Suplicy de joelhos
Ao ler a carta que o senador Eduardo Suplicy
escreveu para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, confesso que, como ser
humano fiquei envergonhado. Ajoelhado diante de quem deve considerar um deus,
Suplicy implora por atenção, que sempre lhe foi negada, como ele mesmo admite,
implorando para ser candidato ao Senado. Leia e veja a que ponto o ser humano
pode chegar na busca por um espaço que, parece, está sendo negado por seu
partido.
Caro presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
Sempre teríamos na
transparência de nossos atos e na ética da vida pública os valores fundamentais
do PT, foi o que muitas vezes ouvi de você. Nesses 33 anos de militância honrei
esses valores e objetivos.Quero lhe transmitir pessoalmente a minha disposição
de ser candidato ao Senado em 2014 e naquela casa continuar a honrar o PT.
Tenho procurado marcar um encontro pessoal, há meses, mas por alguma razão tem
sido sempre adiado. Gostaria de relembrar que, em 2011, quando éramos cinco os
pré-candidatos a prefeito de São Paulo, você convocou os demais para dialogarem
com você no Instituto Lula para que desistissem em favor de Fernando Haddad.
Imagino que tenha avaliado que não precisava conversar comigo. Há cerca de duas
semanas, conforme soube pela imprensa, houve reunião no Instituto Lula, em que
estiveram presentes os presidentes nacional e estadual, Rui Falcão e Edinho
Silva, outros importantes dirigentes, e pelo menos oito prefeitos do PT. Não
fui convidado, embora ali se tenha discutido a campanha de 2014, os
procedimentos para a escolha do nosso candidato ao governo de São Paulo, ao
Senado e possíveis coligações. Segundo o divulgado, os presentes teriam
solicitado à direção organizar uma pesquisa de opinião para saber qual o
candidato a governador mais viável. Ademais, cogitou-se a possibilidade de que
eu pudesse ser candidato a deputado federal para fortalecer a legenda do PT,
com a informação de que caberia a você convencer-me desta alternativa.
Considero justo que o PT me aponte como candidato ao Senado. Por uma questão de
respeito à minha contribuição para o PT desde a sua fundação e também por ter
sido eleito por votações cada vez maiores para o Senado, em 1990 com 4.229.706
votos, 30%; em 1998 com 6.718.463, 43,07%; em 2006, com 8.986.803 votos, 47,82%.
Poderemos fazer uma prévia aberta a todos os filiados e eleitores interessados
em participar como mais e mais se faz em todos os países democráticos. Lembro
que José Dirceu certa vez defendeu que nossas prévias deveriam ser abertas a
todos os eleitores. Há apenas uma hipótese de eu abrir mão de disputar o Senado
em 2014: caso você queira disputar. Por respeito aos seus oito anos como
Presidente da República, por já ter disputado uma prévia com você em 2002 e
você ter ganho por larga margem. Sempre observei que você acompanhou com grande
interesse tudo o que se passa ali, pois sempre comentou conosco que costumava
assistir à TV Senado. Acredito que considere algo positivo tornar-se
Senador". Eduardo Matarazzo Suplicy.