreu durante o escândalo da Cambridge Analytica na eleição de Donald Trump nos Estados Unidos.
Especialistas explicam que a falta de regulamentação abre espaço para disseminação de notícias falsas, coleta e venda de informações pessoais de internautas e propaganda dirigida.


Lula mingua mesmo no Nordeste
O apoio espontâneo a Lula mingua mesmo nos redutos que lhe são mais fiéis. Analisando os recortes por segmentos da pesquisa Datafolha, o Painel observa que as menções espontâneas ao nome do petista só são maiores que ao de Jair Bolsonaro no Nordeste e entre os mais pobres –e que mesmo nessas faixas elas reduziram desde abril.


Por que Alckmin derrapa em SP?
Aliados de Geraldo Alckmin decupam as últimas pesquisas –que variam entre si, mas são todas negativas para o tucano– para tentar entender as razões da sua dificuldade em decolar.
A maior preocupação, mostra reportagem de O Globo, é entender o fraco desempenho de Alckmin em São Paulo: mesmo entre aqueles que dizem aprovar sua gestão, apenas um terço declara voto nele.


‘Hegemonia moral’ de Ciro pega mal
Os articuladores da campanha de Ciro Gomes tentam contornar o estrago de mais uma de suas declarações bombásticas. Em entrevista na Argentina, na última sexta-feira, ele disse que poderia até ter o apoio do DEM e do PP, desde que feche antes com PSB e PC do B para garantir a “hegemonia moral e intelectual” da chapa.
O Estadão informa que dirigentes não gostaram de as duas siglas serem vistas como possíveis “apêndices” numa aliança.


Marina é opção no ‘polo democrático’
Signatários do manifesto Por um Polo Democrático e Reformista, manifesto encabeçado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e que prega a união de pré-candidatos de centro, dizem que Marina Silva (Rede) pode ser uma opção nesse campo, e não apenas Geraldo Alckmin. O terceiro nome citado é o do senador Alvaro Dias (Podemos).
O Estadão ouviu de lideranças como o presidente do PPS, Roberto Freire, que Marina pode ser uma alternativa caso Geraldo Alckmin (PSDB) não cresça. Os tucanos, no entanto, não admitem abrir mão de uma candidatura.


‘A espontânea não mente’
Para o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, “o dado mais preciso dessa pesquisa Datafolha foi o derretimento de Lula na espontânea”, disse se referindo ao fato de Jai Bolsonaro ter ultrapassado o ex-presidente nesse item.
“Esse é o resultado mais certeiro. O resto é apenas uma tentativa de se passar a imagem que sem Lula não há outros candidatos etc. A espontânea não mente”, afirma.

Publicado no portal do Jornal Estado de São Paulo em 11/06/2018

➤Declaração polêmica

Ciro tenta conter mal-estar com DEM e PP


O pré-candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, tenta contornar o mal-estar causado por declarações dadas por ele de que uma ampla aliança em torno de seu nome pode até incluir o DEM e o PP, partidos de centro-direita, desde que antes seja fechado acordo com o PSB e o PCdoB para garantir a "hegemonia moral e intelectual" da chapa. O comentário de Ciro foi feito na sexta-feira, em Buenos Aires - onde ele foi recebido pela vice-presidente da Argentina, Gabriela Michetti -, e provocou curto-circuito político.

O clima esquentou porque, com a esperada desistência do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de concorrer ao Palácio do Planalto, o DEM e o PP estão justamente inclinados a apoiar a candidatura de Ciro. A cúpula dos dois partidos, porém, não escondeu a irritação com a frase do ex-ministro.

Nos bastidores, a leitura foi a de que, com a ressalva feita por ele, ficou parecendo que essas siglas seriam um apêndice de segunda linha em uma eventual dobradinha. Para conter o princípio de crise, o ex-governador do Ceará Cid Gomes - irmão de Ciro - logo telefonou para dirigentes do DEM e do PP e procurou jogar água na fervura, sob o argumento de que tudo não passou de um mal-entendido. Cid desembarcará primeiro em Brasília. Nos próximos dias, terá conversas reservadas com políticos das duas legendas.

