John Coltrane - foi um
saxofonista e compositor de jazz norte-americano, considerado
pela crítica especializada como o maior sax tenor do jazz e um dos maiores
jazzistas e compositores deste gênero de todos os tempos.
sexta-feira, 8 de abril de 2016
Boa Noite!
Opinião
Em ebulição*
Eliane Cantanhêde
O parecer do relator Jovair Arantes
(PTB), favorável ao impeachment de Dilma Rousseff, pode ser chamado de qualquer
coisa pelo governo, mas foi perspicaz. Considerou as questões jurídicas e as
pedaladas fiscais, descartou uma das imputações e citou o ambiente de recessão e
de desemprego em que a questão – essencialmente política – se desenvolve.
Arantes também delegou o julgamento
final ao Senado, deixando uma brecha para que novas denúncias, dessas que
pipocam a toda hora, como a da delação da empreiteira Andrade Gutierrez, possam
ser acrescentadas mais adiante à argumentação pró-afastamento de Dilma. O
governo não tem dúvidas: vai perder na Comissão do Impeachment e precisa
“trabalhar” o plenário da Câmara.
Sendo assim, o parecer virou senha
para pressionar os partidos, atrair apoios e convencer os que são, ou se dizem,
indecisos. O presidente do PP, Ciro Nogueira, anuncia que o partido é contra o
impeachment, mas o racha interno não deixa nada a dever ao do PMDB e pode ser
bem ilustrado por Paulo Maluf. Antes contra, agora ele se diz a favor do
afastamento de Dilma, indignado com a imoralidade da compra de votos pelo
governo. A gente bem poderia dormir sem essa...
O pequeno PV, que abriga o deputado
Sarney Filho, caçula do ex-presidente José Sarney, um dos próceres do PMDB, vai
votar contra Dilma. A forte e suprapartidária bancada evangélica também. No
PMDB, o senador Romero Jucá assume a presidência pronto para os embates com o
governo e com a ala governista. Ele tem dois trunfos: a tribuna do Senado a
qualquer momento e o fato de ter votado contra Dilma e a favor do tucano Aécio
Neves em 2014. De incoerência, não pode ser acusado.
“O processo (de impeachment)
está em aberto, não há vencedor ainda. É um processo em ebulição nos partidos,
na sociedade e nos poderes da República”, disse ele ontem, depois de enviar
para o Conselho de Ética do PMDB os pedidos regionais de expulsão dos que
insistem em se manter ministros. Pensa, ainda, em fechar questão a favor do
impeachment. Ou seja: os pemedebistas que votarem contra estarão sujeitos a
sanções.
Fora do Congresso, mas nem tanto, a
Confederação Nacional da Agricultura e a Sociedade Rural Brasileira divulgaram
notas apoiando o afastamento da presidente. Não fosse por outra coisa, porque
não digeriram os palanques de Dilma no Planalto, aquiescendo quando militantes
rurais ameaçaram invadir fazendas caso ela caia. Detalhe: a presidente
licenciada da CNA é Kátia Abreu, ministra da Agricultura e amiga de
Dilma.
Esse movimento do setor ruralista vai
ao encontro do que a consultoria Macroplan apurou, de 28 a 31 de março, com 60
empresários, executivos, gestores públicos, economistas, cientistas políticos e
jornalistas: para 69%, Dilma sofrerá impeachment ainda neste ano. Além disso,
14% acreditam em cassação pelo TSE, 14% que Lula possa repactuar o governo, 7%
que Dilma ficará e a economia continuará a afundar. Do total, 4% ainda creem na
renúncia.
Em Brasília, ninguém sabe com certeza
o que vai acontecer, mas todo mundo sabe que alguma coisa tem de acontecer.
Impeachment ou não, cassação da chapa Dilma-Temer no TSE, antecipação das
eleições... Quem tem tanta alternativa é porque, talvez, não tenha nenhuma. Ou
só tenha, de fato, uma: o impeachment.
Os defensores dessa tese acreditam
que a economia, a Lava Jato e as delações sobre as campanhas de Dilma têm um
efeito direto no eleitor. Logo, no voto do parlamentar sobre o impeachment.
Como diz Jucá, refletindo um temor generalizado: “Sem impeachment, o dia
seguinte não será de vitória do governo e de Dilma, mas um estouro do mercado,
com o agravamento de uma situação na economia que já é dramática e se agrava
com grande velocidade”. Quem haverá de discordar?
Publicado no Estadão.com em
08/04/2016
Bom Dia!
Labirintite!
Aproveitando para agradecer o grande número de mensagens que recebi depois que informei, no Facebook, que estou passando por um pequeno problema de Labirintite, gostaria de dizer a todos que, cumprindo um absoluto repouso e com a medicação indicada, estou realmente em franca recuperação. Já passaram os momentos ruins e, aos poucos, estou voltando ao normal.
