terça-feira, 29 de maio de 2018

➤Fazendeiros de três estados

Colocam funcionários à disposição da greve



Fazendeiros e associações rurais de pelos menos três estados do país colocaram seus funcionários para “trabalhar e servir” à greve dos caminhoneiros. O GLOBO conversou, sob a condição de manter o anonimato, com produtores e lideranças dissidentes da Confederação da Agricultura e Pecuária que têm atuado no apoio à greve nos estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.


Todos admitem que fazendeiros desses três estados “liberaram” os funcionários para servir churrasco e levar comida para os caminhoneiros, além de terem retirado os trabalhadores do campo e os colocado para conduzir tratores e maquinários em direção a pontos de bloqueio de rodovias, com o objetivo de engrossar o tamanho dos engarrafamentos e fortalecer o “movimento”.

Um fazendeiro e representante de uma associação ruralista do interior de Goiás afirma que, se não fosse o apoio do setor, a greve já teria terminado. O fato é que, segundo ele, os fazendeiros, neste nono dia de greve, estão divididos “ao meio” quanto à continuidade do apoio à paralisação.


— Sinceramente, acho que os produtores estão perdendo a oportunidade de aproveitar a paralisação para colocar algumas de suas pautas. Mas a verdade é que a gente não tem uma federação forte, e o pessoal não reconhece a CNA como sua representante. Então, a maioria dos produtores apoia a greve porque quer intervenção militar.

No Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul, os fazendeiros também estão divididos quanto ao apoio da continuidade à greve. Isso porque a paralisação também tem gerado prejuízo ao meio rural.

— Quem mexe com coisas muito perecíveis, e até quem mexe com grãos, também está tomando prejuízo. Os insumos não chegam. Então, metade dos produtores já pararam de dar comida e churrasco para alimentar os caminhoneiros. Também pararam de colocar trator nas rodovias, porque acreditam que os caminhoneiros já conseguiram suas reivindicações. Quem permanece apoiando é quem quer a intervenção (militar) - afirma o representante de uma associação de fazendeiros de Rondonópolis, no Mato Grosso.

“Satisfeito” com o resultado da greve, ele completa:

— Existe um movimento de fazendeiros para acabar e outro para terminar com a greve. O que quer manter faz isso pelo ponto de vista ideológico, pedindo intervenção militar. Produtores foram para as rodovias, levaram seus funcionários para protestar junto aos caminhoneiros. Mas, agora, parte quer o retorno dos caminhoneiros, estão preocupados com a produção.

Agência Globo

➤Sem comida

Quase 70 milhões de aves morrem

Foto: ABPA/Reprodução
Os bloqueios que impedem a circulação de caminhões com rações, insumos para a produção da alimentação animal e outros produtos já deixaram quase 70 milhões de aves mortas, segundo estimativas da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Outras 120.000 toneladas de carne de frango e carne suína deixaram de ser exportadas desde o início da greve dos caminhoneiros, que já está no seu nono dia.

Segundo levantamento feito pela entidade, os caminhões que transportam milho, soja e outros produtos para manter os animais são impedidos de circular em mais de 300 pontos de 22 estados em todo o país. Além dos bloqueios, de acordo com a associação, há relatos de ameaças a motoristas que querem deixar a paralisação.

Em nota, a ABPA afirma que os animais mortos são colocados em composteiras dentro das propriedades, mas o sistema já está no limite de sua capacidade para abrigar os corpos. “O risco ambiental e de saúde pública é crescente. Cerca de 1 bilhão de aves e 20 milhões de suínos ainda estão em risco de morte como consequência direta dos bloqueios”, diz o comunicado.

A entidade também afirma que todos os esforços estão sendo realizados por avicultores, técnicos do setor, colaboradores da cadeia produtiva e, inclusive, motoristas que não concordam com a continuidade da greve para diminuir os graves impactos causados pela paralisação.

“A situação é alarmante para todo o setor. A continuação dos bloqueios para produtos alimentícios, rações e animais são um grave risco para o País e exigem uma ação forte e imediata do governo. Não é mais possível esperar”, diz o texto.

Portal VEJA

➤Greve dos petroleiros:

Ignorância, arrogância e oportunismo

Mailson da Nóbrega



A greve que os petroleiros anunciaram é um movimento político. Nada tem a ver com o direito de greve, pois não envolve  reivindicação de salários e benefícios. Parece ter por objetivo enfraquecer o governo, talvez imaginando que o agravamento da crise de abastecimento possa reduzir ainda mais a popularidade de Michel Temer.

