Editorial do
jornal O Estado de São Paulo, edição deste domingo, 14 de setembro, sobre a
baixaria e a apelação que tomaram conta da campanha eleitoral para presidente.
A razão contra a
baixaria e a apelação
O ESTADO DE
S.PAULO
14 Setembro 2014
A inacreditável baixaria e a apelação
na qual o desespero de Dilma Rousseff e a empáfia de Marina Silva transformaram
a campanha eleitoral em sua fase decisiva tiveram um contraponto na atuação de
Aécio Neves, terceiro colocado nas pesquisas de intenção de voto, em sua
participação, no último dia 10, na rodada de entrevistas com os presidenciáveis
realizada pelo jornal O Globo. No momento em que o PT apela para o que sabe
fazer melhor - atacar e iludir - e Marina recorre ao bom-mocismo e à
manipulação de obviedades para seduzir um eleitorado ávido por mudanças, o candidato
do PSDB introduziu um sopro de racionalidade no debate eleitoral.
O que se pode esperar daqui para frente
da campanha petista é a desfaçatez crescente de Dilma Rousseff diante do mar de
lama que envolve seu governo, como ela demonstrou sem o menor constrangimento
na entrevista ao Estado publicada no dia 9, ao responder sobre o mais recente
escândalo na Petrobrás: "Se houve alguma coisa, e tudo indica que houve,
eu posso garantir que todas, vamos dizer assim, as sangrias que eventualmente
pudessem existir estão estancadas". "Sangrias", aliás, sobre as
quais a ex-ministra de Minas e Energia e chefe do governo "não tinha a
menor ideia".
Marina Silva, por sua vez, tem falado
muito sobre a "nova política" que se propõe a levar ao Planalto e
pouco sobre como e o que fará para transportá-la do plano das boas intenções
para a realidade dura de um ambiente político que a prática dos últimos 12 anos
levou a limites extremos de degradação. E fala pouco sobre os 24 anos em que,
sob as asas do guru Lula, militou nas falanges petistas que, com denodo e
método, se dedicaram a desmoralizar as instituições democráticas do País.
Surpreendido, como todo o Brasil,
pela reviravolta provocada na campanha eleitoral com a morte trágica de Eduardo
Campos, Aécio Neves, cuja candidatura até então parecia presença certa contra
Dilma Rousseff no segundo turno, defronta-se agora com a necessidade de, em
circunstâncias mais desfavoráveis do que até então, demonstrar que é a melhor
opção para um eleitorado claramente ávido por mudanças.
Sem considerar a questão estritamente
política, que é essencial, mas pouco compreendida em toda sua complexidade - ou
simplesmente rejeitada pela maior parte do eleitorado -, o fator decisivo numa
eleição presidencial é certamente a economia, traduzida em seus efeitos sobre o
cotidiano dos cidadãos. Para reduzir a questão a sua expressão mais simples,
quando a economia vai mal a produção cai, os empregos mínguam, a carestia
aumenta e a insatisfação geral se instala. É exatamente o que acontece hoje no
País, depois de quatro anos de incompetente e desastrado governo.
Diante desse desastre que nem a
indispensável existência de programas sociais como o Bolsa Família consegue
mais dissimular, está claro que o Brasil precisa, mais uma vez, de uma
competente ação governamental de estabilização e desenvolvimento econômico, a
exemplo do que ocorreu 20 anos atrás, quando a inflação anual atingia incríveis
quatro dígitos e o então ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, Fernando
Henrique Cardoso, comandou uma equipe de economistas que criou e implantou o
Plano Real, a partir de três fundamentos básicos: metas de inflação, câmbio
flutuante e superávit primário.
Esse é, claramente, um desafio para o
qual Dilma Rousseff, até por formação ideológica, não tem a menor disposição -
nem o PT dispõe de quadros habilitados - para enfrentar. Marina Silva, por sua
vez, tampouco conseguiu demonstrar até agora genuína disposição, e
disponibilidade do necessário apoio de quadros técnicos, para a difícil tarefa
de recuperar a economia brasileira.
Além do comprometimento histórico dos
tucanos com a estabilidade e o desenvolvimento econômico do País, Aécio Neves
pode contar com a credibilidade de quadros técnicos comprovadamente
competentes. E essa foi a ênfase de sua participação na entrevista ao jornal
carioca, ao repudiar a baixaria e a apelação emocional na campanha: "Tenho
feito um esforço maior e vou fazê-lo até o último dia desta eleição. Acredito
que, no momento da decisão, vai prevalecer a onda da razão".