terça-feira, 15 de maio de 2018

➤ANÁLISE

‘Vaquinha virtual’

Eliane Cantanhêde

Começa hoje uma etapa das eleições que envolve diretamente o eleitor, ou seja, o senhor, a senhora, você. Entra em vigor oficialmente a “vaquinha virtual”, ou “crowdfunding”, pela qual a pessoa física pode participar ativamente da campanha, não só votando, mas contribuindo financeiramente para o candidato que julgar melhor para o País.

Nos seis cenários traçados pelo Datafolha após a prisão do ex-presidente Lula, os votos brancos e nulos variaram de 23% a 24%, mais do que todos os demais candidatos. Logo, os nulos e brancos “ganhariam a eleição”, confirmando a desilusão, o cansaço e o desprezo pela política, pelos partidos e pelos candidatos.

Isso é bom? É péssimo. Péssimo para o eleitor, que se omite numa decisão tão importante, para o candidato, que perde legitimidade, para os melhores, porque abrem espaço para os piores, e para a própria democracia, que é “do povo, pelo povo e para o povo”.

A “vaquinha virtual” é uma forma de mobilizar a sociedade e de engajar o eleitor no projeto do seu candidato a deputado, senador, governador ou presidente da República. Além de ser uma forma irrisória, mas objetiva, de cobrir a lacuna deixada pelo veto ao financiamento de empresas às campanhas. É um recurso a mais, de fonte limpa e com significado todo especial: o eleitor, a eleitora.

Segundo o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luiz Fux, “a possibilidade de impulsionar o seu candidato, através do voto e do financiamento, gera no eleitor o desejo da vitória, a sensação de disputa e de que está integrado ativamente no processo eleitoral”.

É isso aí. E não se esqueça: não votar no melhor é favorecer o pior. Por isso, o fundamental é se informar sobre o candidato, seu partido, seus companheiros, suas propostas, seu passado, seu compromisso, se cumpriu as promessas de campanhas anteriores. A partir da convicção, por que não contribuir com o candidato que mais representa o que você defende e quer para seu Estado, para o Brasil?

Podem doar pessoas físicas que não tenham permissão pública para, por exemplo, ter um táxi ou uma banca de revista. Atenção: o limite é de até 10% do rendimento bruto declarado no Imposto de Renda do ano anterior e a multa é de 100% do valor excedido. Pode ficar salgada para os desatentos.

Qualquer modalidade bancária de arrecadação é válida, boleto, crédito ou débito, mas com duas exigências: a identificação do CPF do doador e, nos valores acima de R$ 1.064,10, o uso de TED bancário, do doador para o candidato. Esses cuidados são importantes para evitar uso de doadores fantasmas, ou de “laranjas”, esses “personagens” tão comuns nas eleições brasileiras até aqui. Com CPF e TED, a fiscalização é mais eficaz, com contas a cada 72 horas para a Justiça Eleitoral.

Partidos políticos e candidatos podem doar sem limites. Se forem muito ricos, poderão bancar integralmente suas campanhas (que estão pela hora da morte). Mas e o candidato que é um líder, tem ideias claras e legitimidade para disputar, mas não tem recursos? É exatamente para eles que essa forma de financiamento é mais importante. Vai ficar fora por falta de dinheiro?

As “vaquinhas virtuais” começam hoje, mas os candidatos só vão poder usar os recursos a partir de 15 de agosto, com o início oficial do período eleitoral. E se desistirem entre hoje e 15 de agosto? Vão ter de devolver, centavo por centavo.

E há limites de gastos. Pela lei eleitoral, candidatos à Presidência podem chegar a R$ 105 milhões no primeiro turno, mais 50% se chegarem ao segundo. Para deputados federais, R$ 2,5 milhões. Eleições são muito caras, mas não são só “deles”. São de nós todos. Do senhor, da senhora e de você também.

Publicado no portal do jornal Estado de São Paulo em 15/05/2018

➤Luiz Inácio

STJ nega continuidade a pedido de liberdade


O ministro Felix Fischer, relator da Lava Jato no Superior Tribunal de Justiça (STJ), julgou na última segunda-feira prejudicado um habeas corpus que foi impetrado pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva um dia antes de sua prisão, no último dia 7 de abril. A decisão foi divulgada nessa terça-feira. Pouco depois de o pedido ter sido protocolado no STJ, no dia 6 de abril, o ministro negou liminar (decisão provisória) para impedir a prisão de Lula.

Agora, Fischer suspendeu por completo a tramitação do habeas corpus por entender não existir mais a irregularidade que era apontada pela defesa. No habeas corpus, a defesa de Lula argumentou que o ex-presidente não poderia ter sido preso antes de que a segunda instância tivesse concluído a análise de admissibilidade de um recurso especial contra a condenação, o que até hoje não ocorreu. Na semana passada, no entanto, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por unanimidade, não acolher o mesmo argumento, presente em um outro pedido feito pela defesa diretamente ao STF.

