Bom Dia
Hoje, bem cedo,
li o editorial do Estadão e confesso que fiquei indeciso entre escrever o meu
comentário diário ou reproduzir aqui a opinião do jornal. Pela relevância e
atualidade do tema, divido com todos o Editorial de O Estado de São Paulo, que analisa
as declarações da presidente Dilma Rousseff (PT) sobre a barbárie que vem sendo
cometida por extremistas do Estado Islâmico. Seria bom que cada um, depois de
ler o Editorial, se desse conta que tem muita gente que apoia o pensamento da
presidente.
Tenha todos um
Bom Dia!
O mundo
encantado de Dilma
O ESTADO DE
S.PAULO
25 Setembro 2014
Um turista francês de 55 anos, chamado
Hervé Goudel, foi decapitado na Argélia por um grupo extremista que disse estar
sob as ordens do Estado Islâmico (EI), a organização terrorista que controla
atualmente parte da Síria e do Iraque e lá estabeleceu o que chama de
"califado". Um vídeo que mostra a decapitação de Goudel foi divulgado
ontem, para servir como peça de propaganda do EI - cujos militantes já
decapitaram em frente às câmeras dois jornalistas americanos e um agente
humanitário britânico e estarreceram o mundo ao fazer circular as imagens de
sua desumanidade.
Pois é com essa gente que a
presidente Dilma Rousseff disse que é preciso "dialogar".
A petista deu essa inacreditável
declaração a propósito da ofensiva militar deflagrada pelos Estados Unidos
contra o EI na Síria. Numa entrevista coletiva em Nova York, na véspera de seu
discurso na abertura da Assembleia-Geral da ONU, Dilma afirmou lamentar
"enormemente" os ataques americanos contra os terroristas. "O
Brasil sempre vai acreditar que a melhor forma é o diálogo, o acordo e a
intermediação da ONU", disse a presidente - partindo do princípio,
absolutamente equivocado, de que o EI tem alguma legitimidade para que se lhe
ofereça alguma forma de "acordo".
É urgente que algum dos assessores
diplomáticos de Dilma a informe sobre o que é o EI, pois sua fala revela
profunda ignorância a respeito do assunto, descredenciando-a como estadista
capaz de portar a mensagem do Brasil sobre temas tão importantes quanto este.
O EI surgiu no Iraque em 2006 por
iniciativa da Al-Qaeda, para defender a minoria sunita contra os xiitas que
chegaram ao poder depois da invasão americana. Sua brutalidade inaudita fez com
que até mesmo a Al-Qaeda renegasse o grupo, que acabou expulso do Iraque pelos
sunitas. A partir de 2011, o EI passou a lutar na Síria contra o regime de
Bashar al-Assad. Mas os jihadistas sírios que estão na órbita da Al-Qaeda
também rejeitaram o grupo, dando início a um conflito que já matou mais de 6
mil pessoas.
Com grande velocidade, o EI ganhou
territórios na Síria e, no início deste ano, ocupou parte do Iraque, ameaçando
a própria integridade do país. No caminho dessas conquistas, o EI deixou um rastro
de terror. Além de decapitar ocidentais para fins de propaganda, seus métodos
incluem crucificações, estupros, flagelações e apedrejamento de mulheres.
"A brutalidade dos terroristas
na Síria e no Iraque nos força a olhar para o coração das trevas", discursou
o presidente americano, Barack Obama, na Assembleia-Geral da ONU, ao justificar
a ação dos Estados Unidos contra o EI - tomada sem o aval do Conselho de
Segurança da ONU. Em busca de apoio internacional mais amplo - na coalizão
liderada por Washington se destacam cinco países árabes que se dispuseram a
ajudar diretamente na operação -, Obama fez um apelo para que "o mundo se
some a esse empenho", pois "a única linguagem que os assassinos
entendem é a força".
Pode-se questionar se a estratégia de
Obama vai ou não funcionar, ou então se a ação atual é uma forma de tentar
remendar os erros do governo americano no Iraque e na Síria (ver o editorial A
aventura de Obama, abaixo). Pode-se mesmo indagar se a operação militar, em si,
carece de legitimidade. Mas o fato incontornável é que falar em
"diálogo" com o EI, como sugeriu Dilma, é insultar a inteligência
alheia - e, como tem sido habitual na gestão petista, fazer a diplomacia
brasileira apequenar-se.
Em sua linguagem peculiar, Dilma
caprichou nas platitudes ao declarar que "todos os grandes conflitos que
se armaram (sic) tiveram uma consequência: perda de vidas humanas dos dois
lados". E foi adiante, professoral: "Agressões sem sustentação,
aparentemente, podem dar ganhos imediatos. Depois, causam enormes prejuízos e
turbulências. É o caso, por exemplo, do Iraque. Tá lá, provadinho, no caso do
Iraque". Por fim, Dilma disse que o Brasil "é contra todas as
agressões" e, por essa razão, faz jus a uma cadeira no Conselho de
Segurança da ONU - para, num passe de mágica, "impedir essa paralisia do
Conselho diante do aumento dos conflitos em todas as regiões do mundo".