A Lula o que é de Lula*
Líder petista tenta desvirtuar os fatos como se não
tivesse qualquer relação com a crise
O sr. Lula da Silva tem dito que quer ser candidato à
Presidência da República nas eleições de 2018. Seu desejo de voltar ao Palácio
do Planalto enfrenta, no entanto, algumas dificuldades. A primeira é com a
Justiça, já que foi condenado pelo juiz Sérgio Moro a 9 anos e 6 meses de
prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no processo
relativo ao triplex do Guarujá. Se o Tribunal Regional Federal (TRF) da 4.ª
Região mantiver a condenação, o líder petista estará inelegível, por força da Lei
da Ficha Limpa (Lei Complementar 135/2010).
A dificuldade com a Justiça não é uma possibilidade
remota, já que o histórico do TRF da 4.ª Região mostra que a Corte, além de ser
célere, não costuma reformar as sentenças de Moro. E nos raros casos em que os
desembargadores modificaram condenações da 13.ª Vara Federal de Curitiba, a
alteração, em geral, aumentou a pena. É uma possibilidade real, portanto, que a
Lei da Ficha Limpa se imponha contra as pretensões presidenciais do líder
petista.
A questão jurídica não é, porém, o único obstáculo para
que o sr. Lula da Silva volte ao Palácio do Planalto. Outra grave fragilidade
de sua pretensa candidatura é a herança maldita que Lula da Silva deixou ao
País. Recentemente, ele mesmo mencionou a triste situação que causou. “O Brasil
que era o País da moda há um tempo atrás, o mais badalado, (...) virou essa
vergonha de mentiras, de destruição, de desemprego e de fechamento de
empresas”, disse Lula da Silva, em entrevista à Rádio Capital. Malandramente,
ele não se reconheceu como responsável pelo desastre, relatando a situação
nacional como se ele fosse mero espectador.
O fato de Lula da Silva não assumir a culpa que lhe
corresponde não modifica, no entanto, sua responsabilidade sobre a história
recente do País. Foi o sr. Lula da Silva quem abriu as portas do Estado
brasileiro para o aparelhamento petista. Foi em seu governo que houve a
gestação do maior escândalo de corrupção da história, o petrolão, e que se deu
a perversão do regime democrático com a compra de parlamentares, o mensalão.
Foi o sr. Lula da Silva quem escolheu, bancou e elegeu a presidente Dilma
Rousseff, que viria a gerar a maior recessão da história, uma recessão que,
como os brasileiros atestam diariamente, custa tanto a ir embora.
Ciente do seu papel na lambança, o líder petista tenta,
desde já, desvirtuar os fatos, como se ele não tivesse qualquer relação com a
crise nacional. Com a esperteza que lhe é própria, Lula da Silva atribui a
responsabilidade pela situação atual ao presidente Michel Temer, há pouco mais
de um ano no cargo. Ora, não é segredo para ninguém que a crise econômica,
política, social e moral vem dos tempos petistas no governo.
Oriundas dessa mesma esperteza são as críticas que Lula
da Silva faz agora à gestão da presidente Dilma Rousseff. Ante a absoluta
impossibilidade de defender os desastrosos anos de Dilma na Presidência da
República – soberba, ignorância e voluntarismo são apenas alguns de seus
atributos –, Lula da Silva opta por reclamar da sua sucessora, na inverossímil
expectativa de que o povo não lembre quem foi o criador da desastrada criatura.
Diante de tanta corrupção e podridão na esfera pública –
com a direta participação de parte do setor privado –, alguns discorrem sobre a
necessidade de refundar o País. Essas pessoas defendem a ideia de que as atuais
instituições seriam incapazes de recolocar o Brasil nos trilhos. Certamente,
são necessárias algumas reformas legislativas profundas, que abram espaço para
o desenvolvimento econômico e social. No entanto, o principal óbice para o
interesse público não são, no momento, as instituições. É uma pessoa, Lula da
Silva, a grande responsável pela crise que está aí, cujo descaramento habitual
ainda faz com que se apresente como solução. Basta que a população reconheça o
papel único de Lula da Silva na atual situação brasileira, para que se elimine
qualquer possibilidade de ele voltar à Presidência. De pronto, abrir-se-á ao
País um novo horizonte de esperança e otimismo.
*Publicado no Portal Estadão em 22/07/2017