Isolados e sob ataque
Eliane Cantanhêde
A renúncia de Pedro Parente tem lá seus motivos, mas faltou algo essencial: senso de oportunidade. Ele sai a poucos meses das eleições e na pior hora não só para o governo como para ele próprio. Em vez de levar para casa o troféu de quem reconquistou o primeiro lugar do pódio para a Petrobrás, leva a queda espetacular nas Bolsas e o recuo à quarta colocação nacional.
Excelente gestor, um dos três pilares tucanos na economia
de Michel Temer e lustroso integrante do “dream team” original do governo,
Parente renunciou justamente no primeiro dia do fim da greve dos caminhoneiros,
atrapalhando a comemoração e o descanso de fim de semana de uma equipe e um
País exaustos. E foi assim que ele jogou luzes sobre um outro lado da moeda: os
homens públicos que, isolados e sob feroz ataque, mantêm o barco navegando.
Nesses tempos de raiva e indignação contra tudo e contra
todos, há que se reconhecer o esforço quase heroico dos homens de Estado que
estão trabalhando 20 horas por dia, dando a cara a tapa na TV e enfrentando um
rombo crescente no casco fiscal para levar o barco até 31 de dezembro, sob o
lema de que o Brasil não pode parar.
Além de Eliseu Padilha (gestor) e Moreira Franco
(formulador), do MDB e da entourage de Temer, há uma tripulação que sacoleja,
mas não arreda pé da sua missão, como Raul Jungmann, Ilan Goldfajn, Eduardo
Guardia, Sergio Etchegoyen, Eduardo Villas Bôas, Silva e Luna, Ademir Sobrinho
e uma única mulher, Grace Mendonça.
O governo é o mais impopular da história, o presidente
Michel Temer continua sob pressão da Justiça, há milhões de desempregados, o
cobertor dos recursos é curtíssimo, o Congresso é rebelde, e a mídia,
implacável. E lá estão eles, por motivações e interesses distintos, mas com a
disposição inarredável de não pular do barco e deixar o País afundar de vez.
Fora da Lava Jato, destaca-se Jungmann, que era deputado
do PPS, ex-partidão, tomou posse na Defesa e estava pronto para disputar a
reeleição por Pernambuco quando deu meia volta para assumir a nova pasta de
Segurança e, agora, a linha de frente contra a crise dos caminhoneiros. Pela
personalidade e determinação, lembra Nelson Jobim, que passou por Executivo
(com FHC, Lula e Dilma), Legislativo (no então PMDB) e Judiciário, no Supremo.
São homens de Estado, como Ilan Goldfajn e Eduardo
Guardia, que foram da equipe de Pedro Malan na Fazenda, ao que se saiba nunca
se meteram em negociatas e têm como ambição servir como homens públicos,
acertar nos seus propósitos e merecer reconhecimento. Economistas podem
concordar ou criticar suas políticas, mas sem desmerecer seu talento e
dedicação.
O senso de missão está impregnado nos generais,
almirantes e brigadeiros da atual cúpula militar, que vêm de uma cultura de
ordem e hierarquia e estão, pela Constituição, a serviço das autoridades constituídas
e do presidente da República. O barco sacode, as ondas são assustadoras, não há
frestas nas nuvens escuras e eles têm um objetivo: evitar que o Brasil afunde.
E surge um novo personagem que cresce, aparece e
conquista não só assento no gabinete de crise do Planalto, mas também
interlocução – e respeito – no Supremo, no STJ, na PGR, na área militar e na
mídia. Trata-se de Grace Mendonça, da Advocacia-Geral da União (AGU).
Com tanta desgraça, tanto ódio, o governo está ilhado, em
meio ao dilúvio, e é preciso lembrar que nem todo mundo é ladrão,
mal-intencionado e opera para afundar o Brasil. Há muito marinheiro arriscando
a saúde e a imagem para entregar o leme para o próximo presidente. Não é fácil,
nessas condições de tempo e temperatura, botar a cara na TV e falar por este
governo. Mas o mote deles não é um governo, é um País, o nosso País.
Publicado no portal do Jornal Estado de São Paulo em
03/06/2018