segunda-feira, 18 de setembro de 2017

➤Fim do mistério

Moro torce pelo Atlético Paranaense

De boné vermelho e óculos escuros, juiz federal acompanhou vitória 
da equipe paranaense sobre o Fluminense, na Arena da Baixada

O juiz federal Sérgio Moro tirou o domingo para ir ao estádio vibrar por seu time do coração. Nas redes sociais, torcedores do Atlético-PR divulgaram imagens do comandante dos julgamentos da Operação Lava Jato nas arquibancadas da Arena da Baixada. Com um leve “disfarce” (óculos escuros e boné vermelho), Moro deu sorte ao clube rubro-negro, que venceu o Fluminense por 3 a 1, na 24ª rodada do Campeonato Brasileiro. Moro, natural de Maringá (PR), jamais assumiu publicamente para qual time torce.
Com VEJA/Conteúdo

➤Raquel Dodge:

“Povo não aquenta corrupção”


Há mais de três décadas no Ministério Público Federal (MPF), Raquel Dodge tomou posse na manhã desta segunda-feira (18) no cargo de procuradora-geral da República, na cadeira que foi ocupada nos últimos quatro anos por Rodrigo Janot.

Em sua fala de oito minutos na cerimônia de posse, a nova chefe do Ministério Público prometeu defender a democracia, zelar pelo bem comum e meio ambiente e garantir que ninguém esteja "acima da lei".

A cerimônia de posse contou com a presença de familiares e amigos de Raquel Dodge, integrantes do Ministério Público, magistrados e políticos. Prestigiaram a solenidade os chefes dos Três Poderes: o presidente da República, Michel Temer, a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE).

Antecessor da nova procuradora-geral, Janot não participou da solenidade alegando "motivos protocolares". Em uma carta enviada no domingo (17) aos integrantes do MPF, o agora ex-procurador-geral desejou à sucessora – que era sua opositora dentro da PGR – "sorte e sobretudo energia para os anos que virão".

A solenidade que empossou a nova procuradora-geral da República, realizada no auditório da sede da Procuradoria Geral da República (PGR), começou às 8h12.
Após a execução do Hino Nacional, Michel Temer assinou o termo de posse de Raquel Dodge. Na sequência, ela assinou o livro e fez seu primeiro discurso como procuradora-geral da República.

"Dirijo-me ao povo brasileiro, de quem emana todo o poder, e a todos os presentes, para dizer que estou ciente da enorme tarefa que está diante de nós e da legítima expectativa de que seja cumprida com equilíbrio, firmeza e coragem, com fundamento na Constituição e nas leis"
Nova responsável pela condução da Operação Lava Jato, Raquel Dodge não mencionou diretamente as investigações do esquema de corrupção que atuava na Petrobras e em outros órgãos públicos. E apesar da ausência de Janot na cerimônia, ela fez um rápido cumprimento ao seu antecessor "por seu serviço à nação".

Em outro trecho do discurso, a nova chefe do Ministério Público disse que "o Brasil seguirá em frente" porque o povo brasileiro "acompanha investigações e julgamentos" e "não tolera a corrupção".

“Quarenta e um brasileiros assumiram este cargo [de procurador-geral da República], alguns em ambiente de paz, e muitos sob intensa tempestade. A nenhum faltou a certeza de que o Brasil seguirá em frente porque o povo mantém a esperança em um país melhor, interessa-se pelo destino da nação, acompanha investigações e julgamentos, não tolera a corrupção e não só espera, mas também cobra resultados”, ressaltou a nova procuradora-geral, que foi intensamente aplaudida pelos convidados ao final do discurso.
Agência Estado
Fotos: Estadão/Reprodução

➤DESTAQUES


Posse na PGR
Primeira mulher a comandar a Procuradoria Geral da República, Raquel Dodge tomou posse hoje em Brasília como nova responsável pela chefia do Ministério Público Federal. Ela, que substitui Rodrigo Janot, foi empossada pelo presidente Michel Temer e ficará no cargo por 2 anos. Para analistas do meio jurídico, Dodge vai impor novo estilo, mas não frear Lava Jato.

