Sérgio Bittencourt foi um compositor e jornalista
brasileiro. Filho de Jacob do Bandolim foi criado em volta dos chorões e das
rodas de choro. Na escrita, seu estilo era duro e desaforado, mas era
considerado sentimentalista.
Elizeth Cardoso, conhecida como A Divina, é considerada
uma das maiores intérpretes da música brasileira, além de uma das mais talentosas
cantoras de todos os tempos.
Em 1974, Elizeth Cardoso e Sérgio Bittencourt gravaram o
samba Naquela Mesa, feito por Sérgio em homenagem a seu pai, Jacob do Bandolim.
Quanto mais perto de se tornar presidente de fato e de
direito, mais Michel Temer fica diante de um desafio e tanto: conciliar dois
objetivos inconciliáveis por definição.
Ele precisa conquistar apoio popular e,
ao mesmo tempo, tomar medidas consideradas pelo senso comum como “impopulares”.
Não se trata de opção ou de vontade. Buscar popularidade e patrocinar reformas
é fundamental – e urgente.
O ponto central desse desafio de Temer é a reforma da
Previdência, um debate que percorre igualmente países desenvolvidos e
emergentes e é uma exigência da realidade também no Brasil. Fernando Henrique
começou, Lula continuou, Dilma anunciou antes de cair e Temer não tem
alternativa: é fazer ou fazer.
Apesar da defesa, a torto e a direito, de quem tem
responsabilidade de governo e tem noções de contabilidade, a questão da
Previdência está no foco das relações entre capital e trabalho e deixa o
governo Temer entre a cruz e a espada, fustigado pela percepção da sociedade, a
versão das centrais sindicais e a pressão dos investidores. Mas a encruzilhada
de Temer vai além da reforma da Previdência. Há a grave questão fiscal, a
regulação das relações Estado-iniciativa privada e a flexibilização das regras
trabalhistas – sem contar a reforma política, às avessas: exigência da
sociedade, enfrenta resistências no Congresso.
Bastou o impeachment definitivo de Dilma entrar na reta
final para Temer mergulhar em reuniões com empresários e banqueiros pesos
pesados, obviamente indispensáveis para reaquecer a economia e gerar empregos.
Mas, de outro lado, cinco centrais sindicais divulgaram nota curta e grossa, de
dois parágrafos, convocando um ato na próxima terça-feira e mandando um recado:
rejeitam qualquer negociação “que vise retirar direitos trabalhistas e
previdenciários da classe trabalhadora, ou precarizar ainda mais as relações de
trabalho”. E essa nota uniu duas velhas inimigas: a CUT (petista) e a Força
Sindical (antipetista).
Nesse ambiente, ministros de Temer, líderes governistas e
até o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade,
rebatem com o mesmo exemplo: a França, que, apesar de símbolo de democracia e
de políticas sociais e trabalhistas, foi compelida a fazer reformas duras
quando a crise na Grécia ameaçou cruzar fronteiras. “No mundo de hoje, não se
pode governar a partir de dogmas, achando que as coisas são imutáveis”, diz
Andrade.
É sob essa pressão do mercado e das forças trabalhistas
que Temer tenta driblar os dogmas e atender a realidade, exercitando sua
experiência política e discutindo como azeitar a comunicação. Assim como
negociou o “Ponte para o Futuro” com o capital, ele precisa convencer o
trabalho e a opinião pública de que a flexibilização trabalhista não é contra
os trabalhadores e que a reforma da Previdência não é contra os velhinhos, mas
exatamente para que os assalariados tenham emprego e que todos os velhinhos tenham
direitos cada vez mais iguais. Aliás, que continuem tendo direitos. Como? Com
novos limites de idade, equilíbrio entre contribuição e idade e um sistema
único para o serviço público e o privado.
Como presidente efetivo, Temer terá mais condições de
apresentar uma “atualização” do País nas áreas previdenciária, trabalhista e
regulatória, e de negociar com o Congresso tendo na retaguarda o apoio do setor
produtivo, a recuperação da confiança e a volta do investimento interno e
externo. Mas ele também precisa da opinião pública e das centrais, sem se
esquecer de que o maior problema estrutural do Brasil continua sendo a
desigualdade e que populismo barato é uma coisa, justiça social é outra,
obrigatória. Atualização do País, sim. Retroceder na inclusão, nunca. Isso
acabaria com o governo dele e com o seu verbete na história.
Bem cedo da manhã a gente escutava os passos firmes do
pai, muitas vezes mais fortes pelo barulho provocado pelo taco das botas
militares, pela casa de soalho de madeira. Ficava no ar o perfume de seu
informe impecavelmente limpo e passado, quase que todos os dias, pela mãe que,
orgulhosa, levava meu pai até a porta para que ele fosse para o quartel.
Não sei por quantos anos acordei com o barulho do salto
do sapato, ou das botas, que meu pai usava quando se preparava para sair de
casa. Meu pai era um soldado e jamais deixou de ser exatamente aquilo que
aprendeu da rígida disciplina militar.
Mais tarde, quando já era um moço, deixei de ouvir os
passos firmes do pai pela casa. Vítima de uma trombose, meu pai deixou o
quartel e, no máximo, se escutava o barulho quase imperceptível de sua bengala
quando ele ainda tentava caminhar pela casa. Foram muitos anos sem o barulho do
salto dos sapatos ou das botas, depois da bengala do meu pai, até que
silenciassem definitivamente.
Meu pai, um soldado que nos deixou quando foi promovido a
Coronel, já não andava pela casa, mas sua figura nunca deixou de estar presente
em nossas vidas.
Hoje, depois de não sei quantos anos, sem ele, sem a Dona
Célia, minha mãe, sem meus outros sete irmãos, sinto um vazio enorme dentro do
peito quando lembro deles. Um vazio que, eu sei, é a saudade imensa que
deixaram na minha vida.
Ficaram as noras, os netos e os bisnetos do meu pai.
Ficaram, comigo, meus filhos e meus netos. Eles, de alguma forma, substituem o
vazio que o “velho Capitão Machado” deixou.
Sentado no meu escritório, olhando para as fotos que
tenho nas paredes, vejo a figura dele, da minha mãe, dos meus filhos, dos meus
netos e dos meus irmãos e tenho a certeza absoluta que valeu a pena ter vivido
até aqui. Que nunca fiquei sozinho!
Meu pai deixou um exemplo de vida, de superação, de
sabedoria, que, de alguma forma, tento sempre passar para meus filhos e peço
que passem para meus netos. Não sei se consigo, mas sei que jamais poderei
deixar herança maior para eles do que aquilo que me pai me ensinou.
Se neste Dia dos Pais eu tivesse que cantar uma música
que define muito daquilo que ficou em mim deixado pelo meu pai, eu cantaria que “Eu sou teu sangue, meu velho, teu silêncio e teu tempo. Velho, meu querido velho”.