Vitórias e derrotas*
Eliane Cantanhêde
O perfil do vitorioso estava traçado naturalmente,
faltava encaixar um nome. Rodrigo Maia caiu como uma luva: 46 anos, quinto
mandato, filho do conhecido político César Maia, ele representa a “nova
situação” – PSDB, PPS, PSB e o próprio DEM –, transita bem em todos os
partidos, não orbitou em torno de Eduardo Cunha e, ao que se saiba, passa ao
largo da Lava Jato.
Temer fala em “pacificar” a Câmara, Maia disputou e
venceu prometendo exatamente “pacificar” a Câmara. É isso que o País precisa e
os próprios deputados e funcionários querem desesperadamente. Depois do “nós
contra eles” das gestões do PT, da tragédia Eduardo Cunha e do vexame Waldir
Maranhão, é preciso paz. Paz para trabalhar, debater, construir e se recompor
com a sociedade. Até porque, em algum minuto, as prisões vão começar. É preciso
uma casa sólida, confiável.
Do outro lado da rua, Temer esfrega as mãos
cerimoniosamente, recorrendo a um velho cacoete de quando em fala em público ou
precisa ser contido nas emoções. Tudo o que ele não queria era a vitória de
Marcelo Castro (PMDB-PI), que virou as costas ao PMDB para se agarrar ao
Ministério da Saúde, só desgarrou para votar contra o impeachment na Câmara e
agora se rendeu ao jogo da oposição – leia-se do PT – sem ao menos se fingir
docemente constrangido.
Castro dividiu o PMDB de Temer, quando este precisa
justamente somar forças, mas só teve 70 votos e não chegou ao segundo turno e
tinha uma vantagem para Temer: o Planalto pôde jogar ostensivamente contra sua
candidatura. Mais complicado, e arriscado, foi tratar a do deputado Rogério
Rosso (PSD-DF).
Que vantagem Temer teria com a eleição de Rosso? Pouca,
ou nenhuma. Primeiro, consolidaria a versão do “acordão” para dar sobrevida a
Eduardo Cunha. Segundo, ele teria simultaneamente um presidente da Câmara e um
líder do seu próprio governo (André Moura) mais alinhados com Cunha do que com
ele mesmo.
Mas, de outro lado, como bater de frente com Cunha? Por
alguma razão que até a razão desconhece, Temer é cheio de dedos e cuidados na
sua relação com Cunha. Sabe-se lá por quê, apesar das muitas suspeitas sobre
motivos.
Sendo assim, Rodrigo Maia veio bem a calhar para o
Planalto, que arranjou um candidato para chamar de seu e agora divide os louros
da vitória com ele. Mais: curtindo a sensação de que o Centrão ainda é uma
força, sem dúvida, com seus 170 votos para Rosso, mas já não é essa Brastemp
toda.
“Last, but not least”: o PT e seus aliados não deram nem
para o gasto. No rastro da ruína do governo Dilma Rousseff, o partido de Lula
não conseguiu sequer lançar um candidato, nem dele próprio, nem do PCdoB ou do
PDT. Quem se lançou por uma dessas siglas se lançou por conta própria. E Aldo
Rebelo, líder no PCdoB, agiu institucionalmente, mais no interesse da Câmara do
que no de partidos.
O PT, sem nomes para vencer, lançou um nome para rachar o
PMDB, dividir a base aliada ao Planalto e deixar Temer espremido entre o
candidato de Cunha e um candidato de Lula, mas deu errado. Temer acabou com
dois candidatos e foi ele quem espremeu o PT e Lula.
Agora, é torcer para Rodrigo Maia realmente “pacificar” a
Câmara, negociar os principais projetos com o Planalto, a base aliada, os
derrotados e os adversários. Seu maior desafio é resgatar a moral e a honra do
Congresso numa hora vital. Bom trabalho e boa sorte!
*Publicado no Estadão.com em 15/07/2016