O fim da farra na Petrobrás*
O desastre administrativo da Petrobrás permitiu ao País
constatar o mal que faz submeter a gestão das estatais à patota sindical.
Felizmente, a nova direção da empresa tomou coragem para retomar o caminho do
profissionalismo, ao propor um pacote trabalhista que, na prática, visa a
encerrar esse período nefasto em que os servidores da petroleira se tornaram
uma casta de privilegiados às expensas do contribuinte.
Conforme noticiou o Estado,
a proposta inclui redução de jornada de trabalho e de salário, congelamento do
piso salarial e corte de horas extras, do auxílio-alimentação e do subsídio
para compra de remédios por funcionários, tudo como parte do ajuste nas
depauperadas finanças da estatal e da recuperação de sua capacidade de
investimento.
Como era previsível, a proposta encontrou forte
resistência dos sindicalistas, cuja presença em diversos cargos de direção, por
obra e graça da trevosa era lulopetista, é um dos elementos que explicam por
que a estatal chegou ao estágio de degradação em que se encontra. Dizendo-se
defensora da empresa contra o “imperialismo” e contra o “neoliberalismo”, a
companheirada esmerou-se em criar e ampliar mimos para os funcionários, como se
esses servidores fossem de uma categoria especial apenas pelo fato de
trabalharem na estatal que “traz em sua bandeira verde e amarela a paixão e o
orgulho do povo brasileiro”, como qualificou a Federação Única dos Petroleiros
(FUP). Ser empregado da Petrobrás, segundo essa turma, não é exercer uma
simples ocupação remunerada; é abraçar a nobre missão de proteger a soberania
nacional.
Essa patranha foi utilizada na tentativa de justificar
barbaridades. Assim, por exemplo, os funcionários que deixaram de trabalhar nas
plataformas de petróleo e passaram a despachar nos escritórios no centro do Rio
de Janeiro não perderam o extra que recebiam a título de periculosidade – esse
dinheiro foi convertido em bônus, graças a um acordo dos sindicatos com os
gerentes de recursos humanos e de relações sindicais, não por acaso
ex-dirigentes da FUP. Suspeita-se que tal acordo – que, na prática, anula o
adicional de periculosidade – tenha sido deliberadamente malfeito pelos
gerentes-sindicalistas com o objetivo de deixar brechas para contestações
judiciais e uma enxurrada de indenizações, das quais os sindicatos abocanham
uma parte.
Vantagens inexplicáveis como essa, que não são
encontradas em nenhuma empresa do setor privado, se multiplicam na Petrobrás.
Os funcionários dispõem de generosa assistência médica e de ampla participação
nos lucros – que foi paga mesmo quando a empresa começou a registrar prejuízo
bilionário. Além disso, prevalece o sistema em que funcionários são promovidos
apenas em razão do tempo de casa.
É claro que, ao estimular essa esbórnia trabalhista, a
tigrada só pensa em arregimentar, entre os felizes e agradecidos empregados da
Petrobrás, os contribuintes que sustentarão a máquina sindical. É um círculo
vicioso que precisa ser rompido sem hesitação, mesmo diante do desgastante
confronto com os sindicatos.
A reação começou entre os próprios funcionários da
Petrobrás, cansados do aparelhamento promovido pelo PT, que, entre outros
estragos, abriu um rombo no fundo de pensão da estatal. Na mais recente eleição
para representante dos funcionários no Conselho de Administração da Petrobrás,
saiu vencedora a chapa constituída por engenheiros sem qualquer ligação
partidária ou sindical. Até então, essa vaga era ocupada por gente da FUP e da
Federação Nacional dos Petroleiros (FNP).
Agora, a nova direção da Petrobrás quer avançar ainda
mais no desmonte dessa estrutura perniciosa, restabelecendo a racionalidade no
trato com seus funcionários. O melhor sinal de que a Petrobrás está no caminho
certo é a reação irada dos sindicatos, que prometeram uma “resposta dura” ao
pacote. Espera-se que a direção da estatal deixe claro que a época da
administração companheira, responsável por permitir a pilhagem da empresa por
aqueles que dizem defendê-la, acabou de vez.
*Publicado no Portal Estadão em 20/09/2016