Muito além do
sonegômetro
André Machado*
Ontem
(25/03), escrevi aqui sobre a relação entre o que se arrecada de impostos no
Brasil e a contrapartida em serviços públicos. Muita gente sugeriu que eu
também abordasse um outro lado da moeda, a sonegação. Coincidentemente, há
ótimas reportagens recentes sobre o tema. Eu recomendo, entre tantas, a que li
no jornal Valor Econômico.
Conforme dados
divulgados na semana passada pelo Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda
Nacional (Sinprofaz), o Brasil deixou de arrecadar mais de R$ 106 bilhões, por
conta da sonegação, só nos primeiros 100 dias de 2014. E faço a mesma pergunta.
É muito? Acho que sim. No ano passado, o rombo ficou em R$ 415 bilhões. Mais ou
menos o que se arrecadou no primeiro trimestre deste ano.
Numa conta pra lá de arredondada, sem pretensão de entrar no
terreno da análise econômica, é como se o Brasil precisasse de um quinto
trimestre no ano só para compensar a sonegação.
Também ontem, escrevi que, pior do que o tamanho da carga
tributária, só a insuficiência da contrapartida que nos é oferecida por meio de
serviços públicos – que precisamos complementar com outros pagamentos à
iniciativa privada. Como se fosse uma bitributação. No caso da sonegação, faço
mais ou menos o mesmo raciocínio.
Pior do que os gordos bilhões que não entram na receita pública
é o desrespeito a todos os empreendedores que arriscam quebrar mas não deixam
de pagar seus impostos. Ou com a gente que, como consumidor e assalariado, não
tem sequer margem para ginástica e marcha na hora dos descontos em folha e dos
tributos pagos na boca do caixa do supermercado.
Quando se fala em redimensionamento da carga tributária
brasileira, é preciso que se estabeleçam, simultaneamente, medidas preventivas
e políticas de controle e combate à sonegação. Não é justo que a gente deixe
boa parte da renda com a necessária mordida do fisco enquanto uns poucos lucram
muito deixando de fazer sua contribuição.
Discuta este tema com seus amigos, colegas de trabalho,
familiares. Leve o debate para a sua associação , sindicato, partido. E, uma
vez feita a sua parte, cobre posições e atitudes dos seus representantes
políticos. É assim que a gente muda para melhor.
Aproveite o dia.
*Jornalista