Perdendo as estribeiras*
Eliane Cantanhêde
Em que mundo estão a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e
o deputado e presidenciável Jair Bolsonaro, quase PSL, que representam os dois
polos das eleições de 2018 e estão perdendo as estribeiras?
Estridente integrante da tropa de choque do ex-presidente
Lula, o líder das pesquisas, Gleisi disse ao site Poder360 que, “para prender
Lula, vai ter de matar gente”.
E, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo,
Bolsonaro, por ora principal concorrente de Lula, admitiu por que recebe o
auxílio-moradia da Câmara, de R$ 4.253,00, se tem imóvel em Brasília: “Pra
comer gente, tá?”.
Depois de defender, até internacionalmente, a ditadura
agora sanguinária de Nicolás Maduro na Venezuela, Gleisi joga gasolina na
fogueira e convoca petistas e agregados para incendiar o País no julgamento de
Lula, dia 24, pelo TRF-4. Péssimo para o País e não ajuda Lula em nada.
Quem é a “gente matada” de Gleisi Hoffmann? E quem é a
“gente comida” de Jair Bolsonaro? A gente que estuda, trabalha, rala na fila do
ônibus e amarga o desemprego, ou produz, vende, sofre com a economia e se
escandaliza com a política? Será que é essa gente que vive ou morre por Lula? E
será que é essa gente que Bolsonaro “come” à custa de dinheiro público?
A declaração de Gleisi é tão irresponsável como foi sua
defesa do regime Maduro, que leva os cidadãos e cidadãs venezuelanos ao
desespero, ao desamparo, ao desabastecimento e à desesperança. Em vez de se
aliar com a gente que sofre, ela se alinhou com a gente que impõe o sofrimento.
E por mera questão ideológica. E, no caso de Lula, ela tenta jogar o mundo
petista, nada mais, nada menos, contra a Justiça brasileira. E deixa a dúvida:
e se o TRF-4 absolver Lula? Quem é a favor da prisão também pode matar ou
morrer?
Já Bolsonaro vai se revelando, além de um político
reacionário, com ideias deseducativas, também um poço de contradições. A principal
é se dizer antipolítico. Como assim? Não bastasse estar no sétimo mandato de
deputado federal, elegeu a ex-mulher duas vezes vereadora no Rio e meteu três
filhos na política: Eduardo é deputado federal, Flávio, estadual, e Carlos,
vereador.
Foi como políticos que os quatro Bolsonaro amealharam ao
menos R$ 15 milhões em imóveis. E é também como político que o
patriarca pode usufruir de auxílio-moradia para “comer gente”. Isso é que é
rejeição à política?!
As declarações estapafúrdias da senadora e do deputado
são chocantes, mas reforçam o quanto o Brasil está mudando e o quanto os
próprios políticos estão esperneando, se surpreendendo e correndo atrás do
prejuízo. Nisso, perdem o senso, extrapolam e falam o que não podem, nem devem.
O próprio fato de o ex-presidente mais popular da
redemocratização estar sendo denunciado, julgado e até condenado em primeira
instância já é uma mudança e tanto. Mas há muito mais: o que dizer de um
presidente no exercício do mandato que sofreu duas denúncias da PGR no mesmo
ano e tem agora de responder a questionário de 50 perguntas “desrespeitosas e
ofensivas”, segundo ele, da Polícia Federal?
E o ex-poderoso governador do Rio que foi preso,
condenado a dezenas de anos e ontem transferido de penitenciária para não
desfrutar de regalias? E as intervenções na Petrobrás e, nesta semana, na CEF?
E a prisão de Paulo Maluf? Símbolo da corrupção por mais de 30 anos, ele virou
o maior troféu do oposto, do combate à corrupção.
A declaração de Gleisi é um esperneio e a de Bolsonaro é
um alerta para o risco de enganação e retrocesso. Gente que não mata e não
morre contra a Justiça e que não “come” nem é “comida” com dinheiro público
ouve essas coisas, reflete e confirma: é preciso avançar e aprofundar a
fantástica mudança do Brasil.