Como fui recomendado a não permanecer muito tempo na frente do computador, vou trocar, com vantagens para os leitores, meu comentário de todos os dias por um editorial do jornal Gazeta do Povo, do Paraná. Ele coloca muito bem o que está absolutamente claro quando se fala em buscar o enfrentamento entre os que querem e os que são contra o impeachment da presidente Dilma. Leiam e aproveitem.
Tenham todos um Bom Dia!
Aproveitando para agradecer o grande número de mensagens que recebi depois que informei, no Facebook, que estou passando por um pequeno problema de Labirintite, gostaria de dizer a todos que, cumprindo um absoluto repouso e com a medicação indicada, estou realmente em franca recuperação. Já passaram os momentos ruins e, aos poucos, estou voltando ao normal.
Como fui recomendado a não permanecer muito tempo na frente do computador, vou trocar, com vantagens para os leitores, meu comentário de todos os dias por um editorial do jornal Gazeta do Povo, do Paraná. Ele coloca muito bem o que está absolutamente claro quando se fala em buscar o enfrentamento entre os que querem e os que são contra o impeachment da presidente Dilma. Leiam e aproveitem.
Tenham todos um Bom Dia!
Conivência com
os incendiários*
“A forma de enfrentar a bancada da bala contra
o golpe é ocupar as propriedades deles ainda lá nas bases, lá no campo. E é a
Contag, são os movimentos sociais do campo que vão fazer isso. Ontem dizíamos
na passeata: vamos ocupar os gabinetes, mas também as fazendas deles. Porque se
eles são capazes de incomodar um ministro do Supremo Tribunal Federal, nós
vamos incomodar também as casas, as fazendas e as propriedades deles.” Foi com
essas palavras nada ambíguas que Aristides Santos, secretário da Confederação
Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), anunciou seu modo de
resistir ao impeachment da presidente Dilma Rousseff no dia 1.º. E pregou esse
recurso à violência diante da própria Dilma.
Nada diferente daquilo que o
presidente da CUT, Vágner Freitas, afirmou, também em evento no Planalto, com a
presença de Dilma, em agosto de 2015: “Somos defensores da unidade nacional, da
construção de um projeto de desenvolvimento para todos e para todas. E isso
implica, neste momento, ir para as ruas entrincheirados, com armas nas mãos, se
tentarem derrubar a presidenta”. Disse ainda que “nós seremos um exército” se
houver “qualquer tentativa de atentado à democracia, à senhora ou ao presidente
Lula”.
O que isso quer dizer? Que Dilma
Rousseff não se contenta com promover a negociação do desespero no Congresso
Nacional, entregando ministérios importantes para pessoas desqualificadas em
troca dos votos para se livrar do impeachment. A conivência da presidente
diante de promessas inequívocas de recurso à violência significa que Dilma
também quer poder contar com as ameaças dos “movimentos sociais” contra a
população que deseja apenas ver a lei ser cumprida. É por essas e outras que
não se viu reprimenda quando Guilherme Boulos, coordenador do Movimento dos
Trabalhadores Sem-Teto, afirmou, no fim de março, que “não haverá um dia de paz
do Brasil. Podem querer derrubar o governo, podem prender arbitrariamente o
Lula ou quem quer que seja, podem querer criminalizar os movimentos populares,
mas achar que vão fazer isso e depois vai reinar o silêncio e a paz de
cemitério é uma ilusão de quem não conhece a história de movimento popular
neste país (...) Este país vai ser incendiado por greves, por ocupações,
mobilizações, travamentos. Se forem até as últimas consequências nisso não vai
haver um dia de paz no Brasil”.
O que está em jogo aqui não é a
capacidade real destes movimentos de cumprir as promessas que fazem – ainda que
se trate de bravata, as meras ameaças já são graves o suficiente e merecem a
devida contestação legal. Mas o maior escândalo nisso tudo é ver que Dilma e o
petismo não mexem um dedo para conter os ânimos paramilitares dos tais
“movimentos sociais”. Manter esse tipo de dúvida sobre a população e os
parlamentares – “Haverá conflitos nas ruas?” “Minha propriedade corre risco?” –
é apenas uma estratégia a mais para Dilma se manter agarrada à cadeira
presidencial, assim como comprar votos entregando cargos, assim como repetir
infinitamente que há um “golpe” em curso no país. O recurso à violência foi
trivializado pelo petismo.
O discurso de Dilma logo após a fala
incendiária de Aristides Santos parece uma tentativa de esfriar os ânimos. Mas
só parece. “Nós não defendemos qualquer processo de perseguição de qualquer
autoridade porque pensa assim ou assado. Não defendemos a violência, eles
exercem a violência, nós não.” “Eles”, no caso, são a oposição, apesar de ainda
estar para aparecer um equivalente
oposicionista de Boulos, Santos ou Freitas,
alguém prometendo colocar fogo no país como fazem os três líderes defensores de
Dilma. E anos e anos de petismo no poder já deixaram claro que, para o petismo,
invasões de terra ou de prédios não são mesmo violência, não são atentado à
lei: são apenas “justiça social”.
* Publicado na Gazeta do Povo em 08/04/2016
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