domingo, 7 de maio de 2017

➤BOA NOITE!


Esporte Clube Novo Hamburgo

Pela primeira vez em sua história, o Esporte Clube Novo Hamburgo é Campeão Gaúcho de futebol. Depois de empatar em 1 X 1 com o Internacional, o ‘Nóia’ venceu na cobrança de penalidades máximas.
Neste domingo, os parabéns vão para os torcedores do anilado que estão vibrando com a conquista. Ouçam e cantem  juntos o Hino do Esporte Clube Novo Hamburgo


➤OPINIÃO

O comandante*

Cara a cara com Moro, Lula tem de explicar a 
avalanche de revelações que se completam

Eliane Cantanhêde

O personagem central desta semana (aliás, de toda a crise) é o ex-presidente Lula, que vai ficar cara a cara com o juiz Sérgio Moro na quarta-feira, em Curitiba, enquanto ecoam as revelações demolidoras de Emílio e Marcelo Odebrecht, de Léo Pinheiro e de Renato Duque, o homem do PT na Petrobrás. As histórias que eles contaram em juízo têm sujeito, verbo, predicado, lógica e conexão com o famoso PowerPoint do procurador Deltan Dallagnol. Lula tem como negá-las com a mesma força?

Depois de tudo que os Odebrecht relataram sobre a conta pessoal que Antonio Palocci gerenciava para Lula na empreiteira (que não era banco...), de todos os detalhes de Léo Pinheiro sobre a participação direta do ex-presidente nos esquemas e das declarações de Duque de que ele era o chefe, o grande chefe, o “nine” que sabia de tudo e comandava tudo, a situação de Lula é delicadíssima.

Seus seguidores se recusam não apenas a acreditar, mas até a ouvir. Logo, seus 30% nas pesquisas, decisivos num primeiro turno, podem não cair um único ponto. Mas o resto da sociedade não é cega, surda e muda às revelações. Logo, seus 45% de rejeição, fatais num segundo turno, podem aumentar. E a questão principal é jurídica, porque a força-tarefa tem dúvida zero sobre o papel de Lula no maior esquema de corrupção do planeta.

A nossa Petrobrás foi fatiada: Nestor Cerveró roubava para o PMDB, Paulo Roberto Costa, para o PP, e Duque, para o PT. Incluindo o detalhe de Paulo Bernardo se referir a Lula com o gesto de cofiar a barba, Duque conta que a propina original de um negócio bilionário seria de 1%, dividido meio a meio entre o PT e “a casa” (diretores e gerentes corruptos), mas o tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, foi bater o martelo com Palocci e ele não topou. Ficou assim: 2/3 para o PT, 1/3 para “a casa”. E, quando a Lava Jato estourou, Lula deu uma ordem a Duque: se tivesse provas, era para não ter.

Lula se compara a “uma jararaca”, mas é um encantador de serpentes, com inteligência privilegiada, sacadas rápidas, respostas cortantes, um carisma que dez entre dez políticos invejam. Esse instrumental será de enorme valia na quarta-feira, quando, do outro lado, estará Sérgio Moro, um juiz bem mais jovem, sem traquejo de palanques e embates políticos. Algo, porém, pode reequilibrar o jogo: “contra fatos não há argumentos”.

Moro se baseará só em delações ou terá mensagens, agendas, contas? E se limitará ao triplex de Guarujá, ou fará cruzamentos dos depoimentos que colocam Lula como presidente simultaneamente do País e dos esquemas? Por mais que Lula siga os advogados e a própria intuição para não responder a nada que fuja ao triplex, não estará ali só como réu, mas como o político mais popular da história recente e líder das pesquisas para 2018. Logo, não irá ouvir calado perguntas que dizem tudo. Nem fugirá do seu hábitat natural: o palanque.

José Dirceu está solto enquanto a condenação em segunda instância não vem e Palocci deve ser mantido preso pelo plenário, nesta semana. Um era um executor do PT e do governo, já foi carimbado como o “chefe da quadrilha” no mensalão e condenado a três décadas no petrolão. O outro caiu da Fazenda com Lula, caiu da Casa Civil com Dilma e surge na Lava jato como um gerentão não de um partido, mas das contas de um presidente da República.