O teor da decisão de Fischer ainda não está disponível. Na prática, ao negar seguimento ao habeas corpus, o pedido fica impedido de ser analisado pela Quinta Turma do STJ, da qual fazem parte, além de Fischer, outros quatro ministros.  A defesa de Lula ainda pode recorrer para que o habeas corpus seja julgado pelo colegiado. Desde que foi preso, Lula cumpre sua pena de 12 anos e um mês de prisão na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Ele foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, no caso do tríplex no Guarujá (SP).

Agência Brasil

➤Mais um recorde

61,2 milhões de pessoas com dívidas em atraso


O total de consumidores com dívidas em atraso atingiu 61,2 milhões de pessoas em abril, segundo estudo divulgado hoje pela Serasa Experian. Na comparação com abril de 2017, quando havia 60,1 milhões de inadimplentes, houve uma alta de 1,9%. O recorde anterior foi identificado em novembro de 2017, quando 61,1 milhões de pessoas possuíam contas em atraso.

De acordo com o levantamento, cada endividado possui em média quatro contas atrasadas, totalizando 4.438 reais por pessoa. O total dívidas atrasadas somou 271,7 bilhões de reais.

Entre os motivos que influenciaram a alta da inadimplência estão o desemprego elevado, renda estagnada e gastos típicos de começo de ano, como IPVA, IPTU e material escolar, que desequilibram o orçamento doméstico.

A dívida que mais desequilibra o orçamento doméstico é o cartão de crédito. Pesquisa mostra que dívidas atrasadas com bancos e cartões de crédito representam 28% das contas em atraso. Os débitos com água, luz e gás aparecem em segundo lugar (19,2%). Na sequência aparecem dívidas com o varejo (12,6%), telefonia (11,5%), serviços (10,9%), financeira/leasing (10%) e outros (7,3%).

O levantamento mostra que os homens representam 50,8% dos inadimplentes. Por idade, a faixa que concentra a maior parte de devedores é a que está 41 e 50 anos (19,7% do total). Em segundo lugar no ranking de participação entre os inadimplentes estão os jovens de 18 a 25 anos, que respondem por 14,2% do total.

Por região, o Sudeste concentra 45,1% dos inadimplentes do país, seguido por Nordeste, com 25,2%, Sul, 12,7%, Norte, 8,9% e Centro-Oeste, 8,1%.

Portal da Revista VEJA

➤Blog BR 18


Primeiro lance no triplex

A menos de 24 horas antes do fim do prazo do leilão, um interessado deu o primeiro lance para comprar o triplex do Guarujá, que levou à condenação de Lula na Lava Jato.
O lance foi de R$ 2,2 milhões e a identidade da pessoa não foi revelada, mas o cadastro é de Piracicaba. Interessados têm até as 14h desta terça-feira, 15, para apresentarem propostas. Quem dá mais pelo edifício que a família Lula olhou, reformou, visitou mas diz que nunca possuiu? Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três…



O antirradicalismo de Meirelles
Em palestra para investidores em São Paulo, Henrique Meirelles segue martelando a tecla sobre o risco de se abraçar candidaturas com discurso radical. O recado é para os simpatizantes de Jair Bolsonaro à direita e Ciro Gomes à esquerda – além das viúvas da candidatura de Lula.
“Temos de abrir uma alternativa. Isso me levou a criar uma estratégia. Quando saí do Ministério da Fazenda, não foi numa aventura. Fiz muita pesquisa qualitativa para isso. Se não, não seria candidato.




Paredão da regra de ouro
O próximo presidente da República terá de dançar conforme a música do Congresso caso não queira ser afastado por crime de responsabilidade. O risco mora na regra de ouro, que proíbe ao governo se financiar (emitir dívidas) para bancar despesas correntes.
Caso o Executivo precise de crédito para cobrir buracos, terá de pedir autorização ao Legislativo, é o que lembra nesta terça, 15, o colunista Bruno Boghossian, da Folha. A “rédea curta” pode frear quem hoje critica o “balcão de negócios da política”.

Paulo Bernardo pode sair da Lava Jato

O ex-ministro Paulo Bernardo pode sair das mãos da Lava Jato em São Paulo e ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal, informa a Folha. Isso porque Ministério Público Federal do Estado quer enviar autos relativos à Operação Custo Brasil, oriunda da Lava Jato, à corte.
A defesa de Paulo Bernardo também quer que o processo seja transferido, por acreditar que a Justiça de São Paulo “usurpou a competência do STF”. Uma denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República sobre o mesmo tema no ano passado está com o Supremo.


