Cuidado com a corda!*
Eliane Cantanhêde
O que é pior para o governo Michel Temer, a crise Geddel
Vieira Lima ou a revisão do PIB para baixo em 2016 e 2017? A resposta é
difícil, porque são duas más notícias muito importantes e com efeito direto
sobre o humor da população. Temer, lembre-se, não é exatamente um campeão de
popularidade.
O julgamento da chapa Dilma-Temer no TSE e a delação
premiada da Odebrecht já rondam o Planalto, tirando o sono de muita gente, e a
opinião pública está focada em Lava Jato, nas prisões de implicados e na
votação de hoje da Comissão Especial anticorrupção. Não dá para brincar com
suspeitas de tráfico de influência, até porque Geddel não é um ministro
qualquer. Foi um dos líderes do impeachment de Dilma e é do núcleo duro do
governo.
Convenhamos, não é trivial que o secretário de Governo
seja acusado por outro ministro de fazer pressão a favor de um empreendimento
imobiliário no seu Estado, a Bahia, e no qual ele tem interesse direto. Para
piorar, Geddel é tido e havido como amigão das empreiteiras baianas e como padrinho
do diretor do Iphan estadual, que liberou o gabarito do prédio em área
histórica de Salvador. Ele está sendo bombardeado pela oposição e investigado
pela Comissão de Ética Pública da Presidência e vai ficar “sangrando”. Temer
anunciou que Geddel fica e quer mesmo que ele fique, mas isso não depende só da
vontade do presidente....
Mas, se a sociedade talvez nem saiba quem é esse tal de
Geddel, sente na renda e nos empregos o tamanho da crise e precisa
desesperadamente que o Brasil volte a crescer. Aliás, tanto quanto os
empresários do “Conselhão” no governo Temer, que querem sinais mais vigorosos
de recuperação econômica. Enquanto isso, o secretário de Política Econômica da
Fazenda, Fábio Kanczuk, anunciou que a previsão do PIB de 2017 recuou de 1,6%
para 1% e admitiu: “A confiança está voltando, mas esse retorno ficou um pouco
menor do que o previsto”.
O problema desse “um pouco menor” é que os empresários, os
trabalhadores, os funcionários, o Congresso e muito particularmente o governo
têm pressa. Não dá para patinar, tem de correr. Temer tem tido boa taxa de
sucesso nas votações no Congresso, mas já perdeu ministros amigões, como Romero
Jucá e Henrique Alves, e não tem tido tanto sucesso assim em confirmar que, com
ele, tudo seria diferente na economia. Seu grande trunfo até aqui é a sensação
de que não há alternativa. É torcer ou torcer para seu governo dar certo. Mas
Temer não pode esticar muito essa corda.
Brasil-EUA. Quando perguntei ao então embaixador
americano Clifford Sobel se o sucessor dele seria Thomas Shannon, Sobel pareceu
descrente: “Ele é maior do que o cargo”. Mas Shannon foi mesmo nomeado para
Brasília por Barack Obama, em 2009, e sua vinda foi bastante comemorada.
Se chegou em festa, foi embora em 2013 triste, humilhado,
com sua mulher aos prantos, depois de uma dupla desfeita do governo brasileiro:
seu almoço de despedida no Itamaraty não foi com o ministro nem o secretário
geral, mas com o subsecretário geral de política-1, Carlos Paranhos, do
terceiro escalão, que leu um discurso recheado de desaforos.
A determinação foi do Planalto, onde Dilma teve bons
motivos para cancelar a visita oficial aos EUA ao saber que era grampeada pela
NSA. Mas descontar dessa forma num amigo do Brasil como Shannon? Que, aliás,
virou assessor especial de John Kerry e hoje ocupa o terceiro cargo da
hierarquia do Departamento de Estado.
Pois bem. Shannon volta no início de dezembro a Brasília,
agora com Temer, e sua visita marca a reaproximação dos dois países e um
reencontro pessoal dele com o Brasil.
*Publicado no Portal Estadão em 22/11/2016