Meu colega de profissão, mas muito mais meu amigo e companheiro
de grandes e inesquecíveis jornadas, Flávio Dutra, com quem tive o prazer de trabalhar
na TVE, publica na ZH de hoje um artigo sobre a Fundação Cultural Piratini.
Com seu profundo conhecimento do assunto, por experiências próprias,
o Flávio diz muito bem sobre o que são a TVE e a FM Cultura e a quem devem
servir. Diferentemente dos que se julgam únicos como comandantes da Fundação,
as emissoras são dos e para os gaúchos, não de ou para um partido político.
Mesmo depois de cinco anos, até agora encontro pessoas que
me perguntam se o Consumidor em Pauta voltará ao ar. Era um programa de
utilidade pública, como deve ser a Fundação Cultural Piratini.
O artigo do Flávio Dutra merece ser lido, principalmente pelos que se julgam donos da TVE e da FM Cultura. Não são.
Tenham todos um Bom Dia!
Nossa TVE
Flávio Dutra*
Entre tantos assuntos candentes deste tórrido janeiro
surpreende que a TVE figure como fonte de debates e polêmica. De um lado questiona-se a suspensão do edital
para a produção de séries para TV, devido à falta de previsão de recursos para
as contrapartidas; de outro critica-se a drástica redução orçamentária da
Fundação Cultural Piratini, o que inviabilizaria boa parte das produções das
suas emissoras, a TVE e a FM Cultura. Na
raiz dos problemas está a precária situação financeira do Estado, a exigir sacrifícios
de todos os seus órgãos.
Entretanto, o debate não se esgota na dificuldade financeira, que é episódica,
nem envolve o uso político dos canais, como em passado recente. Questiona-se agora a própria vinculação das
emissoras à estrutura estatal, sob a alegação de que não é função do Estado manter veículos de
comunicação. Uma posição que não leva em conta experiências bem sucedidas de
canais públicos, como a PBS nos EUA, a BBC inglesa, a TVE espanhola e mesmo a
TV Cultura-SP.
Diferente do amigo e confrade David Coimbra, acredito
firmemente que as emissoras públicas têm papel relevante a desempenhar. No caso
da TVE e da FM Cultura, o de expressar
toda a diversidade e riqueza da
cultura gaúcha, dos concertos da Ospa aos eventos tradicionalistas, da
literatura às produções audiovisuais e de dramaturgia, do Carnaval ao Hip Hop,
com espaço para a cidadania, a educação,
programas infantis, e até para a
informação e o debate, por que não?
O Rio Grande precisa se ver e ser visto na TVE, a quem cabe exibir o que
as emissoras comerciais não mostram porque estão focadas no entretenimento para
as grandes audiências.
Foi o que busquei construir nas minhas três passagens pela
Fundação, duas delas como presidente. E é na condição de quem se sente
comprometido com o futuro da instituição que confesso o quanto me dói cada vez
que ouço que só os governos do PT valorizaram os dois veículos, enquanto as
outras administrações só querem sucateá-los e forçar sua privatização, mais uma
besteira recorrente. A verdade é que
cada dirigente que por ali passou deu o
melhor de seus esforços, mesmo diante das adversidades, para que se consolidassem como inalienáveis
emissoras públicas dos gaúchos.
Conhecendo a atual
presidente, a jornalista Isara Marques, profissional experiente, com liderança e comprometimento diante dos
desafios propostos, tenho absoluta certeza de que ela conseguirá dar a volta por cima e fazer da
TVE e da 107,7 verdadeiras expressões da nossa cultura e patrimônios de todos
nós. Especialmente se contar com a mobilização dos servidores e o apoio do
Conselho e de seu público – que não é massivo, mas é fidelíssimo.
* Jornalista – Artigo publicado em ZH de hoje,dia 30/01/14