Sinal amarelo para Doria*
Prefeito de São Paulo sofre de excesso de exposição,
Bolsonaro corre por fora dos holofotes
Eliane Cantanhêde
O ácido bate-boca entre o novato João Doria e o veterano
Alberto Goldman não é nada engrandecedor, nem para eles, nem para o PSDB, nem
para a política e deixa claro, claríssimo, a que nível chegamos, além de
ilustrar como o ambiente de 2018 é nebuloso. Tudo que sobe cai. Todo candidato
que sobe cedo demais tende a cair com igual rapidez.
Eleito espetacularmente em primeiro turno para a
principal, mais rica e mais complexa prefeitura do País, João Doria atribuiu-se
um personagem e saiu em desabalada carreira para pular vários obstáculos de uma
só vez e chegar direto à raia presidencial. Dez meses depois da posse, ele já
começa a sentir os efeitos do excesso de exposição.
A bem do prefeito, diga-se que ele é um bom produto
eleitoral: razoavelmente jovem, criou um estilo, oscila entre o político e o
não político, é de um partido que, mal ou bem, está entre os primeiros do País
e é craque em marketing. Mas, de outro lado, ele não sabe dosar o ritmo de sua
gestão e o da sua corrida presidencial.
Como já alertara Rodrigo Maia, presidente da Câmara, “o
Doria está correndo uma maratona como se fosse uma corrida de cem metros. Pode
não ter fôlego para chegar ao final”. Aliás, para alegria do governador Geraldo
Alckmin, mais frio, menos afoito. Esse, sim, se preparou para uma maratona.
A nova frase que tende a ser carimbada na testa de Doria
parte de um outro autoproclamado candidato tucano à Presidência, o prefeito de
Manaus, Arthur Virgílio: ao partir para cima de Goldman, Doria revelou um
temperamento que mistura Donald Trump e Ciro Gomes, dois políticos do
confronto, de veia belicosa. Para quem já foi comparado a Fernando Collor, as
novas comparações não melhoram muito as coisas.
Enquanto centrava seus ataques no petista Lula, Doria não
incomodava tanto o PSDB. O problema é que ele ampliou os alvos para incluir
Goldman, ex-deputado, ex-governador e integrante da cúpula tucana paulista que
não engole Doria, aí incluídos Aloysio Nunes Ferreira, José Serra e Fernando
Henrique, este mais diplomaticamente.
Quem começou a briga foi Goldman, ao dizer que Doria “é
político, sim, e um dos piores que nós já tivemos em São Paulo”. Talvez já
cansado das estocadas de tucanos paulistas, o prefeito reagiu espumando e
acusou o correligionário de “improdutivo, fracassado e medíocre”. A tréplica
veio com novos adjetivos nada edificantes, com Goldman acusando o prefeito de
“raivoso, prepotente, arrogante e preconceituoso”.
À parte os adjetivos, há a questão objetiva de que está
se espalhando a percepção de que Doria cuida mais da sua campanha presidencial do
que da gestão de São Paulo. Se pôde xingar Goldman, não convém a Doria xingar
as pesquisas – nem brigar com a realidade.
Pelo Datafolha, o prefeito caiu nove pontos entre os
paulistanos e tem o pior índice desde a posse. E, se perdeu apoios em São Paulo,
nem por isso cresceu na disputa presidencial. Perdeu daqui, não ganhou de lá e
55% dos entrevistados não votariam nele para presidente. Sinal amarelo!
Se Doria apostou no excesso de exposição na mídia e nas
viagens – até oito Estados por mês –, o deputado Jair Bolsonaro fez o
contrário. Ignorado pela mídia, tanto quanto Trump foi nos EUA, e ignorando as
elites intelectuais e políticas, como Ciro Gomes já fez em campanhas passadas,
Bolsonaro é o campeão nas redes sociais, vive de selfies e improvisa comícios
onde põe os pés.
Enquanto Doria corre o risco de perder precocemente o
fôlego, Bolsonaro está se consolidando no segundo lugar das pesquisas. A
eleição está no estágio de monólogos paralelos, com todos imaginando que
Bolsonaro vá se desmilinguir no primeiro embate. Já imaginaram um debate ao
vivo entre ele e Ciro Gomes? Mas... e se não?
*Publicado no Portal Estadão em 10/10/2017