Dilma assume a
Fazenda e nomeia Barbosa
A razão pela
qual Joaquim Levy foi um dos mais fracos ministros da Fazenda dos últimos 25
anos ficou explícita ontem, na confirmação da sua troca por Nelson Barbosa,
ministro do Planejamento. Além de não ter sido qualquer surpresa — pelo perfil
de Barbosa, próximo ao PT —, a mudança confirma que a presidente Dilma Rousseff
é o verdadeiro ministro da Fazenda, o que implica nova dose de riscos para o
país e mais preocupações com o futuro, já muito nebuloso, da economia.
Levy, na
realidade, jamais pôde exercer na plenitude o cargo. O que reforça, entre
várias análises sobre este primeiro ano de Dilma II, a de que a presidente
aceitou colocar na Fazenda alguém como Levy — conhecido organizador de finanças
públicas e que executou bom trabalho na secretaria do Tesouro, no primeiro
mandato de Lula — mais para aquietar mercados, até porque o ministro passara um
bom tempo em cargo de direção no Bradesco, do que para fazer as reformas
necessárias (da Previdência, do Orçamento etc). Tampouco cortes efetivos no
Orçamento, de que Dilma sempre foi contrária.
Ao nomear
Barbosa no Planejamento, este, sim, de sua confiança, a presidente repetiu a
fórmula, muito usada, de ter na equipe um contraponto ao ministro da Fazenda,
para controlá-lo. Foi isso, porém bem mais: Nelson Barbosa ganharia todas as
disputas mais importantes que teve com Levy. Não era mesmo para o ministro da
Fazenda atuar.
Parece até que
se tratava de uma farsa. Mesmo quando, anunciada ainda no final do governo
Dilma I — movimento feito para se contrapor à velocidade da deterioração do
ambiente econômico —, a dupla estabeleceu metas de superávits primários. Pelo
menos Levy não tinha ideia dos bilhões das pedaladas camuflados pela
“contabilidade criativa” exercitada pelo secretário do Tesouro Arno Augustin,
com o conhecimento do ministro da Fazenda Guido Mantega, e sob as bênçãos de
Dilma. Já a virtual condutora da política econômica.
À medida que os
esqueletos fiscais eram exumados, seria necessário fazer cortes mais fundos.
Nada aconteceu, porque Dilma não aceitava, e os gastos continuaram e continuam
a subir. Como não concordou agora com o tíbio superávit de 0,7% do PIB
defendido por Levy para 2016, convertido por ela e Nelson Barbosa em 0,5%, mas
que na verdade será zero. E assim, a dívida pública subirá mais degraus,
enquanto continuarão a cair as notas de risco do país. Cimenta-se a sepultura
do Plano Real.
O enorme risco é
Dilma dobrar a aposta com a ressurreição, agora às claras, do “novo marco
macroeconômico”, aplicado por ela no primeiro mandato, uma política ruinosa da
qual Barbosa foi um dos formuladores. Mesmo nesses tempos de feriados, os
mercados, na segunda-feira, indicarão o tamanho do pessimismo com o futuro da
economia brasileira.