Chuck Berry (Charles
Edward Anderson Berry) que nasceu Saint Louis no dia 18 de outubro de 1926 e faleceu em St. Charles em 18 de março de 2017, foi um compositor, cantor e guitarrista norte-americano
e um dos pioneiros do rock and roll. Foi eleito pela revista Rolling Stone o
5º maior artista da música de todos os tempos, e foi considerado o sétimo
melhor guitarrista do mundo pela mesma revista.
Em homenagem a todos os que viveram
os tempos inesquecíveis do rock and rollo, selecionei uma gravação de Chuck
Berry cantando You Never Can Telldomingo, 19 de março de 2017
➤OPINIÃO
Carne podre, carne fraca*
A cada dia, sua agonia. Está difícil comer,
trabalhar,
respirar, sobreviver
Eliane Cantanhêde
Quando a política e a Lava Jato pegavam fogo, a surpresa
foi 2017 abrir já no primeiro dia com os massacres em prisões, que começaram
com decapitações em Manaus e contaminaram Boa Vista e Natal, com cerca de 125
mortes no total, chamando a atenção para um descalabro nacional e mostrando ao
mundo o lado das trevas numa das dez maiores economias do planeta.
Quando o pacote do procurador Rodrigo Janot foi entregue
ao Supremo Tribunal Federal e passaram a vazar as listas dos ilustres citados
nos 83 pedidos de abertura de inquérito para os que têm foro privilegiado e
mais 211 para quem não têm, a semana terminou com a operação “Carne Fraca”,
sobre as carnes podres que comemos e a carne fraca de corruptos insaciáveis.
Quando inflação e juros caem, o leilão de quatro
aeroportos é um sucesso e a The Economist prevê que o pior da crise
passou, cabeças de porco, ácidos e papelões em mortadelas e linguiças pioram
ainda mais a imagem do Brasil e jogam um ponto de interrogação nas exportações
de carne brasileira. O País é o campeão de vendas do produto. EUA e União
Europeia já exigem explicações.
Quando o Planalto e o País comemoram a reversão de
expectativa no emprego, com o fim da sangria e o saldo positivo na criação de
vagas depois de 22 dois meses de horror, as revelações sobre os frigoríficos
chacoalham também o mercado interno, e a agropecuária é importantíssima para o
PIB e para a geração de empregos.
Quando o presidente Michel Temer começa a falar em ganhar
alguma popularidade e já se assanha para incluir a questão tributária no pacote
de reformas, a citação de seis ministros e as cúpulas do Congresso e dos
partidos na Lava Jato joga o foco do Congresso na reforma política e tira da
reforma da Previdência, vital para investimentos, credibilidade e destino da
transição.
Quando os governos do Rio de Janeiro, de Minas Gerais, do
Rio Grande do Sul e de todos os demais, em fila, tentam desesperadamente
negociar acordos com Brasília e enxugar as contas, eis que aquele velho,
insidioso, cruel e sarcástico inimigo público, o Aedes aegypti, anti-herói da
ruína, sai matando por aí. As filas de vacinas para febre amarela conseguem
superar as de emprego. Oswaldo Cruz e Emílio Ribas devem estar se remoendo no
túmulo.
É assim que vivemos todos numa montanha russa que
atravessa de boas a más notícias em velocidade estonteante, sem sossego, sem
tempo para respirar. Temer comemora juros e inflação num dia e sofre a queda de
ministro no outro; o aparente fim da sangria dos empregos num dia, seis
ministros na “lista do Janot” no outro; o leilão de aeroportos num dia, o
desmascaramento dos frigoríficos no outro; uma vitória no Congresso num dia, o
recuo na reforma da Previdência no outro; uma manchete internacional positiva
num dia, várias negativas no outro.
Mas o pior é a população brasileira, que acumula e sofre
com uma epidemia de corrupção, 13 milhões de desempregados no setor privado e o
empreguismo deslavado no público, Estados falidos e irresponsáveis, febre
amarela, zika, chikungunya e dengue, antes o leite de idosos e crianças temperado
com água sanitária, agora carne podre, linguiças nojentas e mortadelas
assassinas. Sem contar nas muitas dúvidas sobre o excesso de agrotóxicos.
Está difícil viver, trabalhar, estudar, comer e respirar
o ar contaminado da corrupção, da falta de fiscalização e da pior doença
brasileira: a impunidade.
Mas a boa notícia é exatamente essa: nunca antes na
história deste País tanto descalabro foi exposto à sociedade, tanta gente foi
desmascarada por instituições antes passivas e hoje na linha de frente da reconstrução
nacional. Implodir para construir.
*Publicado no Portal Estadão em 19/03/2017
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