Fazendeiros e associações rurais de pelos menos três estados do país colocaram seus funcionários para “trabalhar e servir” à greve dos caminhoneiros. O GLOBO conversou, sob a condição de manter o anonimato, com produtores e lideranças dissidentes da Confederação da Agricultura e Pecuária que têm atuado no apoio à greve nos estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Todos admitem que fazendeiros desses três estados “liberaram” os
funcionários para servir churrasco e levar comida para os caminhoneiros, além
de terem retirado os trabalhadores do campo e os colocado para conduzir
tratores e maquinários em direção a pontos de bloqueio de rodovias, com o
objetivo de engrossar o tamanho dos engarrafamentos e fortalecer o “movimento”.
Um fazendeiro e representante de uma associação ruralista do interior de
Goiás afirma que, se não fosse o apoio do setor, a greve já teria terminado. O
fato é que, segundo ele, os fazendeiros, neste nono dia de greve, estão
divididos “ao meio” quanto à continuidade do apoio à paralisação.
— Sinceramente, acho que os produtores estão perdendo a oportunidade de
aproveitar a paralisação para colocar algumas de suas pautas. Mas a verdade é
que a gente não tem uma federação forte, e o pessoal não reconhece a CNA como
sua representante. Então, a maioria dos produtores apoia a greve porque quer
intervenção militar.
No Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul, os fazendeiros também estão
divididos quanto ao apoio da continuidade à greve. Isso porque a paralisação
também tem gerado prejuízo ao meio rural.
— Quem mexe com coisas muito
perecíveis, e até quem mexe com grãos, também está tomando prejuízo. Os insumos
não chegam. Então, metade dos produtores já pararam de dar comida e churrasco
para alimentar os caminhoneiros. Também pararam de colocar trator nas rodovias,
porque acreditam que os caminhoneiros já conseguiram suas reivindicações. Quem
permanece apoiando é quem quer a intervenção (militar) - afirma o representante
de uma associação de fazendeiros de Rondonópolis, no Mato Grosso.
“Satisfeito” com o resultado da greve,
ele completa:
— Existe um movimento de fazendeiros
para acabar e outro para terminar com a greve. O que quer manter faz isso pelo
ponto de vista ideológico, pedindo intervenção militar. Produtores foram para
as rodovias, levaram seus funcionários para protestar junto aos caminhoneiros.
Mas, agora, parte quer o retorno dos caminhoneiros, estão preocupados com a
produção.
Agência Globo