sábado, 26 de maio de 2018

➤Greve dos caminhoneiros

PF investiga participação de empresários

Foto: Agência Globo/Reprodução
A Polícia Federal abriu 37 inquéritos para investigar a suspeita de locaute (greve de empresas) nas paralisações de caminhoneiros. A informação é do ministro da Segurança, Raul Jungmann. Segundo ele, as investigações ocorrem em 25 estados.

No locaute, os patrões agem em razão dos próprios interesses e não das reivindicações dos trabalhadores e se recusam a ceder aos empregados os instrumentos para que eles desenvolvam seu trabalho, impedindo-os de exercer a atividade.

— Chegamos aos 37 inquéritos abertos pela PF, em 25 estados. Os responsáveis estão sendo convocados para prestar depoimento. Vamos exercer no limite fielmente como pena para o delito do locaute — disse Jungmann.
 
Segundo o ministro, 50% das estradas do país já foram liberadas. Ele afirmou, ainda, que já houve mandados de prisão contra empresários por conta de locaute no movimento dos caminhoneiros. Ele não disse, no entanto, se as prisões já ocorreram e nem quantos mandados foram expedidos. Pela manhã, o governo disse que houve pedidos de prisão feitos pela PF.


— Temos mandatos de prisão. Não sabe se já ocorreram — disse. — O país não será refém deste egoísmo. Quero dizer que temos comprovado que esta paralisação teve desde o seu início a promoção e o apoio criminoso de proprietários de empresas transportadoras e distribuidoras. Podem ter certeza: irão pagar por isso. A Polícia Federal está expedindo a convocação de todos — acrescentou.

Jungmann disse ainda que, na noite deste sábado, o Brasil ainda tinha 566 pontos de interdições de rodovias, sendo que praticamente todas elas eram interdições parciais. Ainda segundo ele, 524 outras interdições já foram liberadas até agora.

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) expediu 400 autos de infração, totalizando R$ 2,3 milhões.

Agência Globo

➤Greve dos caminhoneiros

Protesto entra no sexto dia


Nesta sexta, Temer acionou as forças federais para desbloquear estradas. Medida é tomada após caminhoneiros terem mantido bloqueios, apesar de acordo fechado na quinta (24); acompanhe:

11 aeroportos estão sem combustível

Governo aciona STF para que greve dos caminhoneiros seja declarada ilegal

Publicado decreto que autoriza uso das Forças Armadas para liberar vias

Caminhoneiros no RJ dizem que iniciaram greve, mas que patrões ajudam

De acordo com um dos líderes dos caminhoneiros, na DF-150, 200 caminhões continuam em protesto na estrada.


Em Minas Gerais, mais de 60 pontos seguem interditados em 10 rodovias federais que passam pelo estado.

Segundo a Infraero, 11 aeroportos que estão sob a responsabilidade do órgão seguem na manhã deste sábado com aeronaves sem combustível. São eles: Carajás, São José dos Campos, Uberlândia, Ilhéus, Palmas, Goiânia, Campina Grande, Juazeiro do Norte, Recife, Maceió e Vitória.

Outros 4 estão, de acordo com a Infraero, estão com possibilidade de esgotamento de combustível. São eles: Cuiabá, Navegantes, Aracaju e Petrolina.

A empresa informa que os aeroportos não estão fechados, podendo receber pousos e decolagens. Porém, alerta a empresa, algumas aeronaves podem não conseguir abastecer.

Em Santos, litoral de São Paulo, pontos de bloqueio permanecem nos acessos ao principal porto do país. Prefeito de Guarujá decretou estado de emergência.

No Paraná, último balanço aponta que há 250 pontos de manifestações nas rodovias federais e estaduais.

Ainda com rodovias parcialmente bloqueadas na manhã deste sábado, RN enfrenta desabastecimento de alimentos e combustíveis.


A prefeitura de Porto Alegre anunciou, nesta sexta-feira (25), medidas emergenciais para o transporte de passageiros no domingo (27), quando não haverá circulação de ônibus na cidade. Uma das opções aprovadas é o compartilhamento de táxis. Nessa modalidade, até quatro passageiros poderão dividir um veículo, independentemente do itinerário. Cada cliente deverá pagar, somente em dinheiro, a tarifa de R$ 6. 