FHC apoia união do centro

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso assinou um manifesto criado por Marcus Pestana (PSDB) e Cristovam Buarque (PPS) pela união do centro nas eleições, informa a coluna Painel, da Folha.
No bloco do centrão, devem estar reunidos DEM, PP, PRB e Solidariedade, possivelmente em torno da candidatura de Geraldo Alckmin. Ainda há grandes resistências ao nome do tucano.




Ligação de políticos com milícias sob investigação
O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmou em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, que a intervenção nacional no Rio de Janeiro tem um inquérito aberto para investigar a ligação de políticos com milícias.
Como observa reportagem do Valor, a apuração é feita em parceria entre parte da polícia do Estado, Ministério Público Federal, Ministério da Defesa, entre outros.

Publicado no portal do jornal Estado de São Paulo em 15/05/2018

➤OPINIÃO

A mulher que matou o bandido

J.R. Guzzo


A cabo Kátia da Silva Sastre, da Polícia Militar de São Paulo, é uma heroína das mulheres brasileiras. No último sábado, em defesa da filha que tinha ido buscar na escola, de outras meninas que saíam com ela e das mães que as esperavam na calçada, matou com três tiros um bandido que apontava uma arma de fogo contra as crianças e mulheres. Foi uma cena que só se vê em série de TV americana, onde a polícia age sempre com heroísmo, competência, respeito à lei e boa pontaria. Kátia não errou nenhum dos três tiros que disparou do revólver que sacara da bolsa. Com o assaltante caído no chão, depois de atirar nela duas vezes, deu-lhe voz de prisão ─ e afastou com o pé, para fora do seu alcance, a arma que ele havia apontado para as meninas e suas mães. Em seguida, mantendo o criminoso imobilizado no chão, esperou pela chegada da polícia. Levado para o hospital, o sujeito morreu uma hora e tanto depois.

A cena, gravada em vídeo pelas câmeras de seguranças instaladas no lugar, está à disposição de todos, a qualquer momento, pelo Google ou o YouTube. Logo saiu da grande periferia de São Paulo e passou a correr o Brasil pela internet ─ é possível que tenha ido ainda além. Qual a surpresa? O ato da policial da PM paulista foi um desses casos claros ─ e raros ─ de vitória absoluta do bem sobre o mal. É o tipo do episódio pelo qual torcem nove entre dez brasileiros exaustos com a praga dos assaltos, com a crueldade demente dos bandidos ou com a humilhação de se verem toda hora obrigados a deitar no chão para tentarem sobreviver aos tiroteios nas “comunidades”. É o dia em que o monstro perde ─ dia de lavar a alma para os milhões de cidadãos decentes que sofrem a opressão diária dos criminosos e só têm guerreiras como a cabo Kátia para arriscar a vida em sua defesa. Para completar, o caso aconteceu justo na véspera do Dia das Mães. A imagem da mulher sem medo, defendendo de arma na mão as crianças e mães aterrorizadas sob a mira do bandido, ficará por longo tempo no pensamento de quem padece a angústia diária, sem descanso, de não saber se hoje os filhos vão voltar vivos da escola. Para todas essas mães, enquanto houver Kátias haverá alguma esperança.

Não é nenhuma surpresa, naturalmente, que nenhum de todos esses “movimentos femininos” que vivem de denunciar a “violência contra as mulheres” tenha dito uma única palavra em apoio a Kátia Sastre. Seu ato de heroísmo não existiu, simplesmente. Na verdade, a moça terá sorte se não acabar sendo denunciada, ou algo assim, por essas “lideranças” que estão todos os dias nas primeiras páginas e nos horários nobres. Ela não é negra, nem lésbica, nem favelada, nem líder comunitária, nem do PSOL-PCdoB-PT. É mãe de família, policial e vai buscar a filha na escola, como milhões de outras. Ou seja, é o tipo da pessoa detestada nesse ambiente ─ e amada pela massa dos cidadãos, o que só comprova mais uma vez o quanto os movimentos “populares”, na vida real, se afastam do povo. É o mesmo que acontece nos meios de comunicação, onde o bandido foi descrito como “suspeito” do assalto, embora tenha sido filmado, com o máximo de clareza, apontando o seu revólver para a cabeça de uma menina de seis ou sete anos de idade. Também foi chamado de “rapaz”. Assim: “O rapaz foi atingido com três tiros”. Rapaz? A preocupação central, como sempre acontece, é saber se a policial se excedeu ao atirar no criminoso que tinha atirado duas vezes nela, ou se a sua atitude não poderá incentivar a “letalidade” da polícia. Foram buscar a opinião de “criminalistas” para medir os prós e contras da questão ─ como se houvesse contras. É provável que passem a exigir, junto com as alas “militantes” do Ministério Público, uma apuração rigorosa do gesto da mãe que enfrentou o bandido. Cada vez mais, junto com os “movimentos” feministas e outros bichos parecidos, se descolam da realidade e se colocam como adversários do povo brasileiro.

Publicado no portal da Revista VEJA em 15/05/2018