Sem favorito(s)
Eliane Cantanhêde
Sabe o que faz esta eleição tão atípica, diferente das
demais? A esta altura, já havia um favorito em 1994, 1998 e 2002 e já se sabia
quem iria para o segundo turno em 2006, 2010 e 2014. Agora, não. Os candidatos
se embolam e se contorcem. Nenhum deles é favorito ou está virtualmente no
segundo turno.
Lula está fora. Bolsonaro bateu
no teto. O resto é o resto e cada um tenta fechar alianças, ganhar uns minutos
a mais na TV, montar equipe, articular um esquema de financiamento sólido (e
que não dê problemas depois...), além, claro, de subir nas pesquisas. Está uma
pedreira.
Há quem insista na candidatura de Lula, preso em
Curitiba, sabendo que se trata de ficção. Há quem defenda Fernando Haddad como
plano B. Há quem admita o inadmissível na história do partido: abrir mão da
cabeça de chapa para Ciro Gomes, do PDT.
Ora Haddad é presidenciável, ora disputa a vice de Ciro,
agora já é opção para o governo de São Paulo. Mais um pouco, vira candidato a
síndico de prédio. É o PT enfraquecendo o PT.
Gleisi Hoffmann, aliás, diz que Ciro não passa no PT nem
com “reza brava”, mas o fato é que ele se fortalece com a fraqueza do PT e
tenta servir de boia para o partido trazer junto o PCdoB de Manuela d’Ávila e o
PSOL de Guilherme Boulos e, ao mesmo tempo, tornar-se palatável à elite
financeira. Lula gostaria de todos juntos, mas não é uma operação fácil.
De qualquer forma, Ciro vai se habilitando ao segundo
turno e seus articuladores devem acender velas e investir em chazinhos e ervas
para que ele não saia socando jornalistas e eleitores e matando suas próprias
chances.
Quanto a Bolsonaro: com a prisão de Lula, ele nem
cresceu, como previam uns, nem esvaziou, como torciam outros. Simplesmente
estagnou. E é estagnado que tenta atrair partidos, deputados, tempo de TV e
recursos para sua campanha. E deve morrer de medo de enfrentar debates ao vivo,
que podem ter um efeito inverso para ele: em vez de crescer, minguar.
Pelo centro, um centro com cara e jeito de esquerda,
concorrem Joaquim Barbosa e Marina Silva. Uma chapa entre os dois seria
poderosa, mas... Joaquim e o PSB brincam de gato e rato, Marina nem admite conversar
sobre ser vice e ninguém, na verdade, sabe o que o ex-presidente do STF pensa
sobre economia, crise fiscal, reforma da Previdência. Sem isso, o País não sai
do fundo e continua asfixiando justamente os mais pobres – que são a maioria.
Geraldo Alckmin, que não atinge dois dígitos e precisa crescer
em São Paulo, continua atraindo as atenções (e a aflição) de quem não pula no
barco das esquerdas nem no da direita bolsonarista. Ele pode não encantar, mas
se beneficia da percepção de que é o único candidato que, apesar de tudo, ainda
pode trazer oficialmente o MDB e o DEM, com seus preciosos minutos de TV e sua
forte capilaridade.
Michel Temer é tão candidato hoje quanto era no início,
ou seja, zero candidato. E, por isso, ele comanda as negociações PSDB-MDB com
desenvoltura e até descuido. Ou o presidente esqueceu que Henrique Meirelles
saiu da Fazenda para disputar o Planalto pelo MDB?
Como Temer, Rodrigo Maia não chegou em algum minuto a
crer nas suas chances. E, sem ele, o DEM tende a somar com PSDB, MDB e PSD em
torno de Alckmin. Mas, atenção: em todos haverá dissidentes.
Como eles, também Flávio Rocha, João Amoêdo e o próprio Meirelles
tenderão a apoiar Alckmin, principalmente num eventual segundo turno entre ele
e Ciro, por exemplo. Mas, juntos, terão de tourear Álvaro Dias, uma peça-chave
nessa arena. Dias não tem força para ganhar, mas pode ter para derrotar
Alckmin, que, de quebra, para complicar, convive com um fantasma: Paulo Preto,
o Palocci do PSDB.
Publicado no portal do jornal Estado de São Paulo em
08/05/2018