Os embarques dos táxis compartilhados serão feitos apenas nas paradas de ônibus, fora dos corredores.

➤OPINIÃO

Irresponsabilidade generalizada

No quinto dia da greve dos caminhoneiros autônomos, que levou o caos a todo o País, o presidente Michel Temer finalmente autorizou o uso das forças militares federais para liberar rodovias bloqueadas pelos manifestantes. Já não era sem tempo. 

Nenhuma reivindicação é justa o bastante para legitimar a absurda agressão cometida pelos caminhoneiros contra todos os brasileiros, cujo cotidiano foi severamente afetado pela paralisação. Mais grave ainda é o fato de que a greve continuou a despeito dos esforços do governo federal e da Petrobrás para atender, naquilo que lhes competia e era possível, às demandas dos grevistas, numa espantosa demonstração de irresponsabilidade, que deve encontrar do poder público uma resposta à altura.

Ao anunciar o plano de segurança para desbloquear as estradas, com ajuda dos Estados, o presidente Temer disse que o governo não vai permitir “que a população fique sem os gêneros de primeira necessidade, que os hospitais fiquem sem insumos para salvar vidas e crianças fiquem sem escolas”. Segundo Temer, “quem bloqueia estradas de maneira radical será responsabilizado”. A Advocacia-Geral da União acionou o Supremo Tribunal Federal para que a greve seja considerada ilegal, inclusive com pagamento de multa e cassação de licença.

Tudo isso deveria ter sido feito muito antes, quando ficou claro que o movimento traria imensos transtornos em todo o País. Nesse sentido, o governo demonstrou lentidão excessiva para reagir à greve, permitindo que o movimento ganhasse força, a ponto de julgar-se em condições de chantagear toda a sociedade e de ignorar o acordo para encerrar o protesto. A propósito, é o caso de questionar onde estava a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que não detectou a possibilidade de deflagração de um movimento dessa magnitude, cuja dimensão representa ameaça evidente à segurança nacional – com aeroportos fechados, carros da polícia sem combustível, desabastecimento generalizado e possibilidade concreta de tumultos em todo o País. É justamente para prevenir tais situações que a Abin existe.

Também é o caso de perguntar o que fazia esse tempo todo o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, além de dar palpites demagógicos sobre a política de preços da Petrobrás. Ou então os governadores, que preferiram lavar as mãos apesar de serem parte considerável do problema, porque o maior peso tributário sobre o diesel é estadual. Por último, mas não menos importante, é o caso de destacar o lamentável papel desempenhado pelos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), que, em vez de colaborar para o fim da crise, se entregaram, cada um a sua maneira, à mais rasteira política eleitoreira, na presunção de que sairiam fortalecidos caso o governo federal se enfraquecesse. O comando do Congresso está entregue a quem simplesmente não consegue entender o grave momento que o País atravessa.

Além da evidente fragilidade do governo federal, do silêncio dos governadores e do oportunismo de parlamentares que não enxergam além das urnas, a crise contou com a omissão do Ministério Público, que, sempre tão ativo, desta vez mal se fez ouvir a respeito de greve tão danosa ao País. Para piorar, os governos estaduais tampouco mandaram cumprir as diversas ordens judiciais que proibiam o bloqueio de estradas.

No meio de todo esse emaranhado de irresponsabilidades e omissões ficaram os brasileiros comuns, que estão há dias enfrentando um verdadeiro pesadelo. Não sabem se a gasolina no tanque do carro será suficiente, se haverá ônibus para ir ao trabalho, se os supermercados e as feiras ainda têm alimentos para vender, se as escolas vão funcionar, se os aeroportos vão abrir, se os hospitais terão condições de atendimento, se estradas e avenidas estarão livres ou bloqueadas. Um cenário como esse é característico de um país em guerra.

E, de fato, o Brasil está em guerra. De um lado, estão as corporações, os políticos venais e os viciados em subsídios e favores estatais; de outro, os brasileiros que trabalham e pagam impostos. Infelizmente, por ora, são estes que estão perdendo.

Publicado no portal do Jornal Estado de São Paulo em 26/05/2018