Sem querer reduzir a importância de Dirceu e Palocci, os dois tinham muito poder, mas não atuavam sozinhos nem da própria cabeça. A força-tarefa suspeita, e os principais atores desse drama confirmam, que eles tinham um comandante, um cérebro, e vai ficando cada vez mais cristalino quem era. Vamos ver o que Lula tem a dizer, além da tradicional vitimização política.

*Publicado no Portal Estadão em 07/05/2017

➤BOM DIA!

Lava-Jato expõe ‘capitalismo de compadres’*

Investigação do escândalo de que participam políticos, estatais e empresas privadas mostra, na prática, como o patrimonialismo desvia recursos da sociedade

A confusão entre público e privado, o patrimonialismo, é um traço marcante na vida brasileira. Há fundas raízes históricas nessa deformação, que também se reflete no manejo de recursos e instrumentos do Estado por poderosos de ocasião em benefício próprio e de grupos privados que os apoiam. Há uma relação de duas mãos entre ambos.

O termo “capitalismo de compadres” ou de “laços” é usado na literatura sobre economia e de ciência política para designar este tipo de troca de favores, usando-se o dinheiro público. Trata-se de uma forma perniciosa de privatização conduzida de maneira mafiosa, dentro do regime capitalista, mas contrário a princípios do capitalismo — como eficiência, competição, busca pela produtividade e assim por diante.

O escândalo do petrolão, especialmente a parte ilustrada por depoimentos gravados da cúpula da Odebrecht, é um material precioso para sustentar estudos sobre o capitalismo de laços, de compadrio. Deveria, inclusive, servir de material didático em aulas sobre o assunto. Tanto que Sérgio Lazzarini, autor de “Capitalismo de laços — Os donos do Brasil e suas conexões”, disse ao GLOBO que pensa em atualizar o livro a partir da Lava-Jato.

Um exemplo irretocável de como governantes de turno podem privatizar recursos públicos em interesse próprio, num país com grande participação do Estado na economia, está no depoimento de Marcelo Odebrecht à força-tarefa de Curitiba sobre a origem da Arena Corinthians: foi um pedido do então presidente Lula, corintiano conhecido, a Emílio, pai de Marcelo. Algo imperial.

A empreiteira da família não pôde negar — contra a opinião de Marcelo —, e o presidente mobilizou o BNDES e a Caixa. Os custos, como esperado, se multiplicaram, e a Arena está engasgada na contabilidade de bancos públicos e virou um problema para o próprio clube. Não se tenha dúvida de que em algum momento esta conta, toda ou em parte, chegará ao Tesouro, por meio dos bancos oficiais.

O Brasil conta com instituições republicanas que têm dado demonstrações de solidez. Na própria Lava-Jato. Mas, por ter uma presença grande do Estado na economia, decisões de investimentos podem ser tomadas como se o regime fosse monárquico.

Prejuízos e custos, claro, são socializados entre os contribuintes. Entre os custos, propinas inimagináveis como no lulopetismo. Há outros casos concretos decorrentes desse capitalismo de compadrio. Vários ocorridos na órbita da Petrobras, a qual, pelo tamanho, costuma ser usada nesses conchavos em torno de bilhões — de dólares. Como a refinaria Abreu e Lima, um mastodonte inacabado erguido em Pernambuco por “decisão política” de Lula, em conluio com o caudilho venezuelano Hugo Chávez. Sem estudos técnicos profundos, como necessários, o projeto, orçado inicialmente em US$ 2 bilhões chegou aos US$ 20 bilhões. Foi paralisado, apenas uma parte está em operação. E jamais gerará lucros que o paguem.

Esta é uma característica desses planos surgidos de cumplicidades entre governantes e empresas privadas. São fadados ao fracasso. A lista recente é extensa: Sete Brasil e os delírios para a “produção nacional” de plataformas de perfuração, estaleiros para fornecer navios à Petrobras, projetos na produção de álcool, investimentos na petroquímica — estes vêm desde Geisel. São relatos para não serem esquecidos, a fim de que tudo não se repita, como acontece pelo menos desde Getulio Vargas, neste capitalismo de estado e de laços verdes e amarelos.
*Publicado no Portal O Globo em 07/05/2017