quarta-feira, 6 de junho de 2018

➤Temer, Moreira e Padilha

PF pede ao STF quebra de sigilo telefônico


Polícia Federal solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) a quebra do sigilo telefônico do presidente Michel Temer (MDB) e dos ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha (MDB), e de Minas e Energia, Moreira Franco (MDB). O pedido foi no âmbito do inquérito aberto a partir das delações premiadas da Odebrecht para apurar um suposto repasse de 10 milhões de reais da empreiteira ao grupo político do presidente, em 2014. Segundo os delatores, o valor foi combinado em um jantar no Palácio do Jaburu, residência oficial do então vice-presidente da República, naquele ano.

O ministro Edson Fachin, relator do inquérito que tramita no STF, será responsável por decidir se acolhe ou não a solicitação da PF. O pedido do sigilo abrange o período em que teriam ocorrido a reunião e os repasses por meio de operadores da empreiteira. Caso Fachin atenda ao pedido dos investigadores, não seria possível recuperar o conteúdo das conversas do presidente e de seus aliados, mas apenas mapear em qual horário e para quem foram feitas ligações.

A PF também pediu a quebra do sigilo telefônico de operadores da empreiteira que dizem ter realizado as supostas entregas do dinheiro. No caso dos 10 milhões de reais supostamente repassados ao grupo político do presidente, delatores da Odebrecht citaram que as entregas foram feitas por um emissário, no Rio Grande do Sul, e no escritório do amigo e ex-assessor de Temer, o advogado José Yunes, em São Paulo.

Depois de se demitir do cargo de assessor da Presidência, em fevereiro de 2017, Yunes disse a VEJA que, a pedido de Eliseu Padilha, recebeu “um pacote” em seu escritório, em setembro de 2014. “Fui mula involuntário”, afirmou o advogado, amigo de Temer há 50 anos. “Padilha me ligou falando: ‘Yunes, olha, eu poderia pedir para que uma pessoa deixasse um documento em seu escritório? Depois, outra pessoa vai pegar’. Eu disse que podia, porque tenho uma relação de partido e convivência política com ele”, relatou.

Pouco tempo depois, Yunes estava em seu escritório quando, disse ele, a secretária informou que um homem chamado “Lúcio” estava ali para deixar um documento. Segundo o advogado, tratava-se de Lúcio Bolonha Funaro, lobista ligado ao MDB e, particularmente, ao ex-deputado Eduardo Cunha. Funaro fechou um acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR), no qual deu detalhes sobre o caminho do suposto pagamento da Odebrecht aos emedebistas.

Portal VEJA

➤Augusto Nunes

Lula garantiu o fiasco de Kátia Abreu

Em 7 de maio, a menos de um mês da eleição suplementar, uma pesquisa do Ibope colocou a senadora Kátia Abreu a um passo do governo do Tocantins. Com 22% das intenções de voto, a candidata do PDT parecia ter consolidado uma folgada vantagem sobre os concorrentes. Foi então que entraram em cena Lula e Gleisi Hoffman. Num vídeo divulgado logo depois da pesquisa, a presidente do PT recitou o palavrório abaixo reproduzido sem correções nem retoques:

É com muito prazer que eu quero deixar aqui com vocês uma mensagem do presidente Lula. Isso mesmo. O presidente Lula me pediu para levar uma mensagem ao povo de Tocantins, e à nossa candidata à governadora pelo PDT, Kátia Abreu. O que disse o presidente Lula: “Companheira Gleisi, presidenta do PT, companheiros da direção nacional do PT, companheiros da direção do PT de Tocantins, todos os filiados e filiadas ao PT no Estado. Quero comunicar a todos que resolvi tomar a decisão de apoiar a Kátia Abreu para governadora de Tocantins, por dever de gratidão e lealdade que a Kátia dedicou à companheira Dilma durante todo o episódio do golpe contra a democracia brasileira. O Brasil está tão carente de pessoas de caráter e lealdade política que, quando ouvia os discursos da Kátia, ficava orgulhoso de ver uma mulher com quem não tinha nenhuma afinidade política-ideológica causando inveja a muitos de esquerda que tinham vergonha de defender a Dilma”. E aí continua a carta falando do apoio a você, Kátia. Eu tô entregando essa carta ao companheiro Donizete do Tocantins para lhe entregar em mãos. Saiba que o apoio do PT, da direção nacional, do presidente Lula, da presidenta Dilma, é a você. Nós sabemos que, se você for eleita governadora de Tocantins, esse Estado estará em boas mãos. Em mãos de quem tem dignidade, de quem não tem medo, de quem tem caráter. É disso que nós precisamos no Brasil. Seja forte. Sucesso e felicidades. Seja governadora do Tocantins.”

Deu no que deu: na eleição de verdade, realizada neste 3 de junho, a melhor amiga de Dilma amargou um bisonho quarto lugar, com apenas 15% dos votos. O fiasco reafirmou que um aliado como Lula é mais perigoso que qualquer inimigo.

Portal VEJA

➤OPINIÃO

O PCC ameaça a democracia

O poderio bélico e econômico e a periculosidade do Primeiro Comando da Capital (PCC), quadrilha formada há 25 anos no Centro de Reabilitação Penitenciária de Taubaté, no Vale do Paraíba, já eram tristemente conhecidos. Entretanto, o assassinato de Rogério Jeremias de Simone, o “Gegê do Mangue”, um dos líderes do bando, desencadeou uma investigação que revelou detalhes do funcionamento da facção criminosa capazes de estarrecer até os que se debruçam sobre ela por dever de ofício.

Os documentos apreendidos pela polícia revelam a estrutura operacional montada pelo PCC para extrapolar os limites de São Paulo, ampliar sua presença em outros Estados e operar no tráfico internacional de drogas. A facção criminosa já está presente na Colômbia, no Paraguai, no Peru, na Bolívia e na Guiana. Apenas no Brasil, cerca de 30 mil criminosos fazem parte da folha de pagamento da facção.

Uma série de ataques coordenados a ônibus e agentes de segurança pública de Minas Gerais e do Rio Grande do Norte mostra a força dessa política expansionista do PCC. Áudios obtidos pela Polícia Militar (PM) de Minas Gerais indicam a responsabilidade da facção nos ataques.
Entre domingo e segunda-feira, 24 ônibus foram incendiados em 17 cidades mineiras. Em Natal, um ônibus foi queimado e um PM foi assassinado. “Parece-nos que houve, em parte, a orquestração de facção criminosa, mas não podemos determinar isso. A investigação é que vai ditar se esses áudios correspondem aos ataques que foram efetivados”, informou o major Flávio Santiago, porta-voz da PM mineira.

De acordo com a apuração feita pelo Estado, os ataques teriam sido represálias ao que o PCC chama de “opressão” supostamente praticada em presídios de MG e do RN. É sabido, no entanto, que o emprego da violência em ações espetaculares é uma tática do PCC para marcar “território”.

De acordo com estimativa conservadora dos setores de inteligência da Polícia Civil de São Paulo, o PCC movimenta cerca de R$ 400 milhões por ano. O curioso é que, embora a informação provenha de um setor de “inteligência”, os números não são precisos. Há policiais que acreditam que o faturamento do bando possa ser, pelo menos, o dobro.

Fosse uma organização que operasse de acordo com as leis, o PCC estaria entre as 500 maiores empresas do País. É impossível que um grupelho de detentos formado no interior de uma penitenciária chegue a este patamar de desenvolvimento sem a conivência do poder público, em diversas esferas, para operar sem sobressaltos. Também é um escândalo que uma organização criminosa possa operar por tanto tempo. A que preço se deu a omissão de agentes do Estado é ensejo para rigorosa investigação.

A julgar pelo teor das informações reveladas após a morte de “Gegê do Mangue”, a facção há muito não se contenta com os limites de São Paulo e do Brasil para executar suas atividades criminosas. Para o PCC, o mundo é pequeno se não lhe impuserem barreiras legais dissuasórias.

Com estas ambições e os meios para a consecução de seus fins, o PCC tem atuado para infiltrar membros e simpatizantes em instituições do Estado que representam o anteparo legal aos seus planos de expansão criminosa. Já se teve notícia da presença de membros da quadrilha em Assembleias Legislativas, Câmaras Municipais e até mesmo em tribunais, sem falar na conivência da chamada “banda podre” das Polícias Civil e Militar.

Investigações revelaram a ação do PCC para financiar campanhas eleitorais de candidatos à Câmara dos Deputados que, caso eleitos, serviriam para propor projetos de lei alinhados com os interesses da quadrilha. Poucas ações representam maior ameaça à democracia representativa no Brasil do que o sequestro da vontade popular para servir aos nefandos desígnios de uma organização criminosa.

Hoje, o PCC é uma das maiores ameaças à segurança dos brasileiros e às instituições democráticas. Tenha o tamanho que tiver, a quadrilha jamais poderá ser maior do que o próprio Estado. Passa da hora de dar um fim a este mal.

Publicado no portal do Jornal Estado de São Paulo em 06/06/2018