"Que espetáculo! Nem Fellini poderia ter dirigido aquilo! Esses
dois dias passarão para a História, não tenham dúvidas.
Vimos hoje, em cima daquele caminhão, o derretimento de um líder
político em repulsivo strip-tease moral, uma viagem alucinante ao passado, uma
epifania de verdades sob véus de mentiras.
Um homem que ocupou o proscênio da política brasileira por quase quatro
décadas, que presidiu o país por oito anos, reduzido ao seu eu mais profundo,
um agitador barato de porta de fábrica, um líder estudantil senil, um agente
provocador. Discursando embebido de cachaça e ódio, sedento de vingança,
conclamando arruaceiros a queimar pneus, invadir propriedades, atacar
adversários, num paroxismo autolaudatório de mitomania.
O homem que ocupou a mais alta magistratura na Nação atacando a imprensa
e o judiciário como um vulgar porralouca, desrespeitando instituições da
democracia que jurou respeitar e defender.
Todo o espetáculo oscilou entre o patético e o ridículo. Uma fauna
incrível de puxa-sacos e ratos brigando pelo espólio enfeitada com padres
paramentados. Tinha até um bispo. Se eu não tivesse visto não acreditaria. Uma paródia
de missa em pretensa homenagem a uma morta mas toda dedicada ao endeusamento de
um muito vivo que mostrava seu sentimento religioso mamando cachaça de uma
garrafinha de água (que tentavam tirar da mão dele antes que fosse muito
tarde).
Sabendo que aquele era o seu ocaso, poderia ter tido um gesto de
grandeza, ter ensaiado sua entrada na História de modo mais digno, mas preferiu
mandar trazer cerveja e carvão para o churrasco. Inacreditável!
Lula foi um talento político como poucos, um homem de evidente
inteligência prática, mas infelizmente completamente desprovido de princípios
éticos. Ele nunca se deu conta de que foi uma marionete nas mãos de oligarquias
corruptoras e arcaicas estruturas políticas que o manipularam como quiseram às
custas de agrados, mimos, presentes, adulação.
Aliou desonestidade pessoal com a já consagrada desonestidade
intelectual e moral das esquerdas. Roubar o Estado lhe parecia uma justa
estratégia política, ainda que tivesse que entregá-lo a tubarões exploradores,
desde que também pudesse usufruir pessoalmente de algumas migalhas desse
banquete de ratos.
Lula terminou sua carreira como começou, como um líder sindicalista. Mas
se aquele homem jovem dos anos 80 trazia consigo uma promessa de renovação, o
velho fauno de hoje é só uma paródia de si mesmo.
Esse Lula de hoje é o mesmo Lula dos anos 80 e 90, o verdadeiro. O
Lulinha paz e amor dos anos 00 e 10 foi uma invenção de Marcelo Odebrecht, que
inclusive redigiu o infame Manifesto à Nação que tornou Lula palatável às classes
médias. Lula Odebrecht acabou, sobrou um saco vazio recolhido a uma cela.
Lula foi preso e o país não parou, não houve comoção popular, não houve
choro e ranger de dentes - o povo preferiu ir aos estádios de futebol - e na
frente do sindicato só havia os mesmos fanáticos de sempre.
A montanha pariu um rato."