Explodir o País?*
Eliane Cantanhêde
A presidente Dilma Rousseff vai escorregando para o pé de
página nos jornais, com a lengalenga do “golpe”, mas, além de falar, ela e o PT
agem para detonar o Orçamento, que já está em frangalhos, e tentar inviabilizar
qualquer chance de sucesso do virtual governo Temer à custa da economia e do
País. A ordem é abrir as torneiras populistas e fechar os dados de governo para
a nova equipe. Quem lucra com isso? Ninguém, nem a própria Dilma.
Neste domingo, Primeiro de Maio, a expectativa é que
Dilma anuncie uma nova fraude embrulhada como “saco de bondades”: ao fingir dar
boas notícias para o trabalhador, só estará piorando ainda mais a vida dele. Se
já está deixando um déficit de quase R$ 100 bilhões neste ano, 11 milhões de
desempregados e uma desconfiança descomunal em relação ao Brasil, qualquer novo
gasto – com o carimbo ou não de “social” – não vai ajudar o trabalhador, só vai
prejudicá-lo. Os incautos não sabem disso, mas Dilma sabe.
O grande temor é que a ainda presidente use a caneta nos
estertores do seu mandato, até o último segundo, com o objetivo de empurrar
Michel Temer contra a parede. Se ela der um aumento irreal do salário mínimo e
corrigir a tabela do Imposto de Renda pensando com o fígado, não com a razão,
como Temer poderá corrigir isso depois?
Então, é assim: para o PT, a democracia só existe quando
está no poder. Se está fora, é “golpe”. O petista é do bem, justo, democrático
e preocupado com o social. O não petista é do mal, injusto, golpista e tem
horror de pobre. Então, vale tudo, até explodir as contas públicas e deixar uma
terra arrasada. E dane-se o País! Numa outra imagem, só tem jogo se o PT está
em campo. Se perde, ou se é expulso, leva a bola junto, com gritos ameaçadores
para animar a arquibancada (os que se dizem de “esquerda” a qualquer custo) e o
telespectador (a mídia e os mal informados do exterior).
Óbvio que há muita gente responsável e de bom senso que
não apenas compreende o que está acontecendo como se preocupa mais com o País
do que com um governo falido e um partido em polvorosa. Como exemplos, o
ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, e os presidentes do Banco Central,
Alexandre Tombini, e da Petrobrás, Aldemir Bendini. Segundo a turma do Temer,
eles têm sido “homens de Estado”. Mantêm a compostura até o fim. Não se viraram
contra o governo, mas não trabalham contra o País.
Nelson Barbosa, por exemplo, ouviu, mas não se
comprometeu com a ordem de Lula para dar um “chega pra lá” na Receita Federal e
abafar as investigações sobre sua família. E, agora, defende a chefe Dilma,
nega as pedaladas fiscais e alerta sobre como a história verá tudo isso, mas se
esforça para evitar a “bombas” acionadas por um governo que é um poço até aqui
de mágoas e dá sinais de que não se recusará a passar os dados necessários para
o novo governo.
Aliás, não deixa de ser de grande ironia que os maiores
perseguidos por Lula e Dilma sejam hoje os que mais dão a cara a tapa para
defender “o projeto”. Para ficar em três: a reforma agrária foi um fiasco com
Dilma, mas o MST é o maior agitador de ruas contra o impeachment; Flávio Dino
(PC do B) comeu o pão que o diabo amassou quando Lula jogou o PT do Maranhão no
colo dos Sarney, mas é o governador mais radicalmente pró-Dilma no País; José
Eduardo Cardozo foi perseguido e humilhado por Lula durante toda sua passagem
pela Justiça, mas é o defensor mais efetivo do governo em todos os fóruns.
Há dignidade em cair lutando e em ser “fiel na alegria e
na tristeza, na saúde e na doença”, como haverá mais dignidade em cair sem
explodir ainda mais a economia, a confiança, a imagem e os empregos do Brasil e
dos brasileiros. Já passou da hora de Dilma sair do jogo, voltar para casa e
deixar a bola em campo. A História agradeceria.
*Publicado no Estadão.com em 1º de maio de 2016