Nada acontece por acaso.
Difícil é achar ou admitir as
causas.
Cesar Cabral*
Há uma frase muito conhecida, principalmente, entre os
gaúchos que vivem mais próximos das fronteiras argentina e uruguaia. “No creo
em brujas, pero que las hay,las hay!” Esse é um dito popular castelhano; não é
português. Daí ele ser mais restrito a essa região.
O sobrenatural, as coisas e as pessoas, foi a solução
encontrada pelos seres humanos para explicar o que não conseguem uma
explicação. Sobre tudo quando o acontecimento não é bom; se for é milagre.
O desaparecimento do avião da Malaysia Airlines, voo 370,
uma tragédia que pode ter matado centenas de pessoas, continua sendo um
mistério. O avião simplesmente sumiu dos radares de terra, não há destroços
sobre sob a água do sul do Mar da China, nem sobre a terra e tudo o mais que já
se sabe há dias.
Dizem os especialistas que um avião não cai por um único
problema; por apenas um único defeito ou mau funcionamento de uma única peça,
mas sim por uma sucessão de falhas. Os religiosos acreditam em muitas outras
coisas que vão de destino até a vontade divina. Já os que não acreditam em
bruxas, mas apenas na existência delas, ficam com a pulga atrás da orelha.
O jornal Washington Post revela que os smartphones de alguns
passageiros “estão ativos e conectados com a rede, mesmo com o avião
desaparecido”. Essa notícia sinistra ainda diz que alguns parentes “ligaram
para os celulares de seus entes queridos” através de um serviço de mensagens
chinês chamado QQ. Um alto funcionário da Malaysia Airlines informou que a
companhia aérea já havia tentado ligar para os celulares do pessoal da
tripulação e que eles também estavam chamando, mas ninguém atendia. Diz ainda o
Washington Post que um homem levou dois policiais a casa dele no domingo à
noite para testemunhar que a conta QQ estava ativa em seu computador. Porém num
determinado momento, quando não estava prestando atenção, ele disse,
subitamente a conta havia sido desligada.
As autoridades chinesas, entretanto, não estão dando a
mínima importância a esses acontecimentos relatados por parentes desesperados.
Aqui no Brasil coisas misteriosas e sobrenaturais acontecem
todos os dias e são mais comuns do que o resto do mundo pode compreender. Nós,
os brasileiros, que já estamos acostumados, lidamos com todo tipo de fenômeno
diariamente e sabemos o que fazer com eles: batemos na madeira, cruzamos os
dedos, fingimos que não aconteceu ou que “não é comigo”,ou acreditamos que vai
melhorar – seja lá o que for – ou pedimos aos deuses, santos e aos mortos que
nos ajudem, ou simplesmente ignoramos.
A Guarda Municipal de Fortaleza abriu concurso especial, com
regras exclusivas, para pessoas com deficiência física para fazerem trabalhos
burocráticos internos na corporação de acordo com suas limitadas capacidades.
Concurso feito, aprovados satisfeitos quando recebem a
informação de que não poderão ser contratados por que são...deficientes
físicos. É o que diz o regulamento. É claro que um cego não pode ser policial,
mas pode atender telefone.
Alguém, atacado por alguma bruxa, por uma teiniaguá ou
apenas pela burocracia incompetente – o que é redundância – esqueceu-se de
colocar no edital o “motivo” do concurso esse pequeno detalhe: especial para
deficientes físicos.
Revoltados e sem as condições físicas dos protestantes e
blackblocs para “saírem pro pau”, estão apelando para qualquer ajuda
sobrenatural.
Como afirmam os especialistas em aviação: um avião não cai
somente por um motivo.
* Jornalista e Escritor