Espuma transformou boate
Kiss em câmara de gás
Delegado apresenta pedaços do revestimento acústico da casa
noturna e afirma que substâncias tóxicas foram responsáveis pelas mortes dos
235 jovens
Com apenas uma saída, janelas bloqueadas e mais gente do que era
permitido por lei, a boate Kiss, em Santa Maria, foi transformada em uma câmara
de gás quando as chamas de fogos de artifício se alastraram pela espuma
sintética que revestia o teto da casa noturna. Essa foi a conclusão
apresentada, na tarde desta quinta-feira, pelo delegado Marcelo Arigony, que
conduz o inquérito sobre as 235 mortes e mais de 500 feridos na tragédia do
último domingo. "Isso foi a causa da morte", disse Arigony, com um
pedaço da espuma de cor escura em uma das mãos. O material foi recolhido do
teto da boate Kiss e, segundo os investigadores, foi o responsável pelo fogo ter
se alastrado tão rapidamente.
A espuma estava em cerca de um terço do teto da casa e fazia
parte do isolamento acústico. "Parece que é um material usado em estúdios,
mas é altamente inflamável e libera um gás tóxico", disse Arigony. O
delegado citou a existência de um material chamado de “retardante”, utilizado
justamente para evitar o rápido alastramento do fogo. Pelo que a perícia indica
até o momento, isso não foi usado na boate Kiss.
Imagens dos corpos retirados da
casa noturna momentos após o incêndio mostram que a maior parte das vítimas não
morreu pelo fogo, mas por intoxicação pela fumaça, como atestaram os médicos
legistas no dia seguinte à tragédia. Como não havia saída, a morte se deu em
questão de minutos, e muitos morreram antes que fosse possível desobstruir as
saídas da boate.