segunda-feira, 12 de março de 2018

➤Rússia e Alemanha

Tite convoca seleção para amistosos
 

Na última lista antes da convocação final para a Copa do Mundo, Tite deixou claro que ainda tem dúvidas. Dentre os 25 jogadores chamados nesta segunda-feira para os amistosos contra Rússia e Alemanha, no fim de março, três novidades: o goleiro Neto (Valencia), o meia-atacante Anderson Talisca (Besiktas) e o centroavante Willian José (Real Sociedad).

Sem Neymar e com dois atletas a mais na relação do que de costume, o treinador vai fazer suas últimas observações. Os 23 nomes que defenderão o Brasil na Rússia serão conhecidos na primeira semana de maio.

·    Goleiros: Alisson (Roma), Ederson (Manchester City) e Neto (Valencia)

·    Defensores: Marcelo (Real Madrid), Daniel Alves (PSG), Filipe Luis (Atlético de Madrid) e Fágner (Corinthians)

·    Zagueiros: Marquinhos (PSG), Thiago Silva (PSG), Miranda (Inter de Milão), Pedro Geromel (Grêmio) e Rodrigo Caio (São Paulo)

·    Meio-campistas: Casemiro (Real Madrid), Willian (Chelsea), Fernandinho (Manchester City), Fred (Shakhtar Donetsk), Anderson Talisca (Besiktas), Paulinho (Barcelona), Philippe Coutinho (Barcelona) e Renato Augusto (Beijing Guoan)

·    Atacantes: Gabriel Jesus (Manchester City), Roberto Firmino (Liverpool), Douglas Costa (Juventus), Taison (Shakhtar Donetsk) e Willian José (Real Sociedad)

Agência Globo

➤DESTAQUES

A farsa da eleição cubana
Neste domingo, 11 de março de 2018, os moradores de Cuba foram às urnas, depositaram seu voto e, logo, 605 pessoas serão confirmadas como deputados da nação para os próximos cinco anos. Neste processo, apenas terá faltado uma coisaeleições.
Segundo a Lei Eleitoral Cubana, os futuros representantes políticos da nação são nomeados por sindicatos, organizações de massas, associações diversas e unidades militares. Eles fazem parte de um punhado de instituições oficiais que reconhecem nos seus estatutos, da maneira que a Constituição cubana faz, a hegemonia do Partido Comunista sobre o governo e o Estado. Depois de nomeados, um Comitê de Candidaturas da ditadura reduz o número total de candidaturas para o número de assentos no parlamento. No dia do voto, o dia 11, eles podem ser confirmados como deputados se obtiverem 50% mais 1 dos votos válidos. Se você não leu a palavra “cidadão” neste processo, é precisamente porque ele não cumpre qualquer função na história. Ele não nomeia, ele não compete e, finalmente, não tem nada para escolher na cédula.
No mundo, continua sendo difícil para um número grande de pessoas relacionar as liberdades políticas com a prosperidade material. Se isso acontece, é por falta de rigor, não de exemplos. O caso de Cuba seria suficiente para ensinar ao mais ingênuo. Com esse sistema de seleção de figuras do governo – não podemos chamá-los de “representantes” ou “políticos” – coexiste um salário mínimo de 9 dólares por mês e o menor número de pessoas com acesso à internet do continente. Nós, cubanos, também temos a maior porcentagem da população de todo o Ocidente que precisa de ajuda alimentar para sobreviver: 100%.
Mesmo assim, o processo de seleção de dirigentes de Cuba atraiu atenção em todo o mundo. A razão para isso é que este processo deve ser o preâmbulo de uma novidade. Pela primeira vez, em cinquenta e nove anos, pode aparecer à frente do Estado alguém sem o apelido Castro. Deve ser, pode parecer, presumivelmente. Quando falamos sobre o que acontecerá em abril próximo, quando o escolhido for finalmente anunciado para a sucessão, a imprecisão é realista. Uma Cuba sem Castos?

Trabalhadores dos Correios entram em greve nesta segunda
Funcionários dos Correios entrarão em greve a partir desta segunda (12) em todo o Brasil por tempo indeterminado. Apesar de a paralisação estar marcada para começar amanhã, profissionais que trabalham de madrugada já entram em greve a partir das 22h deste domingo.
Ainda não há determinação para que se mantenha um percentual mínimo de funcionários trabalhando. Nas greves de 2017, o número de pessoas que aderiram à paralisação não ultrapassou mais de um quarto dos servidores da categoria.
Segundo a Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (FENTECT), a paralisação é motivada principalmente por mudanças no plano de saúde dos funcionários que envolvem a retirada de cobertura de pais, cônjuges e filhos e a cobrança de mensalidades.
Após tentativas sem sucesso de acordo entre a empresa e os funcionários, o impasse será julgado pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST) a partir desta segunda.

