Baixos salários e falta
de estrutura afastam profissionais
Insatisfeitos com a
falta de estrutura e com o salário que recebem, médicos que trabalham em
Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) neonatal e pediátrica da rede estadual de
saúde estão pedindo demissão em São Paulo em troca de melhores condições na
rede particular. O alerta para o
problema foi feito no ano passado pelo Ministério Público de São Paulo, mas até
agora o problema não foi resolvido.
Depois de receber
denúncias do êxodo de médicos pediatras, o MP convocou diretores de unidades
com UTI para crianças e recém-nascidos. O resultado foi a abertura de um
inquérito civil motivado por um abaixo-assinado de profissionais do Pronto
Socorro Infantil do Hospital Geral da Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte da
capital.
Por lá, o auge da crise
ocorreu em dezembro de 2011, depois que 14 médicos foram exonerados e a UTI pediátrica,
fechada. O setor foi reformado este ano, mas, ainda sem médicos, permanece sem
receber pacientes. Sob condição de anonimato, uma das demissionárias contou as
razões para deixar o hospital depois de quatro anos de trabalho.
Ela diz que o salário
baixo não foi a principal razão para seu pedido de demissão, mas a falta de
equipe e material para trabalhar.
Além de poucos médicos, não havia fisioterapeutas e enfermeiros. A médica diz
que cuidava de tudo sozinha ou contava com o socorro de auxiliares de
enfermagem, “despreparados para a função”.
A pediatra se recorda da
ausência de assistente social, o que provocava atrasos de até seis horas para a
transferência de uma criança do Pronto Socorro para a UTI. Embora as
instalações fossem novas, faltava de cateter infantil a pilhas que ela mesma
comprava para abastecer o laringoscópio, um instrumento para exame da laringe.
O salário médio de um
profissional dessa área é R$ 4 mil por 20 horas semanais, metade do que oferece
a rede particular, segundo médicos da Associação Brasileira de
Pediatria. “O problema também foi identificado nos hospitais
municipais, mas na época a prefeitura tomou providências, ao contrário do
governo do Estado, que não respondeu ao nosso ofício”, afirma o promotor Luiz
Roberto Faggioni, responsável pela ação.
No final do ano passado,
a juíza da Vara da Infância e Juventude Dora Aparecida Martins de Morais
concedeu liminar exigindo do governo estadual a contratação de profissionais
para essas UTIs, mas a juíza Cláudia Tobosa Pessoa derrubou a decisão. “O MP
recorreu e aguarda julgamento”, diz Faggioni.
A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo esclarece que a
escassez de profissionais médicos na rede pública de saúde é uma realidade que
afeta hospitais em todo o Brasil, em razão do aquecimento do mercado privado
nos últimos anos e da defasagem na tabela do SUS (Sistema Único de Saúde), definida
pelo Ministério da Saúde. A tabela do governo federal paga R$ 478 para uma
diária de UTI que custa aproximadamente R$ 1.000.(IG conteúdo)