quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Opinião

Dilma: verdade ou fantasia?

Machado Filho

Matéria publicada em 11 de setembro de 2014, durante a campanha eleitoral. Nela, a candidata Dilma Roussef critica a candidata Marina Silva por contar com o apoio de Neca Setúbal, herdeira do Banco Itau

— Não adianta querer falar que eu fiz bolsa banqueiro. Eu não tenho banqueiro me apoiando. Eu não tenho banqueiro, você entende, me sustentando — disse Dilma na ocasião.

Candidata à reeleição, a presidente Dilma Rousseff afirmou nesta quinta-feira que Neca Setubal, herdeira do banco Itaú e uma das coordenadoras da campanha de Marina Silva (PSB), está se comportando nestas eleições como banqueira, e não como educadora. Questionada sobre a mudança de posição do PT em relação à Neca — que em 2012 colaborou com o programa de educação do então candidato petista à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad —, 

Dilma afirmou que quem mudou de atitude foi a aliada de Marina:

— Mudou porque ela está se comportando como banqueira. Na medida que sou herdeira do banco Itaú e defendo uma política que beneficia claramente os bancos, que é a política de independência do Banco Central, de redução do papel dos bancos públicos, eu estou fazendo papel de banqueira. Não estou falando sobre educação nem sobre criança nem sobre creche. Não dá para vestir as duas roupas, ou é uma ou é outra, ou é a verdadeira ou é a fantasia.

Matéria publicada hoje, 20 de novembro de 2014, no jornal Estado de São Paulo, depois de Dilma ter sido reeleita presidente da República.

O presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, alegou todos os compromissos que tem a frente do banco para não aceitar o convite de Dilma Rousseff para assumir o Ministério da Fazenda no lugar de Guido Mantega, segundo apurou o Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado. O executivo é cotado para substituir Lázaro de Mello Brandão, presidente do conselho de administração da instituição, e está sendo preparado há anos para galgar tal posto.

Afinal de contas, em que momento Dilma está sendo verdadeira e sincera? Quando era candidata e renegava a presença de banqueiros a seu lado, ou gora, depois de reeleita, quando convida o presidente de um Banco para ser seu ministro da Fazenda?

Depois de não cumprir diversas promessas de campanha, adotando medidas que prometeu não adotar, Dilma extrapola todos os limites ao desejar entregar a economia do Brasil a um banqueiro. E, se não for Trabuco, será Joaquim Levy, que administra fundos do Bradesco.

É bom não esquecer do que Dilma afirmou sobre a “mudança” de Neca Setubal: “mudou ela que está se comportando como banqueira” e finalizou dizendo: “não dá para vestir as duas roupas, ou é uma ou é outra, ou é a verdadeira ou é a fantasia”

E agora, presidente Dilma, que roupa a senhora está usando ao convidar um banqueiro para comandar seu ministério da Fazenda? A verdadeira ou a fantasia?

Opinião

A pequenez da presidente

O ESTADO DE S.PAULO
20 Novembro 2014

Uma notícia que começa informando que a presidente Dilma Rousseff passou mais de 10 horas reunida com seus conselheiros na residência oficial do Alvorada para tratar do impacto da Operação Lava Jato permitiria supor que finalmente a chefe do governo resolveu mudar de atitude - se não "para sempre", como acredita que a devassa da corrupção na Petrobrás fará com o País, pelo menos para olhar nos olhos a crise que não cessa de se desdobrar. 

A uma leitura apressada, portanto, Dilma teria compreendido que o escândalo não se esvairá a tempo de preservar o seu segundo mandato, nem, muito menos, poderá ser neutralizado mediante bruxarias destinadas a preservar os interesses das levas de protagonistas que o cevaram. Eis por que, em um assomo de lucidez, teria se trancado com interlocutores de confiança em busca do caminho mais adequado para agir à altura da hora.

Nada disso, evidentemente. Dilma mais uma vez demonstrou que lhe falta imaginação política, para não falar em grandeza moral ou figurino de estadista: na bonança ou sob a tormenta, é a mesma mediocridade, a mesma cegueira, a mesma esperança pueril de que as adversidades se dissiparão por si mesmas e tudo convergirá para o desfrute de mais quatro anos de mando soberano. Pois o que se informa é que o motivo da interminável reunião de anteontem foi preparar uma "agenda positiva" para tirar do centro das atenções a sangria da Petrobrás, que pode ter alcançado entontecedores R$ 21 bilhões, segundo estimativas de um banco americano. Ou, por alto, 200 mensalões. Depois de exaustiva falação, os convidados da presidente - o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, o seu colega da Justiça, José Eduardo Cardozo, e a estrela em ascensão no Planalto, o governador da Bahia, Jaques Wagner, provável ministro ainda não se sabe do que - parecem ter chegado a uma conclusão momentosa.

Diferentemente do que assessores palacianos não identificados teriam dito à chefe, a trinca avaliou que o anúncio dos primeiros membros do futuro Gabinete, a começar pelo titular da Fazenda, não dariam conta de abafar o incêndio da Petrobrás e de impedir que o fogaréu se alastre ao coração do poder. Tivessem eles concluído o oposto, ou não ter concluído nada, tanto faz. 
O estarrecedor, o que não pode ser minimizado, é que nenhum dos bravos companheiros da presidente, muito menos a anfitriã, parece ter se enfurnado no Alvorada para descortinar como ela poderia intervir, na condição de chefe de Estado, no escândalo que concentra as atenções nacionais. Estavam todos ali, irmanados na mediocridade, atrás de uma fresta para a qual a presidente deveria correr a fim de ficar ao abrigo dos estilhaços e não pôr em risco o suposto capital político da reeleição. Suposto porque, como se sabe, Dilma saiu apequenada da batalha.