China aprova mandato vitalício para presidente
Os legisladores chineses acabaram formalmente com os limites do mandato para a presidência de Xi Jinping, abrindo caminho para um governo vitalício do atual líder do país.
Dos 2.964 delegados que votaram sobre a matéria no Congresso Nacional do Povo (CNP) neste domingo, 2.958 se declararam a favor de revogar um limite de 10 anos para mandatos presidenciais, juntamente com uma série de outras mudanças constitucionais visando consolidar o poder de Jinping e do Partido Comunista Chinês. Houve dois dissidentes, três abstenções e um voto inválido, disse um funcionário do congresso.
A votação acabou com uma regra de 35 anos implementada após a morte de Mao Tsé-Tung em 1976, cujo governo autocrático foi marcado por desastres políticos e violência nas disputas por poder. As emendas constitucionais requerem aprovação de pelo menos dois terços dos delegados do Congresso.
A mudança fortalece a posição de Jinping como o do chefe do partido e da comissão militar. Funcionários e delegados dizem que o objetivo é fortalecer as salvaguardas constitucionais para a autoridade do partido e a “liderança centralizada e unificada” do presidente.

Temer convoca líderes e vice-líderes para defender governo
O presidente Michel Temer mandou convocar nesta segunda-feira (12) líderes e vice-líderes governistas numa articulação para demonstrar força em meio às duas investigações das quais é alvo.
Segundo líderes ouvidos, não há pauta específica nas reuniões marcadas para esta segunda-feira, no final da tarde. A ideia é "pedir empenho, dedicação e defesa do governo", segundo um interlocutor do presidente.
Temer é alvo de dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF). Um apura se houve propina da Odebrecht na Secretaria de Aviação Civil. O outro, se um decreto assinado pelo presidente beneficiou empresas do setor de portos.
Temer quer afastar a imagem de que está fragilizado pelos inquéritos. A ideia das reuniões é "mostrar que está vivo" e tem "a caneta e a tinta na mão", diz um aliado.
O presidente também quer passar aos aliados a imagem de que será peça importante na sucessão presidencial, seja colocando a máquina à disposição de algum candidato ou encampando a ideia de seus auxiliares e se lançando à Presidência.

Associação pede para prefeitura manter preço do táxi-lotação
Contrária ao aumento do valor da tarifa, a Associação dos Transportadores de Passageiros por Lotação de Porto Alegre (ATL) vai encaminhar ofício ao Paço Municipal, nesta segunda-feira, solicitando que o preço do táxi-lotação permaneça em R$ 6,00. Na última sexta-feira, o prefeito da Capital, Nelson Marchezan Júnior (PSDB), sancionou reajuste da tarifa do transporte coletivo – R$ 4,05 para R$ 4,30 – e também elevou valor do bilhete do lotação para R$ 6,05. Os novos preços passam a vigorar a partir desta terça-feira.
Conforme o gerente executivo da ATL, Rogério Lago, o valor da passagem dos lotações pode variar de 1,4 a 1,5 vezes o preço da passagem de ônibus. Em 2018, o menor índice foi escolhido. Com isso, o reajuste foi para R$ 6,02. Mas, Marchezan arredondou valor para cima, critica Lago.
“Nós vamos encaminhar um ofício para a EPTC solicitando a reconsideração do prefeito no valor da tarifa estipulado em R$ 6,05. Nós queremos manter em R$ 6,00 ao entendermos que o índice fica no percentual de 1,4, como determina a lei. Além de tudo, R$ 6,05 vai nos dar um transtorno de troco enorme por causa de R$ 0,05”, reclama.

➤OPINIÃO

A esquerda diante da democracia*

Demétrio Magnoli

“Este nosso encontro talvez fosse improvável”, sugeriu Guilherme Boulos no lançamento de sua pré-candidatura presidencial, diante de Caetano Veloso e um cortejo de celebridades. 

Improvável por quê? “O que nos uniu foi o avanço do conservadorismo, que nos forçou a buscar alianças novas”, explicou o candidato pelo PSOL. De acordo com a narrativa que vai sendo alinhavada pela esquerda, o Brasil já não vive numa democracia. 

O “golpe do impeachment” abriu uma fase de “autoritarismo” que equivale a “voltar 50 anos atrás” (portanto a 1968, segundo Boulos) e se destina a “retirar direitos” trabalhistas e previdenciários. 

