‘Gran Finale’ *
Eliane Cantanhêde
Virtualmente perdida a guerra do
impeachment, Dilma Rousseff, Lula e o PT lutam com unhas e dentes para vencer a
batalha pela narrativa política e para “infernizar” de véspera o virtual
governo Michel Temer. Contam para isso com a mídia internacional, tanto quanto
dependem de CUT, MST, UNE e MTST para agitar ruas e estradas.
Há um temor, na oposição, de que
Dilma articule um “gran finale” para o processo de impeachment e para seus anos
de governo. Algo como se acorrentar à mesa presidencial e forçar uma retirada à
força do palácio. Algo teatral e dramático para ilustrar sua indignação, gerar
imagens fortes e corroborar a narrativa do “golpe”.
São três os pontos centrais a serem
martelados dia e noite, dentro e fora do País: o impeachment é um “golpe” dado
“pela direita”, “pelos corruptos”, “pela mídia golpista”, tudo isso
personificado no deputado Eduardo Cunha; com Temer e o PMDB, será o fim dos
programas sociais, a começar do Bolsa Família; o novo governo vai intervir na
Polícia Federal e enterrar a Lava Jato.
A narrativa é a mesma, mas por
motivações diferentes. Dilma esperneia e se submete a terríveis
constrangimentos – como as fotos reveladoras da “miss Bumbum” no Ministério do
Turismo – tentando desesperadamente sair do governo e entrar para a história
como “vítima da direita corrupta”, não como a presidente despreparada que, além
das “pedaladas fiscais”, destruiu a economia, manchou a imagem do Brasil no
exterior, conviveu com o esfarelamento da Petrobrás e explodiu a “maior base
aliada do planeta”.
Lula, porque foi o presidente mais
popular da história e, mal passados cinco anos, anda às voltas com Lava Jato,
Zelotes, empreiteiras e filhos que, como a Coluna
do Estadão publicou, saem por aí comprando
cadeiras de R$ 15 mil. Não pega nada bem para quem mobiliza milhões de incautos
com o discurso da defesa dos “pobres” e de uma “esquerda” que se limita hoje a
uma expressão ao vento, um pretexto para defender o indefensável.
O PT, porque o partido é muito maior
do que Dilma Rousseff – aliás, nem queria a candidatura dela – e precisa
garantir a sua sobrevivência para além de Lula e Dilma ou, ao menos, a
sobrevivência política de muitos petistas que não macularam suas biografias nem
encheram as burras com mensalões, petrolões e relações perigosas com empresas
sujas. Eles precisam de uma narrativa que vitimize Dilma e carimbe os líderes
do impeachment como “golpistas”.
A estratégia tem legitimidade, mas
Dilma, Lula, PT e movimentos não lucram nada, mas pioram ainda mais a imensa
crise brasileira se decidem incendiar o País. Vetar a transição para o novo
governo é o de menos, até porque os ministros de Dilma estão aos montes
pró-impeachment, mas, ao tramar um aumento populista do salário mínimo no
próximo domingo, ao programar uma atualização irreal da tabela do Imposto de
Renda, eles não estão “infernizando” apenas a vida de Temer, mas a dos
brasileiros, sobretudo dos que já estão no inferno do desemprego.
Ontem mesmo, mais uma leva de
péssimas notícias: déficit fiscal de R$ 18 bilhões, o maior em 19 anos, e juros
de 300% ao ano no cheque especial, um recorde mundial. Dilma, Lula e o PT
querem aprofundar esse desastre para tentar colar os seus próprios cacos? Não
parece justo.
Luta política, sim. Disputar a
narrativa história, sim. Mas irresponsabilidade com a Nação, não. Enxovalhar a
imagem do Brasil no exterior, incendiar pneus, fechar estradas e detonar de vez
as contas públicas não vai melhorar a narrativa de ninguém. Ao contrário, só
piora tudo para todo mundo, inclusive Dilma, Lula e PT.
Desvio de função. A professora Janaína Paschoal falou mais dela
própria do que do pedido de impeachment na comissão do Senado. Adora a palavra
“eu” e o verbo na primeira pessoa.
*Publicado no Estadão.com em 29/04/2016