Ex-presidente da Andrade envolve ex-governadores,
senadores, ministros e ex-ministros de Lula e Dilma
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Otávio Azevedo (Foto/Reprodução) |
Das grandes empreiteiras envolvidas no escândalo de
corrupção na Petrobras, a Andrade Gutierrez foi a primeira a decidir contar
seus segredos. Durante quase uma década, Otávio Azevedo presidiu o que é hoje
um vasto conglomerado, expandiu seus negócios para a área de energia,
saneamento, transportes e tecnologia, e passou a atuar em quatro continentes -
crescimento combinado com as boas relações que sempre manteve com o poder,
especialmente a partir de 2003, quando Lula chegou ao governo. Preso e acusado
de pagar propina a políticos envolvidos no escândalo do petrolão, Otávio
Azevedo assinou um acordo de delação premiada com a Justiça. Em troca da
liberdade, comprometeu-se a contar detalhes da relação simbiótica que, por mais
de uma década, transformou políticos em corruptos e empresários em corruptores.
As revelações do executivo fornecem evidências que não deixam dúvidas sobre a
natureza dos governos de Lula e Dilma Rousseff. Ambos tinham na corrupção um
pilar de sustentação.
Em sua confissão, Otávio Azevedo contou que pagar propina
por obras no governo petista era regra em qualquer setor - e não uma anomalia
apenas da Petrobras. Nos depoimentos prestados pelo empreiteiro aos
investigadores da Procuradoria-Geral da República são descritas transações
associadas ao nome de alguns dos políticos mais influentes do país. Combinados
a um calhamaço de demonstrativos bancários, minutas de contratos e registros de
reuniões secretas, os relatos produzem um acervo sobre o grau de contaminação
dos governos petistas. Estão envolvidos ministros, ex-ministros,
ex-governadores e parlamentares de múltiplos quilates. Eles negociaram
pagamentos milionários de propina com a empreiteira e, com isso, vilipendiaram
o mais sagrado dos rituais em uma democracia: o processo eleitoral. A lista de
Otávio Azevedo deixa em péssima luz tanto o ex-presidente Lula quanto a
presidente Dilma Rousseff. Todos os comprometidos nas maquinações narradas pelo
empreiteiro são figuras presentes na intimidade do ex e da atual mandatária do
Planalto.
No governo Lula, segundo ele, cobrava-se propina de 1% a
5% das empreiteiras interessadas em participar dos consórcios que executavam as
obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O negociador do pacote de
corrupção, de acordo com o empreiteiro, era Ricardo Berzoini, atual ministro da
coordenação política. O executivo contou que, certa vez, a cúpula da Andrade
Gutierrez foi procurada por Berzoini, que se apresentou como representante do
PT para resolver pendengas financeiras. Em outras palavras, o petista era o
encarregado de acertar o recebimento de "comissões" por contratos no
governo.
O ministro, durante bom tempo, foi responsável pela administração da
"conta corrente" das obras de Angra 3 e da hidrelétrica de Belo
Monte.
Criticados no início da Lava-Jato, os acordos de delação
foram, sem dúvida, fundamentais para o sucesso das investigações. Através
deles, quebraram-se pactos de silêncio, localizaram-se contas secretas no
exterior, figurões e figurinhas foram parar na cadeia. Em busca da liberdade ou
da redução da pena, outros envolvidos entraram na fila para contar o que sabem.
Na semana passada, advogados da Odebrecht e da OAS estiveram em Curitiba
conversando com o Ministério Público sobre a possibilidade de seus clientes
serem admitidos no programa. Marcelo Odebrecht está condenado a dezenove anos e
quatro meses de prisão. Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, a dezesseis anos e
quatro meses. Além deles, buscam o acordo o marqueteiro João Santana, que
recebeu dinheiro sujo como pagamento de serviços eleitorais a campanhas do PT,
o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula e envolvido até o pescoço no
petrolão, e o senador petista Delcídio do Amaral.
Não será uma negociação fácil: o esquema de corrupção na
Petrobras está praticamente todo desvendado. Falta apenas confirmar quem era o
chefe, o mandante. Ou seja, os benefícios serão concedidos a quem ajudar os
procuradores a chegar lá. Todos os investigados têm informações que podem levar
ao topo da cadeia de comando. A dúvida é saber quem vai tomar a iniciativa de
falar primeiro. O senador Delcídio está na frente. Preso em novembro do ano
passado por atrapalhar as investigações, ele revelou que tanto Dilma quanto
Lula sabiam e se beneficiaram do petrolão. O petista narrou detalhes de
negócios fraudulentos realizados pelo PT na China e em Angola, também citando
os ex-ministros Antonio Palocci e Erenice Guerra. Elencou, ainda, dezenas de
políticos que receberam dinheiro de corrupção - incluindo, de novo, o
presidente do Congresso, Renan Calheiros, e os peemedebistas Romero Jucá, Jader
Barbalho e Eunício Oliveira - e até um representante da oposição, no caso, o
senador tucano Aécio Neves. Por fim, acrescentou uma nova história de extorsão
ao currículo do ministro Edinho Silva. O então tesoureiro de Dilma, de acordo
com o senador petista, repetiu os métodos denunciados pela Andrade para
arrancar dinheiro do laboratório EMS na campanha presidencial. Se tudo for
verdade, faltará mesmo muito pouco para ser contado.
Confira a lista de envolvidos
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