Não é um bom caminho para enfrentar os desafios do ciclo pós-Lula.Boulos subordina o PSOL a uma narrativa que nasceu como tática do PT para conservar a hegemonia lulista sobre a esquerda na sequência da desmoralizante derrota representada pelo impeachment. 

Do ponto de vista petista, a denúncia do “golpe de 2016” não passa de um expediente oportunista — e a prova disso é que o PT já anunciou a retomada da política de coligações eleitorais com os “golpistas” do MDB e do “centrão”. Mas aquilo que serve ao lulismo não serve à esquerda pós-lulista.

Taticamente, a denúncia do “autoritarismo” implica a “unidade das esquerdas” — isto é, uma frente formal (como quer Tarso Genro) ou informal (como prefere Boulos), no modelo da aliança de resistência à ditadura militar. Na prática, monta-se uma camisa de força eleitoral: após o primeiro turno, os partidos e movimentos de esquerda devem se juntar às candidaturas remanescentes do “campo da esquerda”, que tendem a ser aquelas patrocinadas pelo PT.

No caso da disputa presidencial, a esquerda fica virtualmente comprometida com o candidato ungido por Lula (seja ele Jaques Wagner, Fernando Haddad, Ciro Gomes ou outro). “Jamais vou pedir para você não ser candidato”, garantiu Lula em mensagem exibida no lançamento da campanha de Boulos, explicitando o sentido da parceria. Por essa via, o lulismo sobrevive ao ocaso político de Lula, ancorando as forças de esquerda ao redor de um cais em ruínas.

Estrategicamente, a negação da realidade é a pior das bússolas políticas. No Brasil, estão ausentes todos os traços clássicos dos regimes autoritários. As liberdades públicas não foram tocadas. A separação de poderes ficou comprovada pelo próprio impeachment e, no governo Temer, pelo fracasso do projeto de reforma previdenciária, dois lances de confronto do Congresso com o Executivo. A independência do Judiciário é atestada pelos inquéritos e denúncias contra Temer. O voto de Gilmar Mendes decidiu o habeas corpus a favor de José Dirceu. Lula está solto; Eduardo Cunha, preso. Apesar do que se propaga falsamente a partir do PT e do PSOL, os militares não são (nem poderiam ser) usados para reprimir manifestações políticas.

O Boulos que fala em retorno a 1968 — assim como as celebridades (devo dizer “intelectuais”?) que o cercam — reflete a dificuldade da esquerda pós-lulista de encarar os dilemas reais de nossa democracia bastante imperfeita. A narrativa farsesca, que soa como música aos ouvidos de convertidos, tem o efeito de isolar seus arautos numa redoma folclórica. Lula qualificou Boulos como “pessoa de muito futuro na política”. O dúbio elogio equivale a excluí-lo do presente.

A fonte de inspiração de Boulos e de boa parte do PSOL é o espanhol Podemos, fundado em 2014 sob o influxo das manifestações antiausteridade. Atraído pelo castrismo e pelo chavismo, o partido esquerdista classificou a monarquia parlamentar espanhola (o “regime de 1978”) como uma versão amenizada do franquismo. Nutrindo-se da recessão e dos escândalos de corrupção, o Podemos decolou como um míssil, chegando perto de ultrapassar o Partido Socialista para figurar como segundo partido do país. Contudo, entrou em declínio após as eleições gerais de dezembro de 2015, vitimado por seu próprio discurso de negação da democracia.

O ato desastrado inicial foi a recusa de um pacto de governo com os socialistas, o que propiciou a recondução dos conservadores ao poder. O ato seguinte foi uma aliança tácita com os nacionalistas catalães, que o conduziu a repetir o epíteto de “bloco monárquico” usado pelos separatistas contra todos os partidos constitucionalistas. A reação do eleitorado, expressa nas pesquisas de opinião, já empurrou o Podemos à condição de quarto partido do país. Farsas têm consequências — eis a lição espanhola.

Hipnotizada pelo passado, a esquerda pós-lulista ainda cultua a Cuba dos Castro, jura fidelidade ao regime agonizante de Nicolás Maduro, recusa-se a admitir o fiasco da política econômica dilmista, traça paralelos delirantes entre o governo Temer e o regime militar e, sobretudo, vira as costas ao diálogo democrático. Três décadas atrás, o PT rejeitou assinar a Constituição de 1988, a mesma que lhe permitiu governar o Brasil por 13 anos. Hoje, imitando o Podemos, seus presumíveis sucessores crismam todos os demais atores políticos como um “bloco autoritário”.

2018 não é 1968. Alguém precisa dizer isso a Boulos.

Demétrio Magnoli é sociólogo

*Publicado no Portal do jornal O Globo em 13/03/2018