A fragilidade da presidente aumenta na razão direta das denúncias, delações e confissões envolvendo os capitães da empreita brasileira e do acúmulo de evidências de promiscuidade entre eles com antigos e atuais figurões da Petrobrás e dirigentes petistas. O tesoureiro do partido, deputado João Vaccari, encabeça o que decerto se revelará uma lista de apreciáveis proporções. Uma planilha apreendida pela Polícia Federal indica que a cunhada do político teria recebido R$ 244 mil do onipresente Alberto Youssef, o doleiro que, em troca de redução da pena, desencapou o fio da história escabrosa. 

Numa hipótese caridosa, Dilma simplesmente não sabe o que fazer diante do enrosco. O mais provável, no entanto, é que sabe, mas não se dispõe a fazer, para não derrubar sobre a própria cabeça as colunas do esquema de poder às quais se mantém abraçada. De outro modo, não se explica por que ela ainda não tomou a decisão de trocar toda a diretoria da Petrobrás.

Esta é uma presidente sem estofo. Das manobras de varejo que o jargão planaltino chama de "agenda positiva", embora não seja nem uma coisa nem outra, faz parte o engavetamento das medidas de ajuste das contas públicas, como aumento de impostos. Com a mesma intenção, o ministro Aloizio Mercadante anuncia - agora! - o início das atividades de um grupo de trabalho para estimular a indústria.

Esclarecimento - A respeito do editorial A falta que faz a Lei Anticorrupção, esclarecemos que a referida lei necessita de regulamentação apenas no seu artigo 7.º - e isso não a impede de ser aplicada e produzir efeitos.

Operação Lava Jato

Justiça bloqueia R$ 47, 8 milhões
Medida atinge 16 pessoas e 3 empresas
Juiz Sergio Moro
O Banco Central informou hoje (20) ao juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato na primeira instância, que cumpriu decisão que determinava o bloqueio das contas de 16 suspeitos de envolvimento no esquema de corrupção que atuava na Petrobras e de três empresas investigadas pela operação. Segundo o ofício enviado pelo BC à Justiça Federal do Paraná, foram bloqueados R$ 47.887.164,89.
O juiz Sérgio Moro havia determinado na última terça-feira (18) a quebra de sigilo bancário e o bloqueio de bens de 16 dos 23 presos na Lava Jato, além das três empresas ligadas aos investigados. No documento enviado ao Banco Central, o magistrado solicitava dados sobre contas, investimentos e outros ativos mantidos entre os dias 5 e 18 de novembro deste ano. O magistrado também havia determinado que o Banco Central bloqueasse valores depositados nas contas dos suspeitos até o limite de R$ 20 milhões.
Entre os investigados que tiveram os bens bloqueados estão o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, que tinha R$ 3,2 milhões em suas contas, e o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, que somava R$ 8,8 mil.

No despacho em que determinou que Duque continuasse preso, o juiz Sérgio Moro alegou risco de o ex-dirigente fugir para o exterior, já que, segundo o magistrado, o ex-diretor da estatal mantém uma "verdadeira fortuna" em contas bancárias fora do país. Esses valores que estariam no exterior não foram bloqueados pela Justiça nesta quinta.

Clube secreto

Senha permitia acesso ao dinheiro

Uma senha,previamente combinada,como nos clubes secretos, era a chave para que os beneficiários tivessem acesso às “malas” enviadas pelo doleiro Alberto Youssef. O jornal Estado de São Paulo, que divulgou a notícia, diz que os subordinados de Youssef recebiam um nome, um endereço e o horário de entrega.

O Estadão teve acesso a um bilhete sobre a entrega de R$ 40 mil a um executivo de São Bernardo do Campo (SP), onde está escrito “senha: Feliz 2014”, que o enviado do doleiro deveria ouvir antes de entregar o dinheiro. O executivo, no caso, é o engenheiro Ricardo Kadayan, da Ductor Implantação de Projetos Ltda. O engenheiro informou que o endereço constante do bilhete, é o de sua residência, mas negou conhecer Youssef e que tenha recebido o dinheiro. Nem Kadayan nem a Ductor são investigados pela PF.

Atenção!

Morre ex-ministro Márcio Thomaz Bastos 

O advogado e ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, de 79 anos, morreu na manhã desta quinta-feira (20) no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. A informação foi confirmada pela equipe médica.
Bastos foi internado na terça-feira (18) para tratamento de descompensação de fibrose pulmonar, segundo boletim médico divulgado pelo hospital.
 Um dos advogados criminalistas mais influentes do país, Bastos foi convidado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para compor a equipe do primeiro mandato. Comandou o  Ministério da Justiça entre 2003 e 2007.


Poemas no ônibus

Alma leve

  Entre o que
  se pode
  e o que
  se deve,
  prefiro
  o que
  se atreve.

Demétrio De Azeredo Soster