A reunião de Ciro com eles será logo depois. "Nesse primeiro momento, minha prioridade são o PSB e o PCdoB. Se esta aliança se faz, posso avançar em partidos do centro à direita, porque a hegemonia moral e intelectual do rumo estará afirmada. Poderia incluir o PP e o DEM, desde que eu tenha o PSB e o PCdoB", afirmou Ciro em Buenos Aires, na sexta-feira, quando questionado por jornalistas sobre a possibilidade de coligação com o DEM de Rodrigo Maia e o PP do senador Ciro Nogueira (PI). Com porcentuais que variam de 1% a 2% nas pesquisas de intenção de voto, Maia já disse a interlocutores que vai desistir de sua candidatura ao Planalto e disputar novo mandato.

Agência Estado

➤Imposto Sindical

Mais representativos


Não seria mesmo pequena a resistência à essencial conversão do imposto sindical em contribuição espontânea, feita pela reforma trabalhista aprovada em novembro, um dos pontos altos do governo Temer. O fato de o imposto arrecadar anualmente R$ 3,5 bilhões, para que os sindicatos gastassem sem precisar prestar contas, sempre foi um motivo forte para a defesa deste “direito do trabalhador”. Na verdade, um dinheiro ao dispor dos dirigentes, que costumavam se perpetuar nos cargos. Há até esquemas de famílias que controlam sindicatos.

O argumento a favor da contribuição voluntária é o mesmo que Lula, ainda na militância metalúrgica, usava para defender idêntica proposta: a contribuição força os sindicatos a de fato trabalharem para as respectivas categorias, e assim aumenta de forma muito saudável sua representatividade. Por uma simples razão: é assim ou o sindicato fecha.

O imposto, ao contrário, estimulou esquemas para a manutenção do poder nos sindicatos a qualquer custo, sem maiores preocupações com o atendimento das demandas das categorias. Afinal, o dinheiro chegaria de qualquer forma. E assim, atingiu-se o ponto atual de haver cerca de 15 mil sindicatos. Com o imposto, eles se multiplicaram, por serem virtuais “casas da moeda”, capazes de “fabricar" dinheiro. Claro, dinheiro público, arrecadado pelo Estado.

Ao chegar ao poder em Brasília, Lula recolheu bandeiras como a do fim do imposto e a da unicidade (um sindicato por categoria em cada região, uma reserva de mercado). Pois precisava atrair o máximo de forças políticas para a base do seu governo no Congresso.

Neste contexto, o Ministério do Trabalho se converteu em cobiçada moeda de troca para o lulopetismo angariar apoio. Foi assim que o PTB de Roberto Jefferson e o PDT de Carlos Lupi terminaram atraídos para a base parlamentar de Lula e Dilma.

Numa relação de causa e efeito, a entrada de PDT e PTB na pasta gerou escândalos de corrupção. Há pouco, com o PTB à frente do Ministério, desvendou-se que já houve cobrança de propina para a cessão de alvarás de sindicatos.

Entende-se, por que, com o imposto sindical, não era preciso fazer força para arrecadar dinheiro nas categorias. O gravame, na verdade, é uma chave mestra para abrir os cofres públicos sem dificuldades. Basta o alvará. Daí a cobrança e o pagamento de propina.

O fim do imposto sindical — também para o patronato — e o consequente impulso para que sindicalistas trabalhem de fato para as categorias se complementam com outro importante avanço da reforma, que é o forte estímulo a que sindicatos de trabalhadores e patronais negociem, inclusive dispositivos da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), exceto alguns itens pétreos (férias, salário mínimo etc.). Trata-se da regra, há tempos reivindicada, do “negociado valer sobre o legislado”. Assim, quebra-se a rigidez da esclerosada CLT. Legitimados pelo apoio real das categorias, os sindicatos se tornam fortes para negociar e assim exercitar o espaço que a reforma lhes abriu.

Publicado no portal do Jornal O Globo em 11/06/2018