Relacionamento
Harmonia entre poderes é requisito para estabilidade da nação, afirma Raquel. “O Ministério Público, como defensor constitucional do interesse público, posta-se ao lado dos cidadãos para cumprir o que lhe incumbe claramente a Constituição e de modo a assegurar que todos são iguais e todos são livres, que o devido processo legal é um direito e que a harmonia entre os poderes é um requisito para a estabilidade da nação”, afirmou.

Inadimplência
Calote nos bancos públicos cresce R$ 10 bi em um ano. Em um ano, os bancos públicos viram seus índices de inadimplência - atrasos superiores a 90 dias nos pagamentos de financiamentos –  saltar de 2,8% para 3,5%. Isso significa que, nesse período, os calotes nesses bancos - nos quais se incluem o Banco do Brasil, a Caixa e o BNDES - cresceram em R$ 10,4 bilhões. O movimento é oposto ao registrado pelos bancos privados.

Reforma política e articulação
A Câmara tentará votar nesta semana a reforma política antes de o STF encaminhar à Casa a nova denúncia contra Temer. Mesmo assim, líderes partidários relataram estar incertos sobre se será possível votar, de fato, a matéria agora. Enquanto isso, Temer viaja aos Estados Unidos para a Assembleia Geral da ONU. No fim de semana, o presidente se encontrou com aliados, advogados e o ex-presidente José Sarney. O peemedebista traça estratégias para tentar barrar a nova denúncia da PGR.

Mudança na JBS
O conselho de administração da JBS anunciou ontem que José Batista Sobrinho, fundador da empresa e pai de Wesley e Joesley Batista, foi escolhido por unanimidade como novo presidente. A troca de comando ocorre após a prisão de Wesley na semana passada. A decisão fortalece a presença da família Batista na empresa e contraria pedido do segundo maior acionista da companhia, o BNDES, de afastar os Batista do comando da JBS.

Negociação
Setor agrícola europeu se mobiliza para tentar barrar acordo com Mercosul.  Após 20 anos de negociações, acordo pode ser fechado em dezembro, mas lobby protecionista pode emperrar abertura.

Colarinho branco
Presidente do TCE-RJ é alvo de ação por fraudes no Detran.  MP do Rio pede que Aloysio Neves, já afastado, saia do cargo definitivamente.

Violência 'in Rio'
O fim de semana foi violento e de tensão nas Zona Sul e Norte do Rio. Ao menos duas pessoas morreram durante um intenso tiroteio que aconteceu ontem na comunidade da Rocinha. Dois acessos da estação São Conrado do Metrô foram fechados por questões de segurança. Já no sábado, a guerra entre traficantes rivais no Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho, deixou 7 mortos entre sexta-feira e sábado.

Desconforto militar
General fala em "intervenção" do Exército caso a Justiça não retire corruptos da "vida pública".
Segundo Antonio Hamilton Mourão, ex-comandante militar do Sul, Força Armada já teria "planejamentos muito bem feitos" para a ação.

Tradição
Donos de bancas investem em melhorias no Mercado Público de Porto Alegre. Associação destaca investimentos após incêndio e tenta diálogo com prefeitura contra PPP.

Susto
Tremores de terra assustam moradores de cidades da região serrana do Paraná.
Tremores foram registrados na madrugada de hoje (18) em várias cidades da região serrana do Paraná, entre elas Rio Branco do Sul, a cerca de 30 quilômetros. De acordo com o Corpo de Bombeiros do município, o tremor ocorreu por volta da 1h15 e durou poucos segundos.

➤OPINIÃO

O ‘decoro’ do PT*

O visível nervosismo de Lula da Silva em seu mais recente depoimento ao juiz federal Sérgio Moro mostra que o ex-presidente parece saber que as inconfidências de Antonio Palocci, que foi seu ministro e braço direito, podem ser decisivas para mandá-lo para a cadeia. Palocci não foi o primeiro petista a apontar o dedo para Lula e acusá-lo de corrupção da grossa, mas, em todas as outras ocasiões, as denúncias haviam sido feitas no âmbito interno do PT – e lá quem manda, desde sempre, é o demiurgo de Garanhuns. Pela primeira vez, Lula está sendo acusado por um petista de alto coturno fora daquela instância de araque, que só existe para condenar os que ousam contrariar o chefão. Desta vez, o juiz não é um sabujo de Lula, e sim um magistrado com disposição para levar em conta as provas que constam nos autos. Eis por que Lula, sempre muito confiante, não consegue esconder o desconforto.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse que Palocci quebrou o “decoro” do partido, mas esse “decoro” nunca existiu quando se tratou de Lula. É preciso lembrar, por exemplo, do caso de Paulo de Tarso Venceslau, ex-secretário de Finanças das administrações petistas de Campinas e São José dos Campos nos anos 90. Paulo de Tarso, um dos fundadores do PT, denunciou em 1997 um esquema de corrupção engendrado por um compadre de Lula. O tal esquema, segundo se informou à época, usava contratos fajutos entre prefeituras petistas e uma consultoria para financiar, com dinheiro público desviado, as atividades do PT – uma espécie de avant-première do petrolão.

Diante da denúncia, o PT instalou uma comissão para investigar o caso, um procedimento meramente cosmético, já que, para Lula, as acusações de Paulo de Tarso eram uma “chuva de insinuações” e “apenas ilações”. Lula chegou a sugerir que seu colega de fundação do PT era um desequilibrado mental. Portanto, se o chefão petista já havia chegado a essas conclusões sem a necessidade de investigar as denúncias, a tal comissão nem precisaria ter se reunido. E, no entanto, os petistas designados para apurar o caso, acreditando que seu papel era mesmo o de investigar a sério e defender a lisura no partido, concluíram que o compadre de Lula talvez fosse mesmo tudo o que Paulo de Tarso dizia que ele era e recomendaram que o PT abrisse processo disciplinar contra ele, por suspeita de “grave violação ética”.

O diretório nacional do PT, é claro, mandou engavetar o relatório da comissão, cujos membros foram acusados de agir por “interesses partidários individuais”. Mais do que isso: Paulo de Tarso foi expulso do partido, deixando claro que a única ética em vigor no PT é a que preserva Lula e seus parceiros.

Outro fundador do PT, o jornalista César Benjamin, preferiu deixar o partido, em 1995, depois que começou a ver “coisas muito estranhas”, conforme contou ao jornalista Zuenir Ventura em livro publicado em 2008. Na entrevista, Benjamin contou que Lula e José Dirceu viraram o PT do avesso para torná-lo competitivo. Para isso, segundo disse, “foram dissolvendo o PT em um banho de dinheiro, cooptando todos os que podiam cooptar”. Incomodado com a situação, Benjamin contou que tentou falar com Lula a respeito, mas “ele disse para eu não me meter”.

O jornalista decidiu então denunciar a situação em um encontro nacional do partido, em 1995, mas não conseguiu: quando fazia o pronunciamento foi “interrompido de maneira violentíssima” por militantes que “partiram para a porrada”, supostamente orientados por José Dirceu. Foi o bastante para perceber que não havia possibilidade de debate no PT quando se tratava de Lula.

Esses são casos conhecidos, mas é possível imaginar quantos petistas já testemunharam “coisas muito estranhas” no partido de Lula e, sem coragem para enfrentar o Grande Líder ou simplesmente incapazes de aceitar que seu ídolo não é “a viva alma mais honesta deste país”, preferem o silêncio. Palocci é uma exceção que pode, finalmente, fazer Lula responder pelo que fez.

*Publicado no Portal Estadão em 18/09/2017