O movimento exige a demissão do presidente da Petrobras. Trata-se de uma arrogância inacreditável. O presidente Temer jamais poderia ceder a uma chantagem dessa envergadura. Seria melhor renunciar ao cargo, pois se atendesse tal demanda teria perdido o pouco que lhe resta de comando do governo e do país.

Outra exigência absurda é a da revogação da política de preços da Petrobras e a redução dos preços do gás de cozinha e da gasolina.  Os petroleiros parecem desejar o retorno do desastroso controle de preços do governo Dilma, que quase quebrou a empresa, infligindo lhe bilhões de reais de prejuízos.

Isso é uma demonstração de ignorância que beira à estupidez. A volta do controle de preços dos combustíveis, associada à redução de preços de produtos da empresa, poderia levá-la à bancarrota. A medida interromperia boa parte de seu acesso ao crédito local e estrangeiro. Garroteada em suas finanças, a Petrobras poderia ficar impossibilitada de cumprir seus compromissos e, assim, de pagar os funcionários que o Sindicato dos Petroleiros imagina defender.

Por fim, a greve, caso deflagrada, constituiria demonstração inequívoca de oportunismo. Os petroleiros provavelmente imaginam que o movimento, ao prejudicar ainda mais uma sociedade indefesa diante da greve dos caminhoneiros, poria de joelhos o governo, o que beneficiaria o PT, com o qual se aliam, acarretando a derrota dos candidatos que julgam ser seus inimigos políticos.

Por tudo isso, é lícito afirmar que a greve prometida pelos petroleiros tem característica marcadamente ilegal.

Portal VEJA

➤Josias de Souza

Presidente terminal

Além dos reflexos econômicos, a crise dos caminhões deixará marcas políticas. O governo já havia entrado em colapso ético em maio de 2017, quando explodiu o grampo do Jaburu. Na crise atual, o que se convencionou chamar de gestão Temer viveu um apagão administrativo. No momento, Temer dispõe de uma equipe inepta, uma base congressual estilhaçada e uma autoridade que cabe numa caixa de fósforos. Tudo isso leva o mercado, a sociedade e os atores políticos a desligarem o presidente da tomada.

Entre o colapso moral de maio de 2017 e o apagão de maio de 2018, o desgoverno de Temer operou em duas velocidades que podem ser consideradas insultuosas. Moralmente, foi ligeiro como um punguista. Gerencialmente, foi lento como uma lesma. A autoridade de Temer ruiu porque a sociedade tem a exata percepção de que honestidade e eficiência são como virgindade. Quem perdeu não recupera.

A crise dos caminhões fez de Temer um presidente terminal. Ele não deixará a Presidência, terá alta. Sairia em 1º de janeiro de 2019. Mas, na prática, seu mandato será encurtado para 28 de outubro. Nesse dia, o brasileiro escolherá, em segundo turno, o próximo presidente da República. A realidade forçará o presidente eleito a iniciar o novo governo já na fase de transição. Temer, que se queixava de ser tratado por Dilma como um vice “decorativo”, permanecerá no Planalto até 1º janeiro como um vaso quebrado à espera de ser removido para o entulho da história.

Publicado no Blog do Josias em 29/05/2018

➤Infiltrados na greve

Governo identifica três movimentos


O governo apura se três movimentos políticos – “Intervenção militar já”, “Fora Temer” e “Lula livre” – se infiltraram na paralisação dos caminhoneiros. Eles estariam alimentando os focos que ainda querem manter os bloqueios, mesmo após ter boa parte de suas reivindicações atendidas ou ao menos encaminhadas. Essa é uma leitura feita nas reuniões do gabinete de crise montado pelo Palácio do Planalto na semana passada.

Os caminhoneiros falam abertamente do problema. “Para esses que têm posição extremista, esse ou qualquer outro acordo não iria funcionar porque a intenção não é resolver problemas, mas criar o caos e a instabilidade”, disse o presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Ijuí, no Rio Grande do Sul, Carlos Alberto Litti. Para o líder gaúcho, o grupo mais resistente ao acordo é movido “por um tema político e não econômico”.

“A pauta política existe, mas não vamos nos envolver. Tudo o que os autônomos precisam para voltar a ganhar dinheiro está aqui”, disse o presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, ao exibir o acordo firmado na noite de domingo. Segundo líderes dos caminhoneiros informaram ao Planalto em reunião ontem, os infiltrados somariam algo como 10% a 15% do movimento. A informação foi recebida com irritação pelas autoridades federais, principalmente por envolver o “Fora Temer”.

Ontem, o próprio ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, admitiu a possibilidade de haver infiltração política e informou que a Polícia Rodoviária Federal trabalha para apartá-los do movimento. “A PRF conhece as estradas onde trabalha, conhece quem é líder do movimento caminhoneiro e sabe das infiltrações políticas. Ela está mapeando e não quer cometer nenhuma injustiça. Com muita cautela, vai começar a separar os infiltrados.”

O governo avalia já ter feito tudo o que estava a seu alcance para atender à pauta dos caminhoneiros: redução da Cide e do PIS/Cofins no diesel, a promessa de congelamento de preço por 60 dias – e depois reajustes a cada 30 dias –, a liberação da cobrança de pedágio sobre eixo suspenso (quando o caminhão trafega vazio e, por isso, suspende o terceiro eixo) e a reserva de 30% das cargas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para os caminhoneiros autônomos.

Mas, ao lado da pauta dos caminhoneiros, ganhou força a pauta política. E sobre essa ainda é impossível avaliar a intensidade e extensão do movimento. Os mais pessimistas não descartam o risco de, havendo crescimento dessa vertente, o protesto resvalar para algo semelhante às manifestações de 2013, quando atos que, inicialmente tinham como questão central a reclamação contra o aumento das passagens de ônibus ganhou dimensão muito maior.

Agência Estado
Fotos: Reprodução

➤Greve de caminhoneiros

Desabastecimento geral no 9º dia


O acordo proposto pelo presidente Michel Temer para encerrar a greve dos caminhoneiros não foi suficiente para acabar com os bloqueios nas estradas. O governo atribuiu a dificuldade para encerrar a greve à existência de infiltrados políticos dentro do movimento. Os líderes grevistas se dividiram sobre a continuidade da paralisação. A Associação Brasileira de Caminhoneiros (Abcam) defende o retorno ao trabalho, mas uma parte da categoria afirma que nem todas as reivindicações foram atendidas e por isso a greve continua. Enquanto isso, a população faz filas atrás de gasolina e álcool nos postos do país e aguarda o abastecimento de alimentos em supermercados e centros de distribuição.

O abastecimento de combustíveis apresentou melhoras pelo país com a redução do movimento de paralisação dos caminhoneiros, mas a situação ainda está longe do ideal e deve demorar pelo menos uma semana para voltar ao normal, disse nesta terça-feira o diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) Aurélio Amaral.

Ainda há locais onde a situação é considerada delicada. Uma grande preocupação das autoridades é com o Porto de Suape, um polo importante para a Região Nordeste. “Lá em Suape a situação ainda é crítica e continua ruim também em Minas, Rondônia, São Paulo, Roraima, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Sergipe”, acrescentou o diretor, que disse esperar uma melhora ao longo do dia.

Postos de gasolina de vários pontos da cidade de São Paulo começaram a receber combustível na noite desta terça-feira. Os caminhões-tanque chegavam escoltados por carros da Polícia Militar, que permanecia nos postos. Em alguns estabelecimentos, preço da gasolina chegava a 5,10 reais.


Nove dos 54 aeroportos administrados pela Infraero estão sem combustível no início desta terça-feira como reflexo da greve dos caminhoneiros. São eles:

Foz do Iguaçu/PR
Paulo Afonso/BA
Teresina/PI
Palmas/TO
João Pessoa/PB
Ilhéus/BA
Cuiabá/MT
Imperatriz/MA
Petrolina/PE

A Infraero esclarece que os aeroportos estão abertos e têm condições de receber pousos e decolagens. Nos terminais em que o abastecimento está indisponível no momento, as aeronaves que chegarem só poderão decolar se tiverem combustível suficiente para a próxima etapa do voo.

SITUAÇÃO NO RIO GRANDE DO SUL


greve dos caminhoneiros entra no nono dia nesta terça-feira (29) com registros de manifestações em diversos pontos do Rio Grande do Sul. De acordo com Federação das Indústria do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), o prejuízo da mobilização para as fábricas chega, até agora, a R$ 1,6 bilhão. Os segmentos de bebidas, laticínios e alimentos são os mais prejudicados, mas também há impactos nas áreas químicas, veículos e máquinas.

Manifestações: há pelo menos 100 pontos de protestos em rodovias federais e estaduais do Rio Grande do Sul nesta terça-feira 

Ônibus em Porto Alegre: nesta terça e quarta-feira, nos momentos de pico – dos primeiros horários às 8h30min e das 17h às 19h30min –, os coletivos irão circular normalmente. Nos demais horários, as linhas funcionarão apenas de hora em hora.

Aeroporto: Salgado Filho tem combustível disponível para garantir voos até as 14h de quarta-feira (30).

Combustível: de acordo com a prefeitura de Porto Alegre, pelo menos 24 postos estão vendendo combustível nesta terça-feira

Escolas: rede estadual deve retomar as atividades nesta terça-feira

VEJA/Gaucha/ZH

➤OPINIÃO

Brincando de golpe

Eliane Cantanhêde

Assim como nos aviões, são duas as decisões mais tensas de uma greve: quando e por que começar, quando e por que parar. A greve dos caminhoneiros começou na hora certa, jogou luz nas agruras do setor, criou um caos no País e foi um estrondoso sucesso. Os caminhoneiros, porém, estão perdendo o timing de acabar a greve e capitalizar as vitórias.

As pessoas apoiaram a revolta, mesmo sofrendo diretamente as consequências, porque se identificaram com as dificuldades dos caminhoneiros e, como eles, estão à beira de um ataque de nervos diante de tanta corrupção. Mas é improvável que apoiem agora, simultaneamente, o “Fora Temer”, o “Lula livre” e a “Intervenção militar já”. 

É uma salada indigesta. Pepino, abacaxi e pimenta não combinam e, cá para nós, focar o protesto na queda do presidente Michel Temer raia o ridículo, é como “chutar cachorro morto”. Faltando seis meses para o fim do governo? Com Temer já no chão? É muita artilharia para pouco alvo.

O governo cedeu exatamente em tudo que eles pediam: preço do diesel, redução de impostos, previsibilidade nos reajustes, tabela mínima de fretes e mudança nos pedágios federais, estaduais e municipais. Uma brincadeira que vai custar de R$ 9,5 bilhões a R$ 13,5 bilhões ao Tesouro. Leia-se: a você, leitor, leitora. Agora, a munição do governo acabou. Não há o que fazer.

Eles exigiam mais do que 30 dias de suspensão de aumentos, o governo admitiu o dobro. Exigiam aprovação já, o governo assinou medidas provisórias, que entram em vigor imediatamente. Exigiam publicação do acordo no Diário Oficial da União, o governo fez uma edição extra. Depois de tudo, eles passaram a exigir o corte de R$ 0,46 nas bombas, antes de voltar à ativa. Estão enrolando. Com outras intenções?

Uma coisa é a paralisação de caminhoneiros com reivindicações justas. Outra coisa, muito diferente, é um movimento político com exigências difusas, até contraditórias, e absolutamente inexequíveis. A paralisação deixa de ser justa, perde a legitimidade e passa a ser um ataque oportunista, não a um governo agonizante, mas às instituições e a toda a sociedade.

Ontem, manifestantes já circulavam pela Praça dos Três Poderes e confrontavam o Palácio do Planalto, como ocorreu em junho de 2013. Amanhã, os petroleiros podem começar uma greve sem pauta, movida a ódio e a política. No que isso vai dar? Há um clima de insegurança, de temor, de exaustão, no qual o que mais falta é racionalidade. Não estão medindo as consequências.

Estão todos brincando com fogo: governo, caminhoneiros, os que amam Lula, os que odeiam Temer, os saudosos da ditadura militar... Mas todos eles, que comemoram e se divertem hoje, poderão ter muito o que chorar e espernear amanhã, porque todo esse ódio e essa “revolução” miram um governo em fim de festa, mas podem acabar fazendo a festa de quem menos eles esperam em outubro.

Diz a inteligência, e confirmam os estrategistas, que você só dá passos sabendo onde quer chegar. E deve saber o momento de parar, para renovar energias, ou até recuar, para não bater com a cara na parede. O que se vê hoje, nos radicais que ameaçam as vitórias dos caminhoneiros, e na turba que os aplaude maliciosa ou ingenuamente, é justamente a falta de objetivos, de propósitos. É se jogar de cabeça, sem pensar nos riscos, nos perigos.

Derrubar Temer e colocar Rodrigo Maia na Presidência não pode ser um objetivo sério, um propósito de boa-fé. É uma manifestação irracional de ódio, um desserviço ao Brasil, uma aventura com repercussões nefastas. Quem gosta de brincar com fogo parece torcer por um golpe, mas um golpe de verdade. Que não venham depois chorar sobre o leite derramado, tarde demais.

Publicado no portal do Jornal Estado de São Paulo